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Crítica/"Tempos de Paz"
Contido, Daniel Filho homenageia teatro em longa calcado em diálogos
DA REPORTAGEM LOCAL
O cinema deu a Daniel
Filho público e dinheiro. Mas não necessariamente prestígio como autor.
Será que isso importa a quem
conhece sucesso do tamanho
do seu? A realização de "Tempos de Paz" indica que sim. Esse breve filme, em tom contido,
mostra que o diretor de "Se Eu
Fosse Você 2" deseja ser reconhecido como figura culta, requintada.
Se, em "Primo Basílio"
(2003), tal tentativa desaguou
em um novelão, em "Tempos
de Paz" o resultado é original. A
despeito das limitações da mise-en-scène, o filme é eficaz em
seu propósito de homenagear o
teatro. O diretor parece pouco
desenvolto no ambiente fechado de uma sala de interrogatórios, mas tampouco exibe sua
câmera. Reside aí seu acerto.
Ao transpor para a tela o premiado texto de Bosco Brasil
("Novas Diretrizes em Tempos
de Paz"), ele desviou de terrenos nos quais poderia tropeçar.
Postou-se quase como espectador de uma peça que se desenrola à sua frente. Para nossa
sorte, o texto é ótimo.
Dan Stulbach e Tony Ramos,
que fizeram juntos a peça, protagonizam um duelo de gestos e
palavras. Stulbach é o polonês
que chega ao Brasil ao término
da Segunda Guerra. Ramos é o
funcionário do governo encarregado de conceder o visto para
o estrangeiro no exato dia em
que são aguardadas "novas diretrizes para tempos de paz".
O primeiro, ator, desistiu do
teatro por imaginar que, após a
guerra, a fábula seria expulsa
do mundo. Resolveu virar agricultor. O outro é o torturador
enrijecido pelas ordens cumpridas. O texto, fabular, constrói-se a partir desse encontro.
Para reproduzi-lo, Filho apoia-se nas palavras, mais que nas
imagens. Tanto que, nos poucos momentos em que troca a
sala de interrogatório pela rua
-em cenas em que ele próprio
aparece, como um médico torturado- tudo soa fora de lugar.
É, assim, no que tem de teatral que "Tempos de Paz" funciona. No monólogo final do
polonês Clausewitz, com passagens de "A Vida É Sonho", de
Calderón de La Barca (1600-81), um balé de mãos capta o
que a arte tem de indizível. Não
deixa de ser louvável que Filho
use poder de fogo para prestar
homenagem não só ao teatro,
mas também aos imigrantes
que chegaram ao Brasil à época
da Segunda Guerra e, com seus
nomes impronunciáveis, tornaram outro o país.
(APS)
TEMPOS DE PAZ
Direção: Daniel Filho
Produção: Brasil, 2009
Com: Tony Ramos, Dan Stulbach
Onde: Cidade Jardim, Espaço Unibanco Augusta e circuito
Classificação: 12 anos
Avaliação: regular
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