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LITERATURA
Autor de "thrillers" ganhou ontem o "Nobel" da língua portuguesa
Rubem Fonseca ganha Camões
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma cerimônia rápida, na
Biblioteca Nacional do Rio, ontem pela manhã, o nome Rubem
Fonseca juntou-se ao do autor de
"Os Lusíadas". Um dos pioneiros
do romance policial urbano nacional, o escritor mineiro-carioca
ganhou o Prêmio Camões, espécie de Nobel luso-brasileiro.
Aos 78 anos, completados no
domingo passado, o autor de "O
Cobrador" vai receber 100 mil,
cerca de R$ 330 mil, bolada que
sai dos cofres governamentais do
Brasil e de Portugal, que instituíram o prêmio em 1989.
Foram os membros d'além-mar
do júri, e não os brasileiros, que
sugeriram o nome do escritor de
Juiz de Fora (MG), desde os oito
anos radicado no Rio.
"Seus contos e romances contemplam um experimentalismo
exemplar com recurso a múltiplos registros oralizantes de linguagem e a um olhar cinematográfico sobre o real. Expressam
ainda uma constante atenção à
questão social e aos conflitos do
cotidiano urbano", justificou a escolha o presidente do comitê, o
angolano Pepetela.
Junto ao africano, vencedor do
Camões de 1997, estavam também entre os selecionadores do
prêmio este ano os brasileiros Heloisa Buarque de Holanda e Zuenir Ventura, os portugueses Isabel Pires de Lima e Eduardo Prado Coelho e o moçambicano Lourenço do Rosário.
Autor de 20 livros, o último deles lançado há um mês, o romance
"Diário de um Fescenino" (Companhia das Letras), Fonseca é o
que os americanos chamam de
um autor "tough", um durão. Foi
em um laboratório exemplar que
ele coletou as primeiras amostras
de suas narrativas policialescas do
baixo-mundo carioca.
Avesso a entrevistas, a câmeras
fotográficas e afins, ele não conta
muito de sua vida ("Acredita, como Joseph Brodsky, que a verdadeira biografia de um escritor está nos seus livros", informa seu site,
-www.literal.com.br).
Reportagem da Folha de 1995
mostrou, no entanto, que o autor
trabalhou do final de 1952 ao começo de 1958 na polícia do Rio,
nove meses dos quais como tira
de rua. Formado em direito, na
extinta Universidade do Brasil, o
autor do conto "Relato de Ocorrência em que Qualquer Semelhança Não É Mera Coincidência" tirou do universo dos BOs muitas
das tramas de seus "thrillers".
Sua literatura veio a público pela primeira vez em 1963, com o
volume de contos "Os Prisioneiros". O formato de relatos breves
permaneceria sua forma de expressão mais frequente e elogiada.
Autor de "A Grande Arte", Fonseca é mais frequentemente qualificado pela crítica como autor médio, ainda que tenha bons defensores, como Mario Vargas Llosa, e
amplo público (só seu romance "Agosto" já vendeu, mais de 160 mil exemplares).
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