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LIVROS
Crítica/ "A Segunda Vez que te Conheci"
Paiva se fixa como "autor de geração"
Com narrativa veloz de "A Segunda Vez que te Conheci", Marcelo Rubens Paiva expõe relações humanas no Brasil urbano
MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA
Não há, neste país quem
não se emocione com a
história de Marcelo
Rubens Paiva. É a trajetória de
um jovem, nascido em 1959, cujo pai, deputado, desapareceu
durante a ditadura militar e a
quem um acidente deixou inválido aos 20 anos.
E, apesar de tudo isso, Marcelo, um lutador, foi em frente,
com determinação e bravura,
fazendo literatura, jornalismo,
dramaturgia. Publicou cinco
romances: "Feliz Ano Velho"
(1982, Prêmio Jabuti); "Blecaute" (1986); "Uabrari" (1990);
"Bala na Agulha" (1992) e "Não
És Tu, Brasil" (1996); ganhou
vários prêmios, foi traduzido
para o inglês, espanhol, francês,
italiano, alemão e tcheco. Dá-nos agora o romance "A Segunda Vez que te Conheci", que sai
pela editora Objetiva e o consagra como um dos bons autores
de sua geração.
O que, exatamente, significa
isso? Significa uma temática e
um estilo peculiares.
Os escritores dos anos 30, como Jorge Amado, Graciliano
Ramos, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz, falavam de um
Brasil rural, de camponeses pobres, da injustiça social -muitos deles eram politicamente
engajados, numa época em que
as idéias comunistas fascinavam os intelectuais. Nos anos
70, à causa social juntou-se a
luta pela liberdade de expressão: era o período da ditadura
militar.
Marcelo Rubens Paiva vive
num Brasil diferente, um Brasil
urbano, com uma classe média
em crescimento e já não motivada ideologicamente. Que temática ganha relevo nessa conjuntura? É a temática das relações humanas, dos afetos, das
paixões. E é exatamente disso
que Marcelo Rubens Paiva nos
fala em seu romance.
Nele encontramos o jornalista Raul, que trabalha numa importante revista, e sua mulher
Ariela, filósofa, terminando um
casamento de seis anos. Raul
substitui Ariela por Fabi, amiga
do casal, de quem se separa
também; em seguida, perde o
emprego e, de repente, vê-se
como agenciador de prostitutas, profissão para a qual as cidades brasileiras sempre oferecem mercado e que, no livro, se
traduz em cenas reveladoras e
perturbadoras.
Porque -e este é um dos
pontos altos do livro- Marcelo
está em terreno familiar: a Redação da revista, a cidade de
São Paulo, com seus contrastes
e sua violência; as descrições do
submundo da prostituição, tudo isto é oportunidade para que
ele exercite, junto com a ficção,
sua vocação jornalística.
Narrativa veloz
É uma narrativa veloz, a sua,
uma narrativa que prende o leitor, sobretudo graças à linguagem coloquial e autêntica, aos
vívidos diálogos e também ao
amargo e irônico humor, que
nunca falta, aparecendo, por
exemplo, num texto intitulado:
"A maldição do jornalista" e
que consta de vários itens, tais
como: "Sonhará com sua matéria. E não raro mudará o título
dela e algumas palavras enquanto dorme".
Isso não impede que haja
também lirismo e ternura, por
exemplo, na passagem que
mostra a reconciliação de Raul
com Ariela (e que explicará o título do romance).
"A Segunda Vez que te Conheci" mostra um escritor que
prossegue com determinação e
competência no caminho que
se traçou. Um caminho que, de
alguma forma, nos ajuda a redescobrir o Brasil.
Não é o Brasil dos anos 30
nem o Brasil dos anos 70. É um
outro Brasil, surpreendente,
perturbador. E que, por isso
mesmo, precisa de intérpretes
como Marcelo Rubens Paiva.
A SEGUNDA VEZ QUE TE
CONHECI
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 29,90 (191 págs.)
Avaliação: bom
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