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Crítica/"Kirikou - Os Animais Selvagens"
Técnica "ultrapassada" garante animação
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O desembarque regular
dos desenhos do francês Michel Ocelot e do
japonês Hazao Miyazaki funciona como uma máquina do
tempo para quem aprendeu a
gostar de cinema no século passado. Para os que cresceram na
era das produções digitais da
Pixar e dos "Shreks", um filme
como "Kirikou - Os Animais
Selvagens" pode parecer ultrapassado. Mas há nele um efeito
de tradição que nunca esgota
seu charme.
A animação de Ocelot utiliza
técnicas de desenho artesanais
que fazem toda a diferença para
a história que conta. O longa recupera os personagens de "Kirikou e a Feiticeira" (1998) e
narra as confusões de um pequeno integrante de uma tribo
africana sob o qual a malvada
Karaba lança uma maldição.
Apesar de suas diminutas dimensões, Kirikou usa sua inteligência em manobras para se
safar da perseguição e com isso
salva sua tribo dos riscos e
ameaças. Trata-se de um diálogo de forças entre o engenho
humano e a natureza.
Nesse sentido, a fábula de Kirikou é a atualização do mito,
tipo de relato das origens em
que se fundam os valores e os
significados de uma cultura por
meio das peripécias de um herói em confronto com forças divinas que o ultrapassam.
E é essa história de sabor
quase arcaico que justifica o
uso de técnicas de animação
que podem ser consideradas ultrapassadas, pois com elas o resultado lança o espectador numa viagem estética que apela
diretamente para os domínios
da imaginação.
É o contrário do tipo de animação surgida a partir de "Toy
Story" e que predomina até os
recentes "Shrek 3" e "Ratatouille", na qual objetos e personagens são moldados e representados numa escala de semelhança com nossa experiência
concreta, em que brinquedos,
peixes, carros, ogros e ratos são
sempre antropomorfizados,
agem e reagem como humanos.
Nos trabalhos de Ocelot (assim como nos de Miyazaki)
predomina a separação entre o
humano e o inumano. E é justamente nesta distância que se
abre espaço para o predomínio
da fantasia.
KIRIKOU - OS ANIMAIS
SELVAGENS
Direção: Michel Ocelot
Produção: França, 2005
Quando: em cartaz nos cines Interlagos, Villa-Lobos e circuito
Avaliação: bom
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