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PERSONALIDADE
Funeral do escritor teve homenagem de amigos ao som de jazz
Sabino é enterrado no Rio
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Ao som de canções de jazz, tradicionais em funerais de Nova
Orleans (EUA), o corpo do escritor e cronista Fernando Sabino foi
sepultado na manhã de ontem no
cemitério São João Baptista, em
Botafogo, zona sul do Rio.
Sabino morreu, em casa, na tarde de anteontem, vítima de câncer no fígado. Ele completaria ontem 81 anos. Companheiros do
The Ramblers Traditional Jazz
Band, grupo que tinha o escritor
como baterista, executaram "Just
a Closer Walk with Thee" e
"When the Saints Go Marchin"
in" próximos à sepultura.
"Esta foi a forma encontrada
por nós para homenageá-lo. Uma
pessoa alegre que adorava a música", disse o médico Márcio Cintra, que toca clarinete na banda.
O velório reuniu intelectuais e
escritores. Nenhum representante do alto escalão do governo federal esteve no cemitério ou mandou uma coroa de flores. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e a governadora do
Rio, Rosinha Matheus (PMDB),
não foram ao enterro, mas mandaram corbelhas.
"Ninguém do governo federal
veio aqui nos falar nada, mas não
tem problema. A nota oficial do
Palácio do Planalto divulgada pelos jornais já é uma manifestação
de carinho", disse Bernardo Sabino, um dos seis filhos do escritor.
A nota diz que "Sabino continuará vivo em seus livros e na memória do povo brasileiro". O Botafogo, clube pelo qual torcia, enviou uma coroa e uma bandeira à
família do escritor.
O poeta Thiago de Mello era um
dos mais comovidos, chorando
ao falar sobre o amigo. "Estou
muito emocionado pela mistura
de saudade e gratidão. Quando
estava no exílio, ele me visitou e
me deu um livro seu, em que, depois, encontrei um envelope com
uma boa quantidade de dinheiro,
que deu para me alimentar durante um bom período", disse.
"Ele fazia uma literatura saudável. Escrevia com prazer, para ser
lido com prazer", disse o poeta
Ferreira Gullar. O teatrólogo Marcelo Andrade, um amigo bastante
próximo, disse que Sabino fez
questão de incluir no testamento
a determinação de que nenhuma
obra inédita seja editada.
"Nos últimos anos, ele estava revendo toda a sua obra. Ele conseguiu fazer esse trabalho até o final
e deixou bem claro que não pretende ter trabalhos inéditos publicados", disse Andrade, que está
adaptando para o teatro o livro
"Cartas Perto do Coração", reunindo a correspondência trocada
entre Sabino e a escritora Clarice
Lispector (1925-1977). A peça deverá estrear em março em Belo
Horizonte.
Na lápide da sepultura ainda será colocada a frase que o escritor
concebeu para ser seu epitáfio:
"Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino".
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