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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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LITERATURA

Autor de "thrillers" ganhou ontem o "Nobel" da língua portuguesa

Rubem Fonseca ganha Camões

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma cerimônia rápida, na Biblioteca Nacional do Rio, ontem pela manhã, o nome Rubem Fonseca juntou-se ao do autor de "Os Lusíadas". Um dos pioneiros do romance policial urbano nacional, o escritor mineiro-carioca ganhou o Prêmio Camões, espécie de Nobel luso-brasileiro.
Aos 78 anos, completados no domingo passado, o autor de "O Cobrador" vai receber 100 mil, cerca de R$ 330 mil, bolada que sai dos cofres governamentais do Brasil e de Portugal, que instituíram o prêmio em 1989.
Foram os membros d'além-mar do júri, e não os brasileiros, que sugeriram o nome do escritor de Juiz de Fora (MG), desde os oito anos radicado no Rio.
"Seus contos e romances contemplam um experimentalismo exemplar com recurso a múltiplos registros oralizantes de linguagem e a um olhar cinematográfico sobre o real. Expressam ainda uma constante atenção à questão social e aos conflitos do cotidiano urbano", justificou a escolha o presidente do comitê, o angolano Pepetela.
Junto ao africano, vencedor do Camões de 1997, estavam também entre os selecionadores do prêmio este ano os brasileiros Heloisa Buarque de Holanda e Zuenir Ventura, os portugueses Isabel Pires de Lima e Eduardo Prado Coelho e o moçambicano Lourenço do Rosário.
Autor de 20 livros, o último deles lançado há um mês, o romance "Diário de um Fescenino" (Companhia das Letras), Fonseca é o que os americanos chamam de um autor "tough", um durão. Foi em um laboratório exemplar que ele coletou as primeiras amostras de suas narrativas policialescas do baixo-mundo carioca.
Avesso a entrevistas, a câmeras fotográficas e afins, ele não conta muito de sua vida ("Acredita, como Joseph Brodsky, que a verdadeira biografia de um escritor está nos seus livros", informa seu site, -www.literal.com.br).
Reportagem da Folha de 1995 mostrou, no entanto, que o autor trabalhou do final de 1952 ao começo de 1958 na polícia do Rio, nove meses dos quais como tira de rua. Formado em direito, na extinta Universidade do Brasil, o autor do conto "Relato de Ocorrência em que Qualquer Semelhança Não É Mera Coincidência" tirou do universo dos BOs muitas das tramas de seus "thrillers".
Sua literatura veio a público pela primeira vez em 1963, com o volume de contos "Os Prisioneiros". O formato de relatos breves permaneceria sua forma de expressão mais frequente e elogiada.
Autor de "A Grande Arte", Fonseca é mais frequentemente qualificado pela crítica como autor médio, ainda que tenha bons defensores, como Mario Vargas Llosa, e amplo público (só seu romance "Agosto" já vendeu, mais de 160 mil exemplares).


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