São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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CINEMA - ESTRÉIAS
Improvisos verbais do clarinetista Allen brilham em "Wild Man Blues'

Divulgação
O cineasta e clarinetista Woody Allen em cena do documentário que estréia hoje


EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Quando o assunto é música, vale a pena ouvir o cineasta Woody Allen? Baseado no que mostra o documentário "Woody Allen in Concert - Wild Man Blues", de Barbara Kopple, que estréia hoje, a resposta é sim.
Mas, mais do que o jazz que sai de seu clarinete, é interessante ouvir os improvisos verbais de Allen sobre a música e os músicos.
Não que ele seja um mau clarinetista. Com estilo calcado em Sidney Bechet (1897-1959), Allen é capaz de auxiliar sua banda numa bem costurada interpretação do jazz de Nova Orleans, aquele que nasceu quando os aspectos marciais do dixieland passaram a perder espaço para o blues.
Percebe-se no fraseado de Allen o domínio da respiração, peça vital para qualquer pretendente a clarinetista. Essa técnica permite ao cineasta transitar do sussurro ao gorjeio sem desafinar. Nada genial, mas competente.
E é essa competência que faz as platéias suportarem mais de uma hora de show. O documentário mostra as pessoas chegando para as apresentações. Entram com a expectativa de encontrar um espetáculo circense. Saem com a surpresa de ter visto uma apresentação musical convincente.
Mais do que isso. Vêem um cineasta amante da música tocando com prazer. E têm prazer em vê-lo.
Eloquência
Apesar de todas as virtudes que tem com o clarinete nas mãos, o cineasta brilha mais quando larga o instrumento e mostra que é um dos maiores entendedores das questões universais que cercam a música e os músicos.
Em determinada altura do documentário, diz ele: "Quando um músico está tocando, não há nada de racional". Só quem, como Allen, toca sem recorrer a partituras pode afirmar isso com alguma autoridade e conhecimento de causa.
Ranzinza, ele mostra como é chato ser obrigado a dançar e a marcar o ritmo com o corpo só para cruzar a linha que separa o bom músico do "entertainer".
Humilde e sincero, reconhece que a maior parte do seu público sai de casa para ver o fazedor de filmes, e não um John Coltrane ou um Sidney Bechet.
Por essas e outras, na próxima vez em que você for a Nova York, tente conseguir um lugar no disputadíssimo Michael's Pub. Divirta-se com o show de Woody Allen e sua banda.
Mas, no intervalo entre uma música e outra, esforce-se para entender as idéias expressas no bem pronunciado inglês do cineasta. Há grandes chances de essa ser a melhor parte da apresentação.

Filme: Woody Allen in Concert - Wild Man Blues Produção: EUA, 1997 Direção: Barbara Kopple Com: Woody Allen, Soon-Yi Previn Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes, Espaço Unibanco de Cinema - sala 1 e Estação Lumière 1


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