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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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DISCOS/LANÇAMENTOS

Jazz maiúsculo

Divulgação
Thelonious Monk quando gravou 'Brilliant Corners'



Ying-yang do piano jazzístico, Bill Evans e Thelonious Monk puxam estrelado pacote de CDs


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não seriam poucos os ouvintes da melhor música que, ao toparem com o gênio da lâmpada do jazz, gastariam um de seus três desejos com discos como "Brilliant Corners", de Thelonious Monk, ou "Sunday at the Village Vanguard", de Bill Evans.
Faróis de Alexandria desse gênero, essas gravações puxam a fila do segundo pacote de 20 CDs do conglomerado jazzístico Fantasy que a BMG Brasil lança no país.
Profetas de caminhos bem diferentes nos brancos e pretos do piano, Monk e Evans chegaram nesses discos aos seus mais bem acabados evangelhos.
"Briliant Corners", de 1956, não é o primeiro nem o último dos grandes discos de Thelonious Sphere Monk (1917-1982), mas é a sua linguagem, talvez a mais original já criada por um músico de jazz, em carne viva.
Na capa, o pianista aparece cercado de quatro imagens suas refletidas em espelhos. São cinco Monks ao mesmo tempo, personificação de um dos aspectos mais intrigantes de sua música: a transposição para os sons do que representou o cubismo nas artes.
Se Monk aproxima-se de Picasso (como Miles Davis) é de outro paradigma da pintura moderna, Matisse, que Bill Evans se achegaria. Tal como o mestre francês, o pianista de Nova Jersey (1929-1980) deixou em sua área marcas definitivas de elegância, lirismo, sofisticação técnica. Como o pintor de "A Dança", foi Evans um revolucionário sem rupturas.
Foi em um domingo de 1961 no clube Village Vanguard, em Nova York, que tudo isso ganhou seu melhor retrato. E não é só Evans que sai bem na foto. A gravação marca o ponto mais alto da breve, mas explosiva, trajetória do baixista Scott LaFaro.
Menos de 15 dias depois da sessão nova-iorquina, um acidente de carro encerraria, aos 25 anos, uma das mais promissoras carreiras do contrabaixo jazzístico. LaFaro se despediu com um dos maiores discos "ao vivo" da história do gênero.
Na mesma lista não seria exagerado incluir outro CD lançado no pacote da BMG. "Jazz at the Massey Hall" junta no mesmo palco (atenção, senhoras e senhores): Dizzy Gillespie (trompete), Bud Powell (piano), Max Roach (bateria), Charles Mingus (baixo) e Charlie Parker (sax), creditado na capa como "Charlie Chan", por razões contratuais.
Cinco dos melhores músicos de quem o jazz tomou conhecimento, eles fazem nesse raro espetáculo em Toronto (Canadá), em 1953, uma síntese do gênero.
Improviso é palavra-chave. Tudo é improvisado nesse encontro: do sax plástico que Parker pega emprestado de última hora às divertidas intervenções vocais de Gillespie no tema "Salt Peanuts". Mas é no improviso musical, propriamente, que as letras "g", "e", "n", "i", "a" e "l" se conectam. Nem a qualidade precária (improvisada) da gravação ofusca.
Não é tudo. O pacote Fantasy, que teve seus primeiros 20 CDs lançados em dezembro -e que, promete a BMG, continuará-, tem mais um bom punhado de exemplos do jazz maiúsculo.
"The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery", algo do melhor que a guitarra já deu ao jazz, é um deles. Disco seminal, de 1960, divide a marquise da elegância com o marco cool "Chet", de Chet Baker, e com o espetacular "The Hawk Flies High", do impecável sax tenor Coleman Hawkins.
A lista de marcos continuaria. Paciência, gênio da lâmpada do jazz. Paciência.


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