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VISUAIS
TELEINTERVENÇÃO
Obra de Giselle Beiguelman permite que pessoas escrevam suas mensagens em painéis eletrônicos de SP
"Poétrica" dá ao público controle da cidade
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Se você pudesse escrever qualquer coisa em três painéis eletrônicos de São Paulo, um no meio
da r. da Consolação, outro na av.
Rebouças e outro no meio da av.
Paulista, o que escreveria?"
As respostas começam a ser recebidas hoje pela ciberartista Giselle Beiguelman, 41, que conectou três grandes painéis da cidade
ao seu projeto "Poétrica"
(www.poetrica.net) e agora promete colocar nas mãos do público
o controle remoto desses "televisores de 40 m2".
A idéia é simples: você acessa o
site do projeto pelo computador
ou manda um "torpedo" de celular para os números especificados
(leia quadro abaixo), digita a sua
mensagem e, voilà, tem a sua
"obra" exibida no trânsito para
centenas de pessoas que estiverem passando pelo local.
Ao todo, serão 180 inserções
diárias por um período que vai de
hoje (das 20h às 20h30) a 8 de novembro (diariamente, das 16h às
20h30). Dez segundos de "fama" a
cada um minuto e meio.
"Gosto de provocar essa polêmica sobre quem é o artista, esse
gênio, esse iluminado que faz a
sua obra. A idéia é criar um contexto para que qualquer um ocupe o meu lugar", explica Beiguelman, cuja proposta é transformar
cada mensagem -de até no máximo 60 caracteres- enviada em
um texto escrito com fontes não-fonéticas, o que criaria um novo
significado ao texto inicial.
"Eu não trabalho com estética.
O que me interessa são os limites
entre o público e o privado, a arte
e a propaganda, a imagem e o texto. Se todo mundo começasse a
mexer em todos os painéis, a querer mexer na cidade inteira, a vida
seria muito mais legal, muito mais
anônima, mais criativa."
Possibilitadas pelo consentimento -e sob cobrança- da
Eletromídia, administradora dos
telões, as teleintervenções da artista começaram no ano passado
com os projetos "Leste o Leste?" e
"Egoscópio", que ganhou crítica
no jornal "The New York Times"
e despertou a atenção de pelo menos 15 mil pessoas do mundo todo, que conseguiram deixar seus
recados nos painéis de São Paulo.
Processo-arte
"É sempre uma adrenalina saber que você vai colocar na rua
um trabalho que, em três minutos, pode se tornar completamente diferente daquilo que você imaginou inicialmente", conta Beiguelman, que, apesar da pequena
exposição no Brasil, teve seus trabalhos apresentados em mais de
30 mostras internacionais, incluído aí o Kulturforum, de Berlim,
que em fevereiro recebe uma versão certamente modificada do
mesmo "Poétrica".
É a arte-processo dos anos 60 virando processo-arte nos 00: "Tenho as exposições marcadas, mas
as pessoas nunca têm como saber
o que vou mostrar. A única coisa
que dá para adiantar é: "Olha, vou
precisar de um DVD, uma impressora A3, três conexões de internet" e por aí vai...".
Além de estar no endereço dos
painéis, "Poétrica" poderá ser vista na Galeria Vermelho, como
parte da exposição "3 Teses e 1 Hipótese" (leia ao lado), que começa
hoje com outros três trabalhos
orientados por Beiguelman, também professora de pós-graduação
em semiótica da PUC-SP.
As inserções serão transmitidas
por meio de seis webcams instaladas nas imediações dos painéis e
estarão disponíveis ainda no website do projeto.
Quem estiver nas imediações
não vai ficar imune: "É uma mancha urbana muito grande em volta da galeria. É difícil que quem
vier aqui [na galeria] não passe,
na ida ou na volta, por um desses
painéis". E a cidade observa.
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