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ARTES PLÁSTICAS/"THE PIANO FACTORY"
Livro privilegia disciplina de Senise
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"The Piano Factory" acompanha a trajetória de Daniel Senise entre 1988 e 2002. Nesse período, o pintor carioca manteve uma disciplina de amadurecimento das próprias questões,
como testemunha a farta reprodução de imagens no livro.
Além da edição, "The Piano
Factory" nomeia uma das colagens com tiras de pano feitas entre 2000 e 2002. Senise decalcou
em tecido o chão de alguns lugares, entre os quais uma velha fábrica de piano nos EUA. A padronagem resultante deu origem à
série de composições ilusionistas
que utilizam recortes dos diversos
matizes e grafismos registrados
para representar espaços vazios.
Com reproduções fidedignas, o
livro traz dois ensaios críticos
bem escritos, de Agnaldo Farias e
de Alexandre Mello. Ambos tomam a série mais recente do pintor e refletem sobre o percurso interno da obra ao longo de 14 anos.
Para Farias, a obra de Senise
opera como combinatória de dois
elementos. Procedimentos técnicos característicos, como decalque e oxidação, estão no primeiro
capítulo do ensaio. Já o universo
de referências à história da arte,
mediado pela cultura pop, é objeto do capítulo seguinte. Assim,
"os dados da linguagem visual seguem se entrechocando, um movimento incessante, mas com cadências e ritmos variáveis, suscitando novas combinações".
Farias afirma a analogia entre
arte e linguagem e torna a obra de
Senise um enigma a ser decifrado.
A posição exige do espectador habilidade de linguista: "Hoje,
quando não há mais ingenuidade,
e a expressão artística alimenta-se
de referências intertextuais, do
entrecruzamento de citações, as
telas de Senise exigem que o espectador arme-se como um hermeneuta: que se coloque atento
diante de uma imagem qualquer,
aventando a possibilidade de decodificar o que talvez seja apenas
obscuro à primeira vista".
Como retrata espaços museológicos, a série mais recente do artista é interpretada por Farias como ironia ao mundo da arte, no
qual a obra de Senise se fecharia.
Alexandre Mello analisa o pintor pela ótica da paisagem. Inicia
o ensaio revisitando o gênero paisagístico na contemporaneidade,
que classifica em três dimensões.
Assim, a obra de Senise é tematizada conforme um discurso meditativo que afirma a existência de
uma aura na série recente, produzida como "sudário do tempo",
pois deriva do decalque sobre o
local de trabalho do artista.
The Piano Factory
Autores: Agnaldo Farias e Alexandre
Mello
Editora: Andrea Jakobsson
Quanto: R$ 110 (232 págs.)
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