São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

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Iniciativa remonta a Clark, Oiticica e Beuys

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando dona Lica, uma das moradoras do Jardim Miriam, aceitou tomar parte das iniciativas do Jamac, teve sua casa pintada, com motivos escolhidos no local, e um canteiro com plantas medicinais foi instalado em seu quintal. "Ela contou que sempre tinha dores de cabeça, pesquisei quais plantas poderiam servir para esse problema, e o canteiro foi feito com essas espécies", diz Fernando Limberger, um dos artistas que atuaram na região.
Essa iniciativa se assemelha a outra ação de uma das mais importantes artistas brasileiras no século 20, a mineira Lygia Clark (1920-88), que no final dos anos 70, com seus "Objetos Relacionais", criou uma forma de ação terapêutica, não aceita como arte por críticos mais restritos, rompendo assim com os limites da arte, algo também buscado por seu amigo Hélio Oiticica (1937-80), através dos "Parangolés".
Ao longo do século 20, vários foram os grupos e movimentos que buscaram superar os limites entre vida e arte, seja estetizando o próprio cotidiano e questionando os padrões vigentes, como os dadaístas que se reuniam no Café Voltaire, em Zurique, seja revendo a função utilitária da arquitetura e do design, como a Bauhaus, escola criada na cidade alemã Weimar, em 1919, que, sob a direção do arquiteto Walter Gropius (1883-1969), buscava construir produtos que fossem comerciais e ao mesmo tempo artísticos.
Foi nos anos 60 que essas iniciativas se tornaram mais radicais, como apontam as propostas de Clark e Oiticica. Com o grupo Fluxus, nos EUA, que buscava a democratização da arte, e o alemão Joseph Beuys (1921-86) para quem "toda pessoa é um artista", numa crítica às regras da Academia de Düsseldorf, que limitou os alunos de Beuys, em 1971.
Em "A Revolução Somos Nós", obra também de 1971, Beuys apontava que o artista deveria ocupar uma função social e, nesse sentido, ele próprio se tornou um dos fundadores do Partido Verde, na Alemanha, pelo qual se candidatou ao Parlamento federal, em 1980, sem sucesso.
Em 1982, na Documenta 7, em Kassel, Beuys realiza a ação de plantar 7.000 carvalhos pelas ruas da cidade, trabalho que para ele é visto em um conceito de "arte ampliada" que vai além de uma atitude ecológica. Atualmente, quem caminha por Kassel vê por toda parte as árvores do artista. Não por acaso, uma das ações do Jamac, no Jardim Miriam, tem sido plantar árvores no bairro. "É essa transformação que me interessa, muito mais do que participar de uma exposição", conta Limberger. (FCY)


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