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GRAMADO
Diretor fala de seu primeiro longa, que conta uma história de pistoleiros na fronteira de Brasil e Paraguai
Beto Brant leva "Matadores" ao festival
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado
"Os Matadores", que será exibido hoje, em Gramado, é um forte
candidato aos prêmios mais importantes.
Primeiro longa-metragem de Beto Brant, 33, conta uma história de
lealdade e traição entre pistoleiros
de aluguel na fronteira do Brasil
com o Paraguai.
Os matadores do título são Murilo Benício, Wolney de Assis e Chico Diaz (chamado de "Willem Dafoe latino" pelo jornal norte-americano "Variety").
Nesta entrevista concedida em
São Paulo, antes do festival, Brant
fala de "Os Matadores" e do novo
filme que está fazendo.
Folha - Por que você resolveu filmar "Os Matadores"?
Beto Brant - Porque o conto do
Marçal Aquino era uma história
que abordava o universo ético e
psicológico dos pistoleiros, narrada de uma maneira descontínua
que me interessou muito.
Sabe como o conto nasceu? Marçal era repórter policial. Um dia foi
entrevistar um pistoleiro de aluguel para uma matéria. Sentou no
bar com o cara e depois de duas
horas de conversa e uns quatro conhaques, o sujeito virou pra ele e
disse: "Gostei de você. Se você tiver uma diferença com alguém lá
em São Paulo, diz pra mim quem
é, me dá a foto, que eu resolvo isso
pra você".
Como forma de amizade, ele tinha isso a oferecer. O Marçal se interessou, e eu também, pelo universo desse tipo de sujeito.
Folha - Como você descreveria o
filme?
Brant - É uma história policial
contada de uma maneira que eu
considero estimulante para o espectador, obrigando-o a montar o
quebra-cabeça da narrativa.
É, também, um olhar sobre um
lugar latino, de fronteira, sem ter
aquela visão de que, porque é latino, tem de ser pobre, mal filmado,
com câmera na mão, luz dura. O
filme é pensado, é intencional, em
todos os detalhes.
Folha - Fale um pouco sobre os
três atores centrais.
Brant - Wolney de Assis, que
faz o pistoleiro veterano, foi meu
mestre no teatro, é extremamente
técnico, sabe tudo da profissão. É
seu primeiro trabalho no cinema.
Murilo Benício, o matador novato, é um ator intuitivo e intenso:
geralmente o primeiro "take" dele
já é perfeito.
O Chico Diaz, que faz o paraguaio, é fera, conhece muito cinema, contribuiu demais para as cenas.
Por exemplo: quando ele espera
a amante no quarto, sozinho, e fica
brincando com os pingentes do
lustre, se mirando no espelho.
Aquilo tudo é coisa que ele mesmo inventou e propôs. Ele nasceu
no México e é filho de paraguaio,
por isso seu sotaque é tão natural.
Folha - O filme começa no Rio e
depois se embrenha no Mato Grosso. É como tirar o cinema do litoral
e levar para o interior.
Brant - É verdade. O personagem que conduz essa viagem é o do
Murilo Benício, o jovem carioca,
urbano.
A idéia é que o espectador viaje
com ele nessa entrada num outro
universo, numa outra paisagem,
que é a fronteira.
Folha - E o seu novo filme, "Ação
Entre Amigos"?
Brant - Estamos filmando em
Camanducaia, sul de Minas. É a
história de quatro velhos amigos
que foram de organizações de esquerda na época da ditadura.
Um deles tenta convencer os outros a ajudá-lo a encontrar o sujeito que supostamente o torturou, e
que foi dado como morto anos antes. Ele acha que o cara está vivo,
com outra identidade, e quer acertar contas.
Como os quatro amigos, temos
quatro atores de teatro de São Paulo: José Carlos Machado, Genésio
Barros, Carlos Mecena e Cacá
Amaral. Leonardo Vilar é o suposto torturador.
Folha - Como é "Ação Entre Amigos" em comparação com "Os Matadores"?
Brant - A linguagem é semelhante: é um filme de cinco personagens principais, de ação, que
procura sublinhar o desenho psicológico dos personagens e que
tem uma narrativa descontínua.
A diferença é que agora eu trato
de um assunto de alcance mais
amplo.
Acho que vai gerar discussão sobre essa geração retratada no filme, o que ela representou, como
influenciou a sociedade, e o que
são esses caras hoje.
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