São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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"Eu quero vender", diz Francisco Weffort

da Reportagem Local

O ministro da Cultura, Francisco Weffort, esteve em São Paulo anteontem, para participar do coquetel de um banco que anunciava seus investimentos em cinema. Antes, falou à Folha. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - Como foi 98 para o Ministério da Cultura?
Francisco Weffort -
Foi um ano inteiramente atípico, porque envolveu eleição, Copa do Mundo e privatizações. A Copa chamou enorme atenção para investimentos em esportes, a eleição distraiu a atenção do marketing cultural e a privatização criou um buraco grande na conjuntura. Sobretudo a privatização das teles foi uma dificuldade. Na minha opinião, conjuntural. Já temos teles que estão voltando ao patrocínio cultural. Por exemplo, Pernambuco voltou.
Folha - O sr. já fez algum contato com a Telefônica?
Weffort -
Pré-privatização. O presidente da República fez um apelo para as empresas manterem os programas culturais já admitidos pela administração Sérgio Motta (ministro das Comunicações, morto em abril de 98). Não tivemos ainda uma resposta suficiente, que eu, contudo, acredito que vá acontecer. A minha expectativa é que em 99 a gente restabeleça as condições de 97. Pelo menos no item privatização.
Folha - Já existe uma estimativa dos resultados de 98?
Weffort -
Os dados finais só vão ser completados por volta de fevereiro ou março. Em 97, nós ultrapassamos em R$ 15 milhões o teto da renúncia fiscal, que era de R$ 120 milhões. Em 98, até o momento, nós estamos chegando a R$ 105 milhões, para um teto de renúncia de R$ 160 milhões. Menos que o teto da renúncia e menos que 97. Eu suspeito que a privatização foi o ponto mais forte para essa queda.
Folha - Como vocês pretendem retomar os resultados de 97?
Weffort -
Eu preciso ter esses dados finalizados para tomar iniciativas. Mas a idéia é voltar a conversar com as empresas. Luiz Carlos Mendonça de Barros, que estava no Ministério das Comunicações, propôs uma reunião com os dirigentes das teles e com as agências da área. Mas toda aquela complicação política em torno dele impediu essa iniciativa, que era pontual.
Folha - Com a morte de Sérgio Motta e a saída de Mendonça de Barros, que eram os grandes interlocutores da Cultura, como fica o Ministério junto ao governo?
Weffort -
Acho que a disposição do Pimenta da Veiga é muito favorável em cooperar. A experiência com o Serjão é insubstituível, irrepetível. Um pelo Serjão. E depois porque ele tinha um bloco de empresas públicas que não existe mais. Mas o que acho é que o padrão do novo ministério é até melhor agora. Eu noto no Pedro Malan, hoje, uma sensibilidade maior para o tema cultural.
Folha - Em que medida?
Weffort -
Eles não cortaram a Cultura. Cortaram na proposta orçamentária para 99 uma expansão de recursos maior do que eles achavam que podiam sustentar. Mas não cortaram em comparação com 98, admitiram um aumento.
Folha - Mas continuam sem solução questões como a do corte da alíquota para as leis de incentivo à cultura de 5% para 4%?
Weffort -
Esse é um outro ponto sobre o qual nós vamos voltar a fazer carga. Quero propor ao pessoal da área econômica que, mantido o limite da alíquota, admita-se ainda um aumento da capacidade de captação para a área de cinema. Hoje é 3%, estou propondo que cheguemos à paridade entre áreas, 5% para cada.
Folha - Mas o cinema é a área que mais absorve recursos.
Weffort -
O ano de 98 nos deu uma lição nisso. Num momento de certa compressão da capacidade de captação, o cinema, aparentemente, está captando menos do que as outras áreas. Bem menos. Com os dados de hoje, nós temos, para o conjunto das áreas, alguma coisa como R$ 80 milhões, e, para o cinema, R$ 35 milhões. O que me preocupa é que a área mais prejudicada é a que exigiria mais recursos. A maneira de evitar que o cinema cresça demais e coma da renúncia tributária das outras áreas é fixar dois tetos de renúncia.
Folha - A falta de dados sobre o cinema cria um descompasso entre mercado e governo?
Weffort -
Dificulta tomar medidas para implementar o crescimento do sistema de exibição. Se eu não sei quantas salas são, tenho poucos argumentos para pedir uma linha de crédito subsidiada para expansão. Da mesma maneira, preciso de uma certa transparência do mercado para combater a pirataria dos vídeos. Um mercado transparente é regulado por lei. Isso não significa intervenção.
Folha - E as outras áreas?
Weffort -
Precisamos de dados para desenvolver políticas de comercialização, por exemplo, da música brasileira no exterior. Nós queremos ter um ou dois projetos de caráter estritamente econômico e industrial. A distribuição de livros, por exemplo. Nós já estamos contratando uma equipe incorporada para desenvolver esses projetos econômicos, para vender. Eu quero vender.



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