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"Eu quero vender", diz Francisco Weffort
da Reportagem Local
O ministro da Cultura, Francisco
Weffort, esteve em São Paulo anteontem, para participar do coquetel de um banco que anunciava
seus investimentos em cinema.
Antes, falou à Folha. Leia os principais trechos da entrevista.
Folha - Como foi 98 para o Ministério da Cultura?
Francisco Weffort - Foi um ano
inteiramente atípico, porque envolveu eleição, Copa do Mundo e
privatizações. A Copa chamou
enorme atenção para investimentos em esportes, a eleição distraiu a
atenção do marketing cultural e a
privatização criou um buraco
grande na conjuntura. Sobretudo a
privatização das teles foi uma dificuldade. Na minha opinião, conjuntural. Já temos teles que estão
voltando ao patrocínio cultural.
Por exemplo, Pernambuco voltou.
Folha - O sr. já fez algum contato
com a Telefônica?
Weffort - Pré-privatização. O
presidente da República fez um
apelo para as empresas manterem
os programas culturais já admitidos pela administração Sérgio
Motta (ministro das Comunicações, morto em abril de 98). Não tivemos ainda uma resposta suficiente, que eu, contudo, acredito
que vá acontecer. A minha expectativa é que em 99 a gente restabeleça as condições de 97. Pelo menos no item privatização.
Folha - Já existe uma estimativa
dos resultados de 98?
Weffort - Os dados finais só vão
ser completados por volta de fevereiro ou março. Em 97, nós ultrapassamos em R$ 15 milhões o teto
da renúncia fiscal, que era de R$
120 milhões. Em 98, até o momento, nós estamos chegando a R$ 105
milhões, para um teto de renúncia
de R$ 160 milhões. Menos que o teto da renúncia e menos que 97. Eu
suspeito que a privatização foi o
ponto mais forte para essa queda.
Folha - Como vocês pretendem
retomar os resultados de 97?
Weffort - Eu preciso ter esses dados finalizados para tomar iniciativas. Mas a idéia é voltar a conversar com as empresas. Luiz Carlos
Mendonça de Barros, que estava
no Ministério das Comunicações,
propôs uma reunião com os dirigentes das teles e com as agências
da área. Mas toda aquela complicação política em torno dele impediu essa iniciativa, que era pontual.
Folha - Com a morte de Sérgio
Motta e a saída de Mendonça de
Barros, que eram os grandes interlocutores da Cultura, como fica o
Ministério junto ao governo?
Weffort - Acho que a disposição
do Pimenta da Veiga é muito favorável em cooperar. A experiência
com o Serjão é insubstituível, irrepetível. Um pelo Serjão. E depois
porque ele tinha um bloco de empresas públicas que não existe
mais. Mas o que acho é que o padrão do novo ministério é até melhor agora. Eu noto no Pedro Malan, hoje, uma sensibilidade maior
para o tema cultural.
Folha - Em que medida?
Weffort - Eles não cortaram a
Cultura. Cortaram na proposta orçamentária para 99 uma expansão
de recursos maior do que eles
achavam que podiam sustentar.
Mas não cortaram em comparação
com 98, admitiram um aumento.
Folha - Mas continuam sem solução questões como a do corte da
alíquota para as leis de incentivo à
cultura de 5% para 4%?
Weffort - Esse é um outro ponto
sobre o qual nós vamos voltar a fazer carga. Quero propor ao pessoal
da área econômica que, mantido o
limite da alíquota, admita-se ainda
um aumento da capacidade de
captação para a área de cinema.
Hoje é 3%, estou propondo que
cheguemos à paridade entre áreas,
5% para cada.
Folha - Mas o cinema é a área que
mais absorve recursos.
Weffort - O ano de 98 nos deu
uma lição nisso. Num momento de
certa compressão da capacidade
de captação, o cinema, aparentemente, está captando menos do
que as outras áreas. Bem menos.
Com os dados de hoje, nós temos,
para o conjunto das áreas, alguma
coisa como R$ 80 milhões, e, para o
cinema, R$ 35 milhões. O que me
preocupa é que a área mais prejudicada é a que exigiria mais recursos. A maneira de evitar que o cinema cresça demais e coma da renúncia tributária das outras áreas
é fixar dois tetos de renúncia.
Folha - A falta de dados sobre o
cinema cria um descompasso entre
mercado e governo?
Weffort - Dificulta tomar medidas para implementar o crescimento do sistema de exibição. Se
eu não sei quantas salas são, tenho
poucos argumentos para pedir
uma linha de crédito subsidiada
para expansão. Da mesma maneira, preciso de uma certa transparência do mercado para combater
a pirataria dos vídeos. Um mercado transparente é regulado por lei.
Isso não significa intervenção.
Folha - E as outras áreas?
Weffort - Precisamos de dados
para desenvolver políticas de comercialização, por exemplo, da
música brasileira no exterior. Nós
queremos ter um ou dois projetos
de caráter estritamente econômico
e industrial. A distribuição de livros, por exemplo. Nós já estamos
contratando uma equipe incorporada para desenvolver esses projetos econômicos, para vender. Eu
quero vender.
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