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GASTRONOMIA
Como trabalhar com o pato
NINA HORTA
COLUNISTA DA FOLHA
Mal se acabou o Boa Mesa
temos mais farra à vista. É o
Mais Paladar 2003, nova festa gastronômica de Josimar Melo. Vai
de 20 a 23 de novembro. Sai da
frente que atrás vem gente! Está
chegando nem mais nem menos a
papisa, Master of Wines, aquela
inglesa santa que toma vinhos baratos e do alto de sua sapiência dá
o alvará e diz: é ótimo. Também
gosta do bom e do melhor, não
tem rabo preso e avisa isso em letras garrafais no seu site www.
jancisrobinson.com.
Acabou de receber uma comenda da rainha Elizabeth e apareceu
em fotos, irreverente, chapéu de
jockey ou de garoto travesso.
É a mais prolixa das escritoras, a
mais premiada das degustadoras,
a mais viajada das mulheres. Está
aqui e acolá, corre o mundo atrás
de novas preciosidades e ensina a
provar e apreciar o que há de
bom.
Já larguei minha caneca, comprei novos copos Riedel, parei de
fazer o gênero de que todo vinho é
bom ou ruim, tinto ou branco e
enfio a nariganga e a alma na taça
para descobrir acres taninos e
inesperadas doçuras, sabores de
goiaba e carambola misturados
com lanolina e pelo de urso macho. Tudo, tudo para poder enfrentar cara a cara Mrs. Jancis Robinson.
Tenho um carinho especial por
essas invenções do Josimar, que
também é colunista da Folha. Fui
uma das primeiras a dar aula no
antigo Boa Mesa e se me lembro e
quanto! Não havia ainda uma fórmula do que seria uma aula boa, e
imaginei qualquer coisa como um
desfile de modas bem avançado
em que se demonstrassem as tendências, um desfile escandaloso,
exagerado. Pesquisei todos os tipos de feijão, arrumei em altos vidros, apresentei cumbucas, pratos fundos, pratos rasos, cada um
com seu feijão. E o X da questão
era o acompanhamento. Montanhas de macarrão japonês fritinho na hora como marzipã cobrindo o caldo preto. Pedaços de
abóbora moranga al dente. Sementes de girassol. Pipoca e farinha de mandioca, é claro.
Modéstia à parte, tudo lindo e
sedutor, até que um senhor sério,
se levantou, lívido, ranzinza.
-Como é que posso fazer essas
frescuras, se não sei fazer feijão?
Irrefletidamente respondi:
-Sempre se pode pedir uma
concha à vizinha.
Ele se retirou da sala, ofendido,
resmungando, pequeno escândalo que ressoou pelos corredores, e
assim se acabou minha curta carreira de mestra.
E, hoje, quem indica as tendências, mas com graça, devoção e
empenho, é Mari Hirata -que se
desloca de onde estiver neste
mundo, Paris, Tóquio, Provence,
para vir nos mostrar o que há de
mais novo na praça da comilança.
Desta vez já desconfio a que
vem, produtoras me telefonaram.
-Onde é que encontro laranja
cravo? Daquelas bem feias? Laranja para doce? Laranja sanguínea?
Se não encontrarem, também
não tem problema. Hirata precisa
de frutas cítricas, Hirata traz na
sua mala sem fundo.
Tem mais, tem de tudo, não há
coluna que caiba. Tem até uma
aula que se chama "Como Trabalhar com o Pato". Chef Christian
Constant, restaurante Violon
DIngres. Já me inscrevi.
Entre as degustações de vinho, o
desossar do pato, o cortar em lâminas finíssimas o limão, vai haver tempo para o simpósio, a
grande mesa do banquete onde
trocaremos opiniões, idéias, vamos encontrar amigos, provar
um pouco de tudo, conhecer os
novos chefs, saudar os velhos, como o diabo gosta.
Adoro essas reuniões. É para estar lá, rente que nem pão quente.
MAIS PALADAR. Quando: de 20/11 a
23/11, das 14h às 22h. Onde: Gran Meliá
(av. das Nações Unidas, 12.559, São
Paulo). Quanto: de R$ 100 a R$ 450
(atividades). Inscrições: 0/xx/11/3812
-1985 e 0/xx/11/3031 9323.
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