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MOSTRA
Décio Pignatari, Lygia Pape e Geraldo de Barros são alguns dos nomes da série de eventos "Forma: Brazil"
Seleção cultural brasileira "joga" em NY
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Geraldo de Barros, Pignatari,
Pape, Iran e Rivane; Nélida, Bessa
e Paulo Herkenhoff; Hermeto,
Sérgio e Odair Assad.
Essa é a escalação do time de artistas, escritores e músicos brasileiros que entra em campo amanhã, em uma das avenidas mais
elegantes do mundo, a Park Avenue, em Nova York.
É lá que fica a instituição Americas Society, que está promovendo
a série de eventos "Forma: Brazil".
Com custo estimado de US$ 300
mil, esse conjunto de exposições,
palestras e concertos se estende
até o final de julho.
A "seleção cultural brasileira"
tem como principais jogadores
três craques consagrados. São eles
o poeta Décio Pignatari, 73, e o artista plástico e fotógrafo Geraldo
de Barros (1923-1998), fundadores dos movimentos concretistas
na literatura e na arte, e a artista
plástica Lygia Pape, 71, uma das
mães do neoconcretismo.
"Nunca foi feita uma exposição
como essa em Nova York. É uma
mostra bem interessante para situar a criação de dois movimentos que são originais do Brasil",
diz Pape à Folha.
O curador do evento, Gabriel
Perez-Barreiro, conta que decidiu
organizar essa exposição em torno do concretismo e do neoconcretismo desses artistas por dois
motivos. "Por um lado, sempre
achei que essas duas correntes
formam um momento fundamental na arte brasileira e universal. Por outro, pensava que o que
se conhece das artes concretas
brasileiras no exterior é muito
simplificado, centrado só em
Lygia Clark e Helio Oiticica."
Diretor de artes visuais da Americas Society (AS), instituição fundada pelo banqueiro David Rockefeller em 1965 que difunde nos
EUA discussões culturais e políticas dos países dos continentes
americanos, Barreiro diz que a
idéia de fazer um evento sobre o
Brasil já vinha desde 2000, por
conta dos 500 anos.
Inicialmente, a AS pretendia receber parte da Mostra do Redescobrimento. A instituição acabou
perdendo o braço nova-iorquino
da megaexposição para o Guggenheim (a partir de setembro), mas
fez um de seus projetos mais ambiciosos.
"É a primeira vez que a programação dos nossos três departamentos está unida", conta Barreiro, falando sobre os segmentos de
música, literatura e artes plásticas.
O "pontapé inicial" vem das letras. Considerado o grande tradutor de português e espanhol, responsável pela versão americana
de "Cem Anos de Solidão", de
García Márquez, o americano
Gregory Rabassa fala sobre o romance brasileiro: de Lima Barreto
a Osman Lins. "Ele é chamado de
o "divino tradutor". É um homem
de rara erudição", diz sobre Rabassa a escritora Nélida Piñon.
Ela é a segunda atração da programação. Depois de ter dado aulas sobre Machado de Assis em lugares como Harvard e Georgetown, a ex-presidente da Academia Brasileira de Letras "introduz
o universo machadiano" em Nova York. "Vou falar sobre o imaginário brasileiro no mundo novelesco de Machado. Sobre como ele
se serve do Brasil."
Na terça-feira próxima começa
a atividade central do ciclo (a
"center piece", nas palavras do diretor de literatura do Americas
Society Daniel Shapiro), a primeira exposição consistente de trabalhos de Lygia Pape e Geraldo de
Barros nos Estados Unidos.
De Pape foram selecionadas
obras emblemáticas do neoconcretismo. São três tipos de trabalho. Os livros ("Livro da Criação"
e "Livro da Arquitetura"), as gravuras da série "Tecelares" e uma
projeção de "Balé Neoconcreto nš
1", em que bailarinos se colocavam em formas geométricas. "O
corpo deles não aparecia. Funcionavam como motor da forma."
Completam a exposição uma
série de "fotoformas" de Geraldo
de Barros, fotografias abstratas
feitas no final dos anos 40 e início
dos 50 a partir de registros de elementos urbanos e cotidianos.
"Esses trabalhos mostram o
momento da construção do movimento concretista", diz Paulo
Herkenhoff, que ajudou a selecionar os artistas e as obras.
Curador-adjunto do Museu de
Arte Moderna de Nova York
(MoMA), Herkenhoff, que vai fazer palestra no dia 21, diz que a exposição não é grande, mas deixará marcas. "A mostra traz mais índices, soluções pontuais. Mas é
muito relevante, serve como um
portal de Geraldo e Lygia Pape."
O outro vértice da mostra, o
poeta Décio Pignatari, chega a
Nova York trazendo uma pasta
com traduções recentes para o inglês de seus poemas.
"Com ele montamos um programa que analisa as relações entre a poesia concreta brasileira e a
language poetry norte-americana, que será apresentado por Sergio Bessa, artista e curador brasileiro que mora em Nova York",
explica Perez-Barreiro. Pignatari
é o "jogador" mais ansioso com a
partida. "Não piso em Nova York
há 25 anos. Quando fui a última
vez, tive muito medo."
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