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TELEVISÃO
Algumas mulheres sonham com o céu
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Livres do relógio de ponto, prevalecem dois tipos de mulher. As
que se encontram para um demorado almoço e as que, felicíssimas,
foram convidadas para comandar um programa nas tardes da
televisão. Agora, algumas até sonham com o céu (leia-se TV Globo), depois que a Ana Maria Braga alcançou tal altura. Mas a
maioria está muito contente com
o que já conseguiu.
No Rio, a preferida é a Leda Nagle, com o "Sem Censura". Ela comanda o seu programa (que, com
a antecessora, era apenas um chá
chocho) com pulso e equilíbrio.
Uma grande fila de gente até
importante se forma diariamente
na porta do estúdio, trazendo embaixo do braço o peixe que quer
vender. Isso na TVE, a famosa
Educativa do Rio, que pelo jeito é
de difícil acesso em São Paulo.
Isso não acontece com "Mulheres do Brasil", que a Jussara Freire traz para as tardes da Bandeirantes. Com aquele cabelo mais
negro do que a asa de qualquer
graúna, Jussara Freire tem tiques
de atriz que não esperou a glória
para se aposentar. Ela nem desconfia da decepção que o nome de
seu programa traz em sua imponência. Pensa-se logo em suas
possibilidades educativas. Qual
será o assunto? Maria Quitéria,
Ana Nery, Anésia Pinheiro Machado ou mesmo a exausta e
exaurida Chiquinha Gonzaga?
Nenhuma delas. Na verdade,
uma oriental com labradores,
alertando sobre a importância de
escovar dente de cachorro. Os cães
nem por isso fizeram questão de
sorrir para as câmeras. Enquanto
conversava, Jussara Freire mostrou que seu longuinho escuro de
tom inexato tinha uma abertura,
de onde se espichava uma botina.
Ou seria borzeguim do vovô?
Com a saída dos cães, entrou
uma moça lindíssima, um maquiador e mais duas senhoras
maquiadas. Ficou-se sabendo que
maquiagem agora é despojada.
Pois sim, a Jussara Freire vai aderir a essa tendência. Não demorou
muito, ela deixou entrar uma decoradora que só pensava em trazer energia e natureza para casa.
Nada de conforto e elegância. Só
espelhinhos e vidrinho para pendurar, cheio d'água.
Será que o Tarzã contrata os
serviços dessa decoradora para
energizar sua casa na árvore? Ou
ela atende esotéricos desinteressados em bens materiais?
Pior que os convidados da sra.
Freire, só as moças dos intervalos
comerciais. Verdadeiras metralhadoras de sílabas vendendo o
que não interessa. Como atração
musical, dona Jussara chamou
uns garotos que fazem pagode
punk. Existe isso? Sabe-se lá.
O pior é que a Silvia Poppovic,
que veio depois, não é mais aquela. Trocou o sexo pelas boas causas. Uma lástima.
À noite, seria exibido, em outro
canal, um programa sobre os
amores na realeza. Até Edward
Windsor e sua duquesa, tudo foi
muito elegante. Mas, com a entrada da princesa Diana, a realeza
virou conversa de costureira, manicure ou apresentadora de televisão. Isto é, mulheres que falam.
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