São Paulo, quinta, 14 de agosto de 1997.



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GRAMADO
Diretor fala de seu primeiro longa, que conta uma história de pistoleiros na fronteira de Brasil e Paraguai
Beto Brant leva "Matadores" ao festival

JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado

"Os Matadores", que será exibido hoje, em Gramado, é um forte candidato aos prêmios mais importantes.
Primeiro longa-metragem de Beto Brant, 33, conta uma história de lealdade e traição entre pistoleiros de aluguel na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Os matadores do título são Murilo Benício, Wolney de Assis e Chico Diaz (chamado de "Willem Dafoe latino" pelo jornal norte-americano "Variety").
Nesta entrevista concedida em São Paulo, antes do festival, Brant fala de "Os Matadores" e do novo filme que está fazendo.

Folha - Por que você resolveu filmar "Os Matadores"?
Beto Brant -
Porque o conto do Marçal Aquino era uma história que abordava o universo ético e psicológico dos pistoleiros, narrada de uma maneira descontínua que me interessou muito.
Sabe como o conto nasceu? Marçal era repórter policial. Um dia foi entrevistar um pistoleiro de aluguel para uma matéria. Sentou no bar com o cara e depois de duas horas de conversa e uns quatro conhaques, o sujeito virou pra ele e disse: "Gostei de você. Se você tiver uma diferença com alguém lá em São Paulo, diz pra mim quem é, me dá a foto, que eu resolvo isso pra você".
Como forma de amizade, ele tinha isso a oferecer. O Marçal se interessou, e eu também, pelo universo desse tipo de sujeito.
Folha - Como você descreveria o filme?
Brant -
É uma história policial contada de uma maneira que eu considero estimulante para o espectador, obrigando-o a montar o quebra-cabeça da narrativa.
É, também, um olhar sobre um lugar latino, de fronteira, sem ter aquela visão de que, porque é latino, tem de ser pobre, mal filmado, com câmera na mão, luz dura. O filme é pensado, é intencional, em todos os detalhes.
Folha - Fale um pouco sobre os três atores centrais.
Brant -
Wolney de Assis, que faz o pistoleiro veterano, foi meu mestre no teatro, é extremamente técnico, sabe tudo da profissão. É seu primeiro trabalho no cinema. Murilo Benício, o matador novato, é um ator intuitivo e intenso: geralmente o primeiro "take" dele já é perfeito.
O Chico Diaz, que faz o paraguaio, é fera, conhece muito cinema, contribuiu demais para as cenas.
Por exemplo: quando ele espera a amante no quarto, sozinho, e fica brincando com os pingentes do lustre, se mirando no espelho.
Aquilo tudo é coisa que ele mesmo inventou e propôs. Ele nasceu no México e é filho de paraguaio, por isso seu sotaque é tão natural.
Folha - O filme começa no Rio e depois se embrenha no Mato Grosso. É como tirar o cinema do litoral e levar para o interior.
Brant -
É verdade. O personagem que conduz essa viagem é o do Murilo Benício, o jovem carioca, urbano.
A idéia é que o espectador viaje com ele nessa entrada num outro universo, numa outra paisagem, que é a fronteira.
Folha - E o seu novo filme, "Ação Entre Amigos"?
Brant -
Estamos filmando em Camanducaia, sul de Minas. É a história de quatro velhos amigos que foram de organizações de esquerda na época da ditadura.
Um deles tenta convencer os outros a ajudá-lo a encontrar o sujeito que supostamente o torturou, e que foi dado como morto anos antes. Ele acha que o cara está vivo, com outra identidade, e quer acertar contas.
Como os quatro amigos, temos quatro atores de teatro de São Paulo: José Carlos Machado, Genésio Barros, Carlos Mecena e Cacá Amaral. Leonardo Vilar é o suposto torturador.
Folha - Como é "Ação Entre Amigos" em comparação com "Os Matadores"?
Brant -
A linguagem é semelhante: é um filme de cinco personagens principais, de ação, que procura sublinhar o desenho psicológico dos personagens e que tem uma narrativa descontínua.
A diferença é que agora eu trato de um assunto de alcance mais amplo.
Acho que vai gerar discussão sobre essa geração retratada no filme, o que ela representou, como influenciou a sociedade, e o que são esses caras hoje.



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