São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Irmãos Chapman abrem galeria em Londres

Divulgação
Detalhe da instalação dos irmãos Dinos e Jake Chapman


MÁRCIA FORTES
especial para a Folha


Quem ainda não ouviu falar no fenômeno da "new british art", a geração de artistas ingleses que surpreendeu e conquistou o mundo da arte nestes anos 90 com uma incrível vitalidade? Até a conservadora Royal Academy of Arts em Londres já cedeu suas salas vitorianas para a exposição "Sensation", com obras da coleção de Charles Saatchi, o magnata da publicidade que investiu milhões de libras esterlinas comprando obras desses jovens artistas ingleses, como Damien Hirst, Sarah Lucas e Gary Hume.
Mas o que se passa com aqueles outros artistas ingleses que ficaram fora dessa roda da fortuna? Foi essa pergunta que inspirou Jake e Dinos Chapman -a dupla de irmãos artistas que também é um dos maiores expoentes da consagrada "new british art"- a tomarem uma inesperada iniciativa. Em resposta, eles abriram a Chapman Fine Arts, uma galeria comercial dedicada a exibir artistas menos favorecidos, novos talentos ainda não descobertos pelo sistema. "Uma nova galeria com uma vingança", segundo eles mesmo definem.
A atitude merece crédito. Depois da "Sensation" -e das suas mais que bem-sucedidas exibições no ICA (Institute of Contemporary Art) de Londres em 1996 e na top-of-the-list Gagosian Gallery de New York no ano passado-, Jake e Dinos Chapman poderiam ter relaxado na boa via de artistas de sucesso. Suas perturbadoras esculturas do gênero "sexo explícito" -manequins de crianças com cabeças unidas por vaginas, ânus no lugar de bocas e nariz em forma de pênis- são vendidas a cerca de US$ 30 mil cada.
Mas Dinos e Jake, em vez de acomodarem-se em um cenário cultural de "jovens artistas estabelecidos", decidiram "tomar o controle para levar a experiência da arte além", inventando a Chapman Fine Arts "para buscar gênios latentes germinando sob a superfície do nosso desarranjo cultural".
O local escolhido para o empreendimento foi um açougue vazio em uma ruela de East London, perto do centro cultural Whitechapel Gallery.
Sem se preocupar em fazer reformas no esquálido espaço, com azulejos descombinados cobertos de gordura e manchas de sangue, os irmãos Chapman convidaram o amigo artista David Falconer para fazer sua primeira exposição individual e inaugurar a galeria.
O vernissage aconteceu dia 22 de janeiro último, com muita cerveja e centenas de pessoas jorrando para fora da galeria e bloqueando a rua, incluindo a maciça presença dos personagens que lideram o "artworld" londrino.
A galeria agora entrou em reformas e reabre em abril, com mostra de Gavin Brown, o galerista de Nova York que também faz arte. Futuros projetos incluem mostras dos artistas Russell Haswell, Paol Noble e, como dizem Dino e Jake, outros "membros da família".



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