São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2001

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NET CETERA

Os contos de Coppola

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Uma das melhores revistas disponíveis na Internet chega ao seu 15º número como começou: discreta e obrigatória.
É a quadrimestral "Zoetrope -°All Story" (http://www.zoetro pestories.com/index.html), criada pelo cineasta norte-americano Francis Ford Coppola.
Em seu "manifesto" de estréia, de fevereiro de 1997, o autor de "O Poderoso Chefão" e "Apocalipse Now" fazia a elegia dos contos e dizia que estes norteariam seu site. Afirmava ele então: "Nunca conheci uma pessoa no mundo do cinema que gostasse de ler um roteiro. (...) Já ler um conto é quase sempre uma experiência agradável. E, quando não é, pelo menos acaba rápido".
A seguir, Coppola lembrava a afinidade entre as duas modalidades (roteiros e contos) e como o cinema já se valeu muito mais disso. "Psicose", "Janela Indiscreta" e "Matar ou Morrer", entre vários outros filmes, foram baseados em contos publicados.
Terminava dizendo que sua revista privilegiaria o gênero e as reflexões feitas sobre ele.
Cumpriu a promessa. O número mais recente, já no ar (e nas bancas, uma vez que a publicação tem sua contrapartida impressa), por exemplo, traz um texto excepcionalmente acessível do britânico Peter Greenaway, em que discute seu "O Livro de Cabeceira", baseado no texto da cortesã japonesa do século 11 Sei Shonagon.
Na edição anterior, da virada do ano, "Zoetrope" reúne um time de estrelas de fazer inveja ao corpo editorial da melhor época da "The New Yorker". Abre com o próprio Coppola, com a peça em um ato "Seja Criativo".
Segue com o dramaturgo Edward Albee, com o ensaio "Por Que Escrever Peças?"; o ator Willem Dafoe ("Por Que Atuar em Teatro?"); e, o melhor de todos, um inédito do escritor Don DeLillo, "The Mistery at the Middle of the Ordinary Life", entre vários outros.
Vale a pena reproduzir o começo do que diz Coppola em sua peça de dois personagens, VOCÊ, o leitor, e o EDITOR, um senhor barbado de 61 anos:

"VOCÊ: Ei! O que é isso? Eu pensei que tivesse assinado uma revista de contos. O que são estas peças de um ato?
EDITOR: E quem disse que estas peças não são contos? Que não valem como literatura?
VOCÊ: Mas peças não existem para ser vistas?
EDITOR: Sim, mas também são muito agradáveis de ler. A primeira peça que li com grande prazer foi "Um Bonde Chamado Desejo". Eu tinha 15 anos e fui atraído pela capa da edição. Foi a primeira vez que mergulhei numa história. Fiquei comovido e encantado. O texto me fez querer ser um dramaturgo e desistir de ser físico nuclear."

E é só o começo. E tem mais 14 edições. Imperdível.

E-mail : sergiodavila@uol.com.br
Site: www.uol.com.br/sergiodavila

MAIS TRÊS COISAS

1. Descontrole remoto
Se você é como eu, eis o seu site de viagem: www.amigoingdown.com ("Am I Going Down?", ou "eu vou cair?"). Você coloca sua cidade de origem, de destino, o dia da viagem e a companhia aérea e fica sabendo quais são as chances de seu avião cair, estatisticamente. Por exemplo: a empresa mais segura do mundo é a australiana Qantas. E o trecho mais perigoso, entre Jacarta e Garuda, na Indonésia.

2. Só não vale...
Você é homem ou mulher? Claro, você sabe o que é, mas e um site que adivinha baseado em 50 respostas de dupla escolha? É o www.thespark.com/gendertest. Acertou comigo. Uma delas: prefere morrer de queda ou afogado?

3. O site da semana www.rent-a-relative.com Festa de família e você sem namorado(a)? Casamento de primo e você sem tempo? Jantar da empresa e você envergonhado de sua origem humilde? Alugue um parente. Sério: existe uma empresa que aluga pessoas e acha até sósias seus, se for o caso. É o inacreditável Rent-a-Relative, por enquanto só nos EUA.


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