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Festival de Buenos Aires dialoga com o novo
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma cartela de 320 filmes a
exibir até o próximo dia 25, o Festival de Cinema Independente de
Buenos Aires (Bafici) inaugura
hoje sua sexta edição.
Entre os títulos selecionados estão obras inéditas de novos realizadores latino-americanos (o peruano Josué Méndez, 27, os argentinos Alejo Taube, 31, Diego
Fried, 28), asiáticos (a sul-coreana
Gina Kim, 30, o chinês Yu Lik
Wai, 37, o japonês Nobuhiro Yamashita, 27), além de retrospectivas de diretores consagrados, como o japonês Kiyoshi Kurosawa,
o chileno Raul Ruiz e o brasileiro
Glauber Rocha (1939-81).
"A função de um festival não é
escolher um bocado de filmes,
mas redefinir o que é importante
no cinema atual", diz o criador do
Bafici, o crítico cinematográfico
Eduardo Antín, conhecido apenas como Quintín.
O filme que abre o festival, em
sessão não-competitiva, é o argentino "Los Guantes Mágicos"
(As Luvas Mágicas), de Martín
Rejtman, 42, sobre um taxista falido que decide vender seu carro e
aplicar o dinheiro na importação
de luvas mágicas.
O segundo longa de Rejtman,
"Silvia Prieto" (1999), estreou no
1º Bafici, ano que apresentou ainda "Mundo Grua", o filme que
atraiu a atenção internacional para a carreira de Pablo Trapero ("El
Bonaerense"), então estreante.
Quintín diz que a coincidência
entre o surgimento de uma geração de realizadores argentinos e a
consolidação do Festival de Cinema Independente de Buenos Aires corresponde "não a uma relação de causa e efeito, mas à existência de dois fenômenos que se
apóiam e são úteis mutuamente".
Para o crítico, na segunda metade dos 90, a produção de cinema
na Argentina e no Brasil "começa
a dar sinais de mudança, depois
de décadas de paralisia, revelando
uma geração de diretores muito
mais jovens do que costumavam
ser os conhecidos do público".
No Brasil e na Argentina, segundo o diretor do Festival de Buenos
Aires, "existem grandes produtoras de cinema e produtoras de TV
que, de certa forma, marcam o
que é o cinema comercial". O filme independente nos dois países
seria "aquele que não tem a ver
com essas companhias nem possui uma intenção declaradamente
comercial, como um produto".
Na opinião de Quintín, a maior
parte dos cineastas argentinos cujos filmes foram vistos recentemente no Brasil "não pertence a
esse núcleo de renovação, dos que
fazem filmes não para responder
a uma evolução histórica da filmografia de seu país, mas para
romper com as tradições".
"O Filho da Noiva" (2001), de
Juan José Campanella, indicado
ao Oscar de melhor filme estrangeiro e sucesso de público tanto
aqui como lá, é, na opinião de
Quintín, "um filme reacionário,
parecido com o que se fazia na Argentina há 30 anos, que não tenta
renovar modos de produção ou
estéticas nem ao menos olhar o
país de uma forma nova".
O diretor Marcelo Piñeyro, de
"Kamchatka" e "Plata Quemada",
ambos exibidos no Brasil, "faz um
cinema convencional, ainda que
pretenda ter uma perspectiva autoral", segundo o crítico.
O único sucesso argentino recente que conta com o apreço de
Quintín é "Nove Rainhas", de Fabián Bielinsky (2000): "Um grande filme comercial, provavelmente o melhor feito na Argentina".
O "núcleo da renovação" do cinema argentino é formado, de
acordo com o diretor do Festival
de Cinema de Buenos Aires, pelos
já citados Rejtman e Trapero, em
companhia de Lucrecia Martel
("La Ciénaga") e Lisandro Alonso
("La Libertad"), "provavelmente
o mais radical de todos". De Alonso, o 6º Bafici exibirá "Los Muertos", seu segundo longa.
Além da retrospectiva dedicada
à obra de Glauber Rocha, apenas
um filme brasileiro integra a programação do Festival de Buenos
Aires neste ano -o documentário "O Prisioneiro da Grade de
Ferro", de Paulo Sacramento, que
estréia no Brasil nesta sexta.
"Tivemos pouca sorte com o cinema brasileiro neste ano. Em
2003, pudemos apresentar um
bom foco no cinema brasileiro,
com filmes que selecionamos no
Festival do Rio e no de Montréal e
em vídeo. Neste ano, o material
que vimos não nos convenceu.
Possivelmente algum filme nos
tenha escapado", afirma Quintín.
O Bafici conta com uma equipe
de cinco programadores, Quintín
entre eles. O festival é realizado
com orçamento de cerca de US$
500 mil (R$ 1,4 milhão) e tem o
apoio da Secretaria de Cultura de
Buenos Aires.
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