São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra na galeria Vermelho traz os resultados dos trabalhos de três artistas no projeto Jamac

Exposição revela ações artísticas no Jardim Miriam

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ação artística como estratégia de mudar o cotidiano tem sido uma plataforma recorrente, desde o início do século 20. Há cerca de um ano, três artistas iniciaram um projeto no Jardim Miriam, bairro da periferia na região sul de São Paulo, visando transformar não só a vida dos moradores da comunidade como também dos próprios agentes dessa iniciativa.
O trio é formado por Mônica Nador, que desde o início dos anos 90 passou a pintar muros de casas em vez de paredes dos museus -"Achava que estava gastando tinta onde não era necessário", diz-, e os gaúchos Lúcia Koch e Fernando Limberger, egressos do movimento Arte Construtora, do início dos 90, um coletivo que buscava expandir os locais de ação do artista.
A partir de amanhã, os três apresentam os resultados do primeiro ano de trabalho na galeria Vermelho, em SP, numa exposição cujos resultados das vendas serão revertidos para o Jamac (Jardim Miriam Arte Clube).
Essa ação tem chamado a atenção não só de curadores brasileiros, como Ivo Mesquita e Aracy Amaral, que fazem parte do conselho do Jamac, como de estrangeiros, caso de Roger Bruegel, responsável pela Documenta de Kassel. Em visita a São Paulo, em dezembro de 2004, Bruegel escolheu o local como um dos poucos por onde passou. No ano passado, a experiência do Jamac foi tema do "Trópico na Pinacoteca", com um resumo no site da revista (www.uol.com.br/tropico).
"Nossos primeiros meses foram para passar a pertencer ao local, criar canais de comunicação, abrir espaços", conta Koch. Para tanto, o trio alugou uma casa no bairro e, durante os seis primeiros meses, organizou cursos com o apoio do Centro Cultural Banco do Brasil. Apesar de se tratar de uma ação coletiva, cada artista desenvolveu um projeto específico: Nador com pinturas de paredes, Koch com luz e ambiente e Limberger com jardinagem.
O que se vê na Vermelho não é apenas o registro das ações dos artistas e do grupo que hoje se reúne em torno deles mas também uma transposição dos procedimentos descobertos nesse primeiro período de atuação.
Koch, artista de outra galeria, a Casa Triângulo, construiu uma parede de elementos vazados sobrepostos, como tem feito nas paredes das casas da periferia, uma forma de melhorar a circulação de ar nas moradias que, em geral, economizam em janelas devido ao custo do material.
Limberger apresenta um viveiro de plantas, como o existente na sede do Jamac, e os materiais que desenvolveu para mantê-las, enquanto Nador pinta as paredes da galeria com os motivos criados no Jardim Miriam, com o auxílio de Daniela Gedaise Prado Vidoeiras, uma das adolescentes envolvidas no projeto, que recebe uma bolsa mensal para tanto. "É meu trabalho também, pois eu participo dele", conta Vidoeiras.
Já no primeiro andar da galeria, Marcelo Zocchio, que realizou um workshop de fotografia no Jamac, apresenta a instalação "Utilidades Domésticas". Em 12 fotografias, registros de móveis feitos a partir de madeira reciclada, Zocchio cria situações tridimensionais. Bancos de madeira e típicas luminárias de casas populares compõem a instalação, que pela apropriação de elementos do cotidiano gera forte diálogo com as propostas do Jamac.
Jamac e Utilidades Domésticas


Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 450, SP, tel. 0/xx/11/3257-2033)
Quando: abertura amanhã, 20h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 9/4
Quanto: entrada franca


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