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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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ARTES PLÁSTICAS/"THE PIANO FACTORY"

Livro privilegia disciplina de Senise

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"The Piano Factory" acompanha a trajetória de Daniel Senise entre 1988 e 2002. Nesse período, o pintor carioca manteve uma disciplina de amadurecimento das próprias questões, como testemunha a farta reprodução de imagens no livro.
Além da edição, "The Piano Factory" nomeia uma das colagens com tiras de pano feitas entre 2000 e 2002. Senise decalcou em tecido o chão de alguns lugares, entre os quais uma velha fábrica de piano nos EUA. A padronagem resultante deu origem à série de composições ilusionistas que utilizam recortes dos diversos matizes e grafismos registrados para representar espaços vazios.
Com reproduções fidedignas, o livro traz dois ensaios críticos bem escritos, de Agnaldo Farias e de Alexandre Mello. Ambos tomam a série mais recente do pintor e refletem sobre o percurso interno da obra ao longo de 14 anos.
Para Farias, a obra de Senise opera como combinatória de dois elementos. Procedimentos técnicos característicos, como decalque e oxidação, estão no primeiro capítulo do ensaio. Já o universo de referências à história da arte, mediado pela cultura pop, é objeto do capítulo seguinte. Assim, "os dados da linguagem visual seguem se entrechocando, um movimento incessante, mas com cadências e ritmos variáveis, suscitando novas combinações".
Farias afirma a analogia entre arte e linguagem e torna a obra de Senise um enigma a ser decifrado. A posição exige do espectador habilidade de linguista: "Hoje, quando não há mais ingenuidade, e a expressão artística alimenta-se de referências intertextuais, do entrecruzamento de citações, as telas de Senise exigem que o espectador arme-se como um hermeneuta: que se coloque atento diante de uma imagem qualquer, aventando a possibilidade de decodificar o que talvez seja apenas obscuro à primeira vista".
Como retrata espaços museológicos, a série mais recente do artista é interpretada por Farias como ironia ao mundo da arte, no qual a obra de Senise se fecharia.
Alexandre Mello analisa o pintor pela ótica da paisagem. Inicia o ensaio revisitando o gênero paisagístico na contemporaneidade, que classifica em três dimensões.
Assim, a obra de Senise é tematizada conforme um discurso meditativo que afirma a existência de uma aura na série recente, produzida como "sudário do tempo", pois deriva do decalque sobre o local de trabalho do artista.


The Piano Factory
   
Autores: Agnaldo Farias e Alexandre Mello
Editora: Andrea Jakobsson
Quanto: R$ 110 (232 págs.)



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