São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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12ª BIENAL INTERNACIONAL DO RIO

Francesa, autora de "Porcarias", critica o novo papa e lamenta ter lido Paulo Coelho

Marie Darrieussecq apresenta ao Rio seu inconformismo

MARCELO PEN
COLUNISTA DA FOLHA

Uma mulher se transforma numa porca. É, no bicho, sim. Essa é a situação base do romance "Porcarias", primeiro livro da escritora francesa Marie Darrieussecq, 36, que estará amanhã ao meio-dia na Bienal do Rio. Escrito "em estado de fúria, em seis semanas" e lançado quando ela tinha 27 anos, "Porcarias" é seu maior sucesso. "É meu best-seller absoluto", diz ela, de Paris, duas horas antes de embarcar para o Rio.
"Porcarias", que foi traduzido para 46 países, incluindo o Brasil (pela Companhia das Letras), teve uma ótima recepção, sobretudo na França, sendo comparado a Kafka, a George Orwell, a Ionesco. Exageros francófilos à parte, é sem dúvida um romance vibrante. Ser porco, como descobre a protagonista, não é algo terrivelmente desagradável -e reside nesse conformismo e nessa aceitação social o ataque da autora à sociedade contemporânea, massificada, hedonista, consumista e globalizada.
Darrieussecq, que se declara "atéia, feminista e européia", procura não perder a veia crítica. Em relação aos ventos vaticanos, por exemplo, ataca: "O papa, não importa qual, sempre foi um chefe de um poder retrógrado e perigoso. O atual, talvez pior que o outro, é a última chama lançada por uma igreja moribunda e desconectada da realidade". Para ela, todas as crenças seguem o mesmo caminho, pois a religião "é o mais vasto dos lugares-comuns". O lugar-comum é um assunto candente. Darrieussecq lembra que "Truismes", título original de "Porcarias", é literalmente "truísmos", ou seja, "verdades banais, clichês".
E, por falar em clichê, talvez nada mais chavão do que o conhecimento que ela tem da literatura brasileira: Jorge Amado e Paulo Coelho. Já leu o "mago"? "Sim, infelizmente", lamenta. Embora reconheça a necessidade de uma leitura ligeira, como a de Coelho, Darrieussecq sentencia: "Não é literatura".
A escritora já escreveu mais seis romances depois de "Porcarias", o segundo, "O Nascimento dos Fantasmas", também publicado no Brasil. Atualmente prepara uma nova ficção sobre os "problemas de um país sem Estado e sem reconhecimento internacional", como o País Basco, terra de seus ancestrais.


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