São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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PERSONALIDADE

Funeral do escritor teve homenagem de amigos ao som de jazz

Sabino é enterrado no Rio

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Ao som de canções de jazz, tradicionais em funerais de Nova Orleans (EUA), o corpo do escritor e cronista Fernando Sabino foi sepultado na manhã de ontem no cemitério São João Baptista, em Botafogo, zona sul do Rio.
Sabino morreu, em casa, na tarde de anteontem, vítima de câncer no fígado. Ele completaria ontem 81 anos. Companheiros do The Ramblers Traditional Jazz Band, grupo que tinha o escritor como baterista, executaram "Just a Closer Walk with Thee" e "When the Saints Go Marchin" in" próximos à sepultura.
"Esta foi a forma encontrada por nós para homenageá-lo. Uma pessoa alegre que adorava a música", disse o médico Márcio Cintra, que toca clarinete na banda.
O velório reuniu intelectuais e escritores. Nenhum representante do alto escalão do governo federal esteve no cemitério ou mandou uma coroa de flores. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), não foram ao enterro, mas mandaram corbelhas.
"Ninguém do governo federal veio aqui nos falar nada, mas não tem problema. A nota oficial do Palácio do Planalto divulgada pelos jornais já é uma manifestação de carinho", disse Bernardo Sabino, um dos seis filhos do escritor.
A nota diz que "Sabino continuará vivo em seus livros e na memória do povo brasileiro". O Botafogo, clube pelo qual torcia, enviou uma coroa e uma bandeira à família do escritor.
O poeta Thiago de Mello era um dos mais comovidos, chorando ao falar sobre o amigo. "Estou muito emocionado pela mistura de saudade e gratidão. Quando estava no exílio, ele me visitou e me deu um livro seu, em que, depois, encontrei um envelope com uma boa quantidade de dinheiro, que deu para me alimentar durante um bom período", disse.
"Ele fazia uma literatura saudável. Escrevia com prazer, para ser lido com prazer", disse o poeta Ferreira Gullar. O teatrólogo Marcelo Andrade, um amigo bastante próximo, disse que Sabino fez questão de incluir no testamento a determinação de que nenhuma obra inédita seja editada.
"Nos últimos anos, ele estava revendo toda a sua obra. Ele conseguiu fazer esse trabalho até o final e deixou bem claro que não pretende ter trabalhos inéditos publicados", disse Andrade, que está adaptando para o teatro o livro "Cartas Perto do Coração", reunindo a correspondência trocada entre Sabino e a escritora Clarice Lispector (1925-1977). A peça deverá estrear em março em Belo Horizonte.
Na lápide da sepultura ainda será colocada a frase que o escritor concebeu para ser seu epitáfio: "Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino".


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