São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Canal Brasil traz fase política do cineasta

free-lance para a Folha

"Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (67), que o Canal Brasil exibe hoje, à 0h, é o segundo filme da mostra que o canal pago programou em janeiro com quatro longas de José Mojica Marins rodados nos anos 60.
Continuação de "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (62), o filme de hoje compensa sua inferioridade sobre o original com um discurso mais voltado à transgressão, falando sobre o coveiro Zé do Caixão, personagem supremo do diretor, à procura da mulher perfeita para gerar um filho não menos perfeito.
A missão se confunde com a crueldade, tortura e morticínio, em que ele submete mulheres aos mais terríveis testes.
Mas o herói de capa preta e unhas longas falha ao matar uma grávida, que o perseguirá no filme tentando levá-lo aos mortos.
E é aí que a essência da obra de Mojica é denunciada: desmascarar o arcaísmo, as crendices que não explicam ou resolvem problemas nacionais como fome e ignorância.
E o regime militar, ampliando o aparelho repressor que seria legitimado no AI-5, estava ali para censurar os filmes de Mojica. A profetização do caos e dúvida nacionais não chegava bem aos censores.
Com uma clássica sequência colorida, a técnica aplicada à narrativa de "Esta Noite..." destoava da genialidade de "À Meia-Noite...", mas predizia a viabilidade do discurso contestante de Mojica.
Assim como o marginal que usa o crime para sair da criminalidade, Zé do Caixão violentava para encontrar a serenidade da vida.
(PAULO SANTOS LIMA)



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