|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"A 3ª MORTE DE JOAQUIM BOLÍVAR"
Brasileiro é nostálgico em três atos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA
Diante de "A Terceira Morte de Joaquim Bolívar", o espectador é quase obrigatoriamente convocado a pensar sobre o
destino do cinema político na era
pós-URSS.
A primeira sensação que transmite o filme é de nostalgia, quando nas cenas iniciais nos transporta, em 64, para uma cidade onde pontifica o coronel Gaudêncio.
Ali se instala o barbeiro Joaquim,
bem recebido pelo coronel até o
momento em que sabemos que se
trata de um comunista.
No segundo momento, 1979, as
esperanças criadas de anistia
abrem (ou parecem abrir) perspectivas para a evolução política.
No terceiro momento, uma negociata que se anuncia na primeira
época se consolida.
A oposição entre Bolívar e Gaudêncio tem algo de histórica, no
sentido cadavérico da palavra: é
como se a esquerda lamentasse os
bons tempos em que podia ser esmagada pelo poder retrógrado
dos coronéis. Isto é, o coronelismo atrasado se tornou moderno.
Já não impõe sua lei. É a lei.
Flávio Cândido parece optar
por instalar-se na nostalgia sugerida no primeiro terço do filme e
cultivá-la. Pode-se notar isso no
prólogo, quando Bolívar encontra
um pai-de-santo que lhe prevê o
destino: terá três vidas -e portanto três mortes-, todas elas
dolorosas. Esse prólogo antecipa
o final e determina a modorra
narrativa que se instaura a seguir.
Será uma surpresa se este filme
interessar a uma platéia que, hoje,
quer é jogar ovos no primeiro poderoso que pintar pela frente.
A Terceira Morte de Joaquim
Bolívar
A Terceira Morte de Joaquim Bolívar
Produção: Brasil, 1999
Direção: Flávio Cândido
Com: Othon Bastos e Sérgio Siviero
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 3
Texto Anterior: Cinema/Estréias - "Gente da Sicília": Huillet e Straub criam "ato de resistência" Próximo Texto: "O Evangelho das Maravilhas": Um delírio barroco que revê Buñuel, Glauber e Cecil B. de Mille Índice
|