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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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GASTRONOMIA

Como trabalhar com o pato

NINA HORTA
COLUNISTA DA FOLHA

Mal se acabou o Boa Mesa temos mais farra à vista. É o Mais Paladar 2003, nova festa gastronômica de Josimar Melo. Vai de 20 a 23 de novembro. Sai da frente que atrás vem gente! Está chegando nem mais nem menos a papisa, Master of Wines, aquela inglesa santa que toma vinhos baratos e do alto de sua sapiência dá o alvará e diz: é ótimo. Também gosta do bom e do melhor, não tem rabo preso e avisa isso em letras garrafais no seu site www. jancisrobinson.com.
Acabou de receber uma comenda da rainha Elizabeth e apareceu em fotos, irreverente, chapéu de jockey ou de garoto travesso.
É a mais prolixa das escritoras, a mais premiada das degustadoras, a mais viajada das mulheres. Está aqui e acolá, corre o mundo atrás de novas preciosidades e ensina a provar e apreciar o que há de bom.
Já larguei minha caneca, comprei novos copos Riedel, parei de fazer o gênero de que todo vinho é bom ou ruim, tinto ou branco e enfio a nariganga e a alma na taça para descobrir acres taninos e inesperadas doçuras, sabores de goiaba e carambola misturados com lanolina e pelo de urso macho. Tudo, tudo para poder enfrentar cara a cara Mrs. Jancis Robinson.
Tenho um carinho especial por essas invenções do Josimar, que também é colunista da Folha. Fui uma das primeiras a dar aula no antigo Boa Mesa e se me lembro e quanto! Não havia ainda uma fórmula do que seria uma aula boa, e imaginei qualquer coisa como um desfile de modas bem avançado em que se demonstrassem as tendências, um desfile escandaloso, exagerado. Pesquisei todos os tipos de feijão, arrumei em altos vidros, apresentei cumbucas, pratos fundos, pratos rasos, cada um com seu feijão. E o X da questão era o acompanhamento. Montanhas de macarrão japonês fritinho na hora como marzipã cobrindo o caldo preto. Pedaços de abóbora moranga al dente. Sementes de girassol. Pipoca e farinha de mandioca, é claro.
Modéstia à parte, tudo lindo e sedutor, até que um senhor sério, se levantou, lívido, ranzinza.
-Como é que posso fazer essas frescuras, se não sei fazer feijão?
Irrefletidamente respondi:
-Sempre se pode pedir uma concha à vizinha.
Ele se retirou da sala, ofendido, resmungando, pequeno escândalo que ressoou pelos corredores, e assim se acabou minha curta carreira de mestra.
E, hoje, quem indica as tendências, mas com graça, devoção e empenho, é Mari Hirata -que se desloca de onde estiver neste mundo, Paris, Tóquio, Provence, para vir nos mostrar o que há de mais novo na praça da comilança.
Desta vez já desconfio a que vem, produtoras me telefonaram.
-Onde é que encontro laranja cravo? Daquelas bem feias? Laranja para doce? Laranja sanguínea?
Se não encontrarem, também não tem problema. Hirata precisa de frutas cítricas, Hirata traz na sua mala sem fundo.
Tem mais, tem de tudo, não há coluna que caiba. Tem até uma aula que se chama "Como Trabalhar com o Pato". Chef Christian Constant, restaurante Violon DIngres. Já me inscrevi.
Entre as degustações de vinho, o desossar do pato, o cortar em lâminas finíssimas o limão, vai haver tempo para o simpósio, a grande mesa do banquete onde trocaremos opiniões, idéias, vamos encontrar amigos, provar um pouco de tudo, conhecer os novos chefs, saudar os velhos, como o diabo gosta.
Adoro essas reuniões. É para estar lá, rente que nem pão quente.


MAIS PALADAR. Quando: de 20/11 a 23/11, das 14h às 22h. Onde: Gran Meliá (av. das Nações Unidas, 12.559, São Paulo). Quanto: de R$ 100 a R$ 450 (atividades). Inscrições: 0/xx/11/3812 -1985 e 0/xx/11/3031 9323.


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