São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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ARTES

Música, dança, exposição e inaugurações de biblioteca e de anfiteatro marcaram festa da abolição da escravatura

Museu Afro-Brasil celebra o 13 de maio

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com uma programação de shows, performances, artes plásticas e dança, além da inauguração de uma biblioteca e de um anfiteatro, o Museu Afro-Brasil celebrou ontem o dia 13 de maio, data em que a princesa Isabel assina a Lei Áurea (1888), acabando com a escravidão legal no Brasil.
A festa teve caráter lúdico, embora o diretor do museu, o ex-secretário de Cultura do município Emanoel Araújo, tenha assumido o compromisso de fazer, por meio da instituição, uma espécie de revisão na história da cultura afro-brasileira.
Nesse contexto, a celebração da data representa uma contradição, na opinião do próprio diretor do museu. "É preciso respeitar uma visão folclórica do dia 13 de maio, mas muitos historiadores consideram controversa a questão da abolição da escravatura, no Brasil. Com a queda do Império, por causa da proclamação da República, uma oligarquia perpetua a vontade de promover um branqueamento da população brasileira", diz ele. "A história do Brasil tem várias dessas mudanças frustradas", comenta.
Para a mesma data, no ano de 2006, Emanoel Araújo pretende apresentar um projeto que discuta o significado histórico da abolição, numa abordagem que se aproxima de versões menos festivas, encampada em obras como "Sobrados e Mucambos", de Gilberto Freyre.
Hoje, o movimento pela conscientização negra no Brasil adota o dia 20 de novembro, e não o 13 de maio, como símbolo nacional da luta pela liberdade e emancipação da cultura negra. Foi nessa data, no ano de 1695, que morreu Zumbi, o chefe do Quilombo dos Palmares.
A celebração realizada ontem teve show do percussionista Naná Vasconcelos com Paulinho da Viola e a escola de samba Nenê da Vila Matilde, além da apresentação da Cia. de Dança Sociedade Masculina, com coreografia de Ivonice Satie.
Da programação, ficam em primeiro plano duas contribuições para o objetivo histórico-educacional de Araújo: a inauguração da biblioteca Carolina Maria de Jesus, já com 2.000 volumes; e a inauguração do anfiteatro Ruth de Souza (150 lugares), destinado a apresentações e seminários.
A inauguração da biblioteca presta homenagem à escritora semi-analfabeta Carolina Maria de Jesus, que, em 1960, escreveu o livro "Quarto do Despejo", relato sobre a vida na favela do Canindé (SP). E o anfiteatro relembra a história de Ruth de Souza, a primeira atriz negra a pisar no palco do Municipal do Rio de Janeiro.
Como parte da programação, o público ainda pode ver a mostra "O Tigre Dahomey, a Serpente de Whydah", uma seqüência de 43 fotografias realizada pelo artista plástico Mario Cravo Neto, realizada em sete anos de vivência num terreiro de candomblé, em Salvador.
"Para fazer essa reavaliação histórica, o museu tem que estar sempre em movimento", diz Araújo. Hoje, o Afro-Brasil, que foi implementado pela prefeitura no ano passado, é totalmente financiado pela Petrobrás. A saída de Araújo da Secretaria Municipal de Cultura não acarretou atrito entre a direção do museu e a prefeitura, segundo o diretor. O próprio prefeito José Serra pediu, em carta oficial, para que ele permanecesse na instituição.


Museu Afro-Brasil
Quando: seg. e qua. a dom., das 10h às 18h
Onde: pq. Ibirapuera, pavilhão Pe. Manoel da Nóbrega (av. Pedro Álvares Cabral, s/ nš, portão 10, parque Ibirapuera, tel. 0/xx/11/5579-6099)
Quanto: entrada franca



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