São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
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TELEVISÃO
Algumas mulheres sonham com o céu

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Livres do relógio de ponto, prevalecem dois tipos de mulher. As que se encontram para um demorado almoço e as que, felicíssimas, foram convidadas para comandar um programa nas tardes da televisão. Agora, algumas até sonham com o céu (leia-se TV Globo), depois que a Ana Maria Braga alcançou tal altura. Mas a maioria está muito contente com o que já conseguiu.
No Rio, a preferida é a Leda Nagle, com o "Sem Censura". Ela comanda o seu programa (que, com a antecessora, era apenas um chá chocho) com pulso e equilíbrio.
Uma grande fila de gente até importante se forma diariamente na porta do estúdio, trazendo embaixo do braço o peixe que quer vender. Isso na TVE, a famosa Educativa do Rio, que pelo jeito é de difícil acesso em São Paulo.
Isso não acontece com "Mulheres do Brasil", que a Jussara Freire traz para as tardes da Bandeirantes. Com aquele cabelo mais negro do que a asa de qualquer graúna, Jussara Freire tem tiques de atriz que não esperou a glória para se aposentar. Ela nem desconfia da decepção que o nome de seu programa traz em sua imponência. Pensa-se logo em suas possibilidades educativas. Qual será o assunto? Maria Quitéria, Ana Nery, Anésia Pinheiro Machado ou mesmo a exausta e exaurida Chiquinha Gonzaga?
Nenhuma delas. Na verdade, uma oriental com labradores, alertando sobre a importância de escovar dente de cachorro. Os cães nem por isso fizeram questão de sorrir para as câmeras. Enquanto conversava, Jussara Freire mostrou que seu longuinho escuro de tom inexato tinha uma abertura, de onde se espichava uma botina. Ou seria borzeguim do vovô?
Com a saída dos cães, entrou uma moça lindíssima, um maquiador e mais duas senhoras maquiadas. Ficou-se sabendo que maquiagem agora é despojada. Pois sim, a Jussara Freire vai aderir a essa tendência. Não demorou muito, ela deixou entrar uma decoradora que só pensava em trazer energia e natureza para casa. Nada de conforto e elegância. Só espelhinhos e vidrinho para pendurar, cheio d'água.
Será que o Tarzã contrata os serviços dessa decoradora para energizar sua casa na árvore? Ou ela atende esotéricos desinteressados em bens materiais?
Pior que os convidados da sra. Freire, só as moças dos intervalos comerciais. Verdadeiras metralhadoras de sílabas vendendo o que não interessa. Como atração musical, dona Jussara chamou uns garotos que fazem pagode punk. Existe isso? Sabe-se lá.
O pior é que a Silvia Poppovic, que veio depois, não é mais aquela. Trocou o sexo pelas boas causas. Uma lástima.
À noite, seria exibido, em outro canal, um programa sobre os amores na realeza. Até Edward Windsor e sua duquesa, tudo foi muito elegante. Mas, com a entrada da princesa Diana, a realeza virou conversa de costureira, manicure ou apresentadora de televisão. Isto é, mulheres que falam.



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