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Canal Brasil traz fase política do cineasta
free-lance para a Folha
"Esta Noite Encarnarei no Teu
Cadáver" (67), que o Canal Brasil
exibe hoje, à 0h, é o segundo filme
da mostra que o canal pago programou em janeiro com quatro
longas de José Mojica Marins rodados nos anos 60.
Continuação de "À Meia-Noite
Levarei Sua Alma" (62), o filme de
hoje compensa sua inferioridade
sobre o original com um discurso
mais voltado à transgressão, falando sobre o coveiro Zé do Caixão,
personagem supremo do diretor, à
procura da mulher perfeita para
gerar um filho não menos perfeito.
A missão se confunde com a
crueldade, tortura e morticínio,
em que ele submete mulheres aos
mais terríveis testes.
Mas o herói de capa preta e
unhas longas falha ao matar uma
grávida, que o perseguirá no filme
tentando levá-lo aos mortos.
E é aí que a essência da obra de
Mojica é denunciada: desmascarar
o arcaísmo, as crendices que não
explicam ou resolvem problemas
nacionais como fome e ignorância.
E o regime militar, ampliando o
aparelho repressor que seria legitimado no AI-5, estava ali para censurar os filmes de Mojica. A profetização do caos e dúvida nacionais
não chegava bem aos censores.
Com uma clássica sequência colorida, a técnica aplicada à narrativa de "Esta Noite..." destoava da
genialidade de "À Meia-Noite...",
mas predizia a viabilidade do discurso contestante de Mojica.
Assim como o marginal que usa
o crime para sair da criminalidade,
Zé do Caixão violentava para encontrar a serenidade da vida.
(PAULO SANTOS LIMA)
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