São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

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VISUAIS

Artista paulista relê imagens de cartão-postal e monta instalação sonora em exposição que é aberta hoje no CCBB

Dora Longo Bahia leva "paisagens" e rock ao Rio

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Dora Longo Bahia junto de uma obra sua exibida na mostra "Escalpo Carioca e Outras Canções"


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A primeira grande exposição da paulista Dora Longo Bahia no Rio de Janeiro tem uma imagem do Cristo Redentor, duas do Pão de Açúcar e uma do morro Dois Irmãos. Mas o olhar da artista não se assemelha ao de uma turista deslumbrada.
"Gosto de pegar imagens de cartão-postal e indicar que há algo mais profundo do que aquele paraíso. No Rio, isso é muito claro", ressalta ela, 45.
"Escalpo Carioca e Outras Canções", que Longo Bahia abre hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, oferece em sua sala principal quatro olhares diferentes sobre essas paisagens do Rio. Não há interferências explícitas nas imagens de cartão-postal, mas intervenções sutis.
A artista usa, por exemplo, o que chama de "peles de tinta". São pedaços de pinturas feitas com tinta acrílica em suportes como vidro. Depois de pintadas, as telas são retiradas em pedaços e aplicadas em outras bases.
"Descobri essa técnica por acaso, errando. Acho bom que os erros estejam dentro dos trabalhos. Têm a ver com eles", diz ela.
No caso dos "Escalpos Cariocas" -as quatro obras fazem parte de uma série e não têm títulos próprios-, as pinturas foram aplicadas sobre compensados de madeira. Eles formam uma moldura irregular, um tanto suja, envelhecida, contribuindo para indicar esse "outro Rio" que as paisagens paradisíacas escondem.
O maior "Escalpo Carioca" é uma visão do Corcovado e do Cristo Redentor com 4 m de altura e 7,20 m de comprimento. Um painel tão grande que teve de ser montado já na sala de exposição e de lá só sairá destruído, pois não passa nas portas. Os outros três, com 3 m de altura e 4 m de comprimento, tiveram de ser içados para o segundo andar do CCBB.
Na mesma sala ficam os "Escalpos Paulistas", três pinturas um pouco menores -2 m x 2 m- feitas sobre um material chamado de fibrocimento.
"É um material tóxico, que já não é usado em muitos países, mas que continua sendo usado no Brasil", conta Longo Bahia, desvelando o sentido desse suporte para imagens de prédios típicas de São Paulo.
A artista ainda pôs próximas aos "Escalpos" duas imagens fotográficas batizadas de "Na Casa do Henrique". São fotos de plantas feitas à noite, com infra-vermelho, explorando as fronteiras entre perfeição e imperfeição, realidade e arte.
"Pus as fotografias na mesma sala porque não gosto de separar mídias. Não existe uma coisa maior do que outra. Não sou pintora ou fotógrafa, mas trabalho com imagens", explica.

Música
Ela trabalha com sons também. Dora Longo Bahia é baixista da banda de rock Maradonna, que tocaria ontem, na abertura para convidados da exposição, junto do Chelpa Ferro, grupo carioca que une música e artes plásticas.
Ela montou na mostra a instalação -já exibida em São Paulo- "Canções de Amor no Templo do Rock", que consiste de uma guitarra, um baixo e uma bateria preparados para quem quiser tocá-los. Em volta dos instrumentos, há pinturas de pequeno porte feitas pela artista de seus colegas de banda e de outros grupos da cena underground paulista e 18 fones nos quais o público pode ouvir músicas selecionadas por convidados da artista.
"Eu pedi que escolhessem rocks românticos. Mas cada um escolheu as músicas que lhe falavam de amor", conta ela.

Escalpo Carioca e Outras Canções
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 21h (de hoje a 23/4)
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio, 0/xx/21/3808-2020)
Quanto: entrada franca


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