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12ª BIENAL INTERNACIONAL DO RIO
Francesa, autora de "Porcarias", critica o novo papa e lamenta ter lido Paulo Coelho
Marie Darrieussecq
apresenta ao Rio
seu inconformismo
MARCELO PEN
COLUNISTA DA FOLHA
Uma mulher se transforma
numa porca. É, no bicho, sim.
Essa é a situação base do romance "Porcarias", primeiro livro da
escritora francesa Marie Darrieussecq, 36, que estará amanhã ao meio-dia na Bienal do
Rio. Escrito "em estado de fúria,
em seis semanas" e lançado
quando ela tinha 27 anos, "Porcarias" é seu maior sucesso. "É
meu best-seller absoluto", diz
ela, de Paris, duas horas antes de
embarcar para o Rio.
"Porcarias", que foi traduzido
para 46 países, incluindo o Brasil
(pela Companhia das Letras),
teve uma ótima recepção, sobretudo na França, sendo comparado a Kafka, a George Orwell, a
Ionesco. Exageros francófilos à
parte, é sem dúvida um romance vibrante. Ser porco, como
descobre a protagonista, não é
algo terrivelmente desagradável
-e reside nesse conformismo e
nessa aceitação social o ataque
da autora à sociedade contemporânea, massificada, hedonista, consumista e globalizada.
Darrieussecq, que se declara
"atéia, feminista e européia",
procura não perder a veia crítica. Em relação aos ventos vaticanos, por exemplo, ataca: "O papa, não importa qual, sempre foi
um chefe de um poder retrógrado e perigoso. O atual, talvez
pior que o outro, é a última chama lançada por uma igreja moribunda e desconectada da realidade". Para ela, todas as crenças
seguem o mesmo caminho, pois
a religião "é o mais vasto dos lugares-comuns". O lugar-comum é um assunto candente.
Darrieussecq lembra que
"Truismes", título original de
"Porcarias", é literalmente
"truísmos", ou seja, "verdades
banais, clichês".
E, por falar em clichê, talvez
nada mais chavão do que o conhecimento que ela tem da literatura brasileira: Jorge Amado e
Paulo Coelho. Já leu o "mago"?
"Sim, infelizmente", lamenta.
Embora reconheça a necessidade de uma leitura ligeira, como a
de Coelho, Darrieussecq sentencia: "Não é literatura".
A escritora já escreveu mais
seis romances depois de "Porcarias", o segundo, "O Nascimento dos Fantasmas", também publicado no Brasil. Atualmente
prepara uma nova ficção sobre
os "problemas de um país sem
Estado e sem reconhecimento
internacional", como o País Basco, terra de seus ancestrais.
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