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Iniciativa remonta a Clark, Oiticica e Beuys
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando dona Lica, uma das
moradoras do Jardim Miriam,
aceitou tomar parte das iniciativas do Jamac, teve sua casa pintada, com motivos escolhidos no local, e um canteiro com plantas
medicinais foi instalado em seu
quintal. "Ela contou que sempre
tinha dores de cabeça, pesquisei
quais plantas poderiam servir para esse problema, e o canteiro foi
feito com essas espécies", diz Fernando Limberger, um dos artistas
que atuaram na região.
Essa iniciativa se assemelha a
outra ação de uma das mais importantes artistas brasileiras no
século 20, a mineira Lygia Clark
(1920-88), que no final dos anos
70, com seus "Objetos Relacionais", criou uma forma de ação
terapêutica, não aceita como arte
por críticos mais restritos, rompendo assim com os limites da arte, algo também buscado por seu
amigo Hélio Oiticica (1937-80),
através dos "Parangolés".
Ao longo do século 20, vários foram os grupos e movimentos que
buscaram superar os limites entre
vida e arte, seja estetizando o próprio cotidiano e questionando os
padrões vigentes, como os dadaístas que se reuniam no Café
Voltaire, em Zurique, seja revendo a função utilitária da arquitetura e do design, como a Bauhaus,
escola criada na cidade alemã
Weimar, em 1919, que, sob a direção do arquiteto Walter Gropius
(1883-1969), buscava construir
produtos que fossem comerciais e
ao mesmo tempo artísticos.
Foi nos anos 60 que essas iniciativas se tornaram mais radicais,
como apontam as propostas de
Clark e Oiticica. Com o grupo Fluxus, nos EUA, que buscava a democratização da arte, e o alemão
Joseph Beuys (1921-86) para
quem "toda pessoa é um artista",
numa crítica às regras da Academia de Düsseldorf, que limitou os
alunos de Beuys, em 1971.
Em "A Revolução Somos Nós",
obra também de 1971, Beuys
apontava que o artista deveria
ocupar uma função social e, nesse
sentido, ele próprio se tornou um
dos fundadores do Partido Verde,
na Alemanha, pelo qual se candidatou ao Parlamento federal, em
1980, sem sucesso.
Em 1982, na Documenta 7, em
Kassel, Beuys realiza a ação de
plantar 7.000 carvalhos pelas ruas
da cidade, trabalho que para ele é
visto em um conceito de "arte
ampliada" que vai além de uma
atitude ecológica. Atualmente,
quem caminha por Kassel vê por
toda parte as árvores do artista.
Não por acaso, uma das ações do
Jamac, no Jardim Miriam, tem sido plantar árvores no bairro. "É
essa transformação que me interessa, muito mais do que participar de uma exposição", conta
Limberger.
(FCY)
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