São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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"A 3ª MORTE DE JOAQUIM BOLÍVAR"
Brasileiro é nostálgico em três atos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Diante de "A Terceira Morte de Joaquim Bolívar", o espectador é quase obrigatoriamente convocado a pensar sobre o destino do cinema político na era pós-URSS.
A primeira sensação que transmite o filme é de nostalgia, quando nas cenas iniciais nos transporta, em 64, para uma cidade onde pontifica o coronel Gaudêncio. Ali se instala o barbeiro Joaquim, bem recebido pelo coronel até o momento em que sabemos que se trata de um comunista.
No segundo momento, 1979, as esperanças criadas de anistia abrem (ou parecem abrir) perspectivas para a evolução política. No terceiro momento, uma negociata que se anuncia na primeira época se consolida.
A oposição entre Bolívar e Gaudêncio tem algo de histórica, no sentido cadavérico da palavra: é como se a esquerda lamentasse os bons tempos em que podia ser esmagada pelo poder retrógrado dos coronéis. Isto é, o coronelismo atrasado se tornou moderno. Já não impõe sua lei. É a lei.
Flávio Cândido parece optar por instalar-se na nostalgia sugerida no primeiro terço do filme e cultivá-la. Pode-se notar isso no prólogo, quando Bolívar encontra um pai-de-santo que lhe prevê o destino: terá três vidas -e portanto três mortes-, todas elas dolorosas. Esse prólogo antecipa o final e determina a modorra narrativa que se instaura a seguir.
Será uma surpresa se este filme interessar a uma platéia que, hoje, quer é jogar ovos no primeiro poderoso que pintar pela frente.


A Terceira Morte de Joaquim Bolívar
A Terceira Morte de Joaquim Bolívar   Produção: Brasil, 1999 Direção: Flávio Cândido Com: Othon Bastos e Sérgio Siviero Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 3




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