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TELEVISÃO
Apresentado ao estilista, ator conta que já desfilou e gostou
Cuoco vira Armani à base de bronze, apliques e risadas
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Francisco Cuoco nunca esteve
na Daslu, a famosa multimarcas
da marginal do rio Pinheiros,
nem mesmo para fazer o que os
atores chamam de laboratório.
"Já passei ali em frente de táxi, e
o motorista me apontou o prédio
como se fosse um ponto turístico.
Eu disse: "Ah...'", conta Cuoco, 72,
rindo com os olhos.
O ator interpreta na novela das
sete, "Cobras & Lagartos", um
empresário inspirado no estilista
italiano Giorgio Armani -que
ele tampouco tinha idéia de quem
era. "Para auxiliar na composição
do personagem, eles me passaram duas imagens: a do Marlon
Brando em "O Poderoso Chefão",
e a do Versace...", diz o ator, errando o nome de Armani.
A produção da novela acudiu
com o black-tie. "Fizeram um
contato com o [estilista] Ricardo
Almeida...Ele está super na moda,
né?", pergunta o ator, que em um
dos momentos mais marcantes
de sua carreira interpretou o personagem-título da novela "O Cafona" -um novo-rico que gastava muito dinheiro em lugares como... a Daslu.
Ex-feirante criado no Brás, formado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo e mais conhecido pelos inúmeros papéis de galã
que interpretou na TV, Francisco
Cuoco foi promovido -ele agora
é "dono da Daslu", que, na ficção,
chama-se Luxus.
A novela está indo bem, com 33
pontos de audiência nos dias de
semana (índice razoável para o
horário). Cuoco faz dois papéis:
Omar Pasquim é o
empresário rico, e
Pereira, um faxineiro que se infiltra entre os empregados para saber quem conspira contra ele.
Como boa parte
dos atores veteranos, Cuoco resolve o desafio, em
cena, rindo de si
mesmo. "O pior é
quando o bigode
[do Pereira] escorrega, e eu tenho de
falar o texto assim", mostra, com
dois dedos em cima do lábio superior (ele solta uma
risada igual a de
Omar Pasquim,
ao mesmo tempo
débil e cômica, seguida de um cacoete cênico que
consiste em abrir a boca rapidamente, puxar o ar e fechá-la).
Pasquim e Pereira obrigam o
ator a se submeter a uma austera
rotina de troca-troca de lentes de
contato, apliques e, prova suprema para sua paciência, de bronzeamento artificial.
"Um dia me queimei de verdade, coisa séria, e desde então eles
passaram a me maquiar", conta.
A experiência de Francisco Cuoco
em moda se resume a uma participação num desfile da grife Cavalera, em que vestiu uma camiseta
com a inscrição
"O Astro" (novela
de sucesso dos
anos 70). Diz que
gostou. "Foi muito interessante.
Aquela mulherada trocando de
roupa junto da
gente... Gostei,
viu?", conta ele,
que foi casado por
mais de 20 anos e
tem três filhos.
Com 1,79 m e 93
kg, ele hoje está
com o peso bem
acima do que tinha na época em
que era galã.
No camarim do
teatro Sesi Ginástico, no Rio, onde está em cartaz
com a peça "O Último Bolero", o
ator veste uma camisa de manga
comprida vinho para fora da calça
bege, ambas amplas e confortáveis, e um sapato que ele tira dos
pés durante a entrevista. "Sou
completamente desprovido de
vaidade. Por sorte, tenho uma
profissão que se incumbe de me
vestir; nunca preciso pensar muito em que roupa usar."
"Ele não se dá conta de que é o
sr. Francisco Cuoco", diz a atriz
Adriana Lessa, colega na peça.
Firme no papel de "boa-praça",
Francisco Cuoco não vacila nem
mesmo em caso de provocação.
Quando perguntam como foi a
briga com Carolina Ferraz, na segunda versão da novela "Pecado
Capital", Cuoco responde:
"Ai, meu Deus, de novo aquela
morfética [risos]. O [Du] Moscovis foi sacana, nem pra me avisar
que ela era tão chata [mais risos].
O problema [sério] é que essa moça não tinha um comportamento
adequado no trabalho. Eu me
perguntava até que ponto ela era
do ramo: atendia o celular na hora
da gravação; se estava com sono,
ia embora; desrespeitava todo
mundo, dos contra-regras à faxineira", lembra. Procurada, a atriz
não respondeu à reportagem até o
fechamento desta edição.
Em 50 anos de carreira, Cuoco
nunca foi de se envolver em fofocas nem de muita badalação. A
produção da peça informa que,
alguns dias antes da estréia, quando perguntaram quem eram seus
convidados VIPs, ele reagiu com
uma sonora gargalhada.
Giorgio Armani, o verdadeiro,
não acharia a menor graça.
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