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São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Nicholas Serota está em evento no Ibirapuera ao lado de Ulrich Krempel, do Museu Sprengel, da Alemanha

Diretor da Tate Gallery debate o papel dos museus

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos 15 anos a Tate Gallery, de Londres, tornou-se uma instituição tão prestigiada e com um coleção do nível do Centro Pompidou, em Paris, e próxima do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Parte desse sucesso deve ser creditado a sir Nicholas Serota, responsável pelo museu nesse período, gestão marcada por uma expansão que conquistou quatro filiais na Inglaterra, sendo a mais badalada delas a Tate Modern, aberta em 2000, que, em seis meses, ultrapassou três milhões de visitantes.
Hoje, Serota está em São Paulo para falar sobre o papel dos museus no século 21, um evento paralelo à mostra "A Bigger Splash", em cartaz na Oca, que conta com o acervo da Tate, organizada pela associação BrasilConnects e o Instituto Tomie Ohtake.
Serota, 57, tornou-se um diretor respeitado -e polêmico- ao expor obras do acervo da Tate sem levar em conta escolas de arte ou ordem cronológica. Na Tate Modern, por exemplo, uma paisagem do impressionista Monet (1840-1927) está ao lado de uma peça contemporânea do inglês Richard Long. Curiosamente, a exposição brasileira segue a arte britânica em ordem cronológica.
Outra das polêmicas provocadas por Serota foi a investida contra o poder crescente dos curadores na última década. "Obras de arte são feitas mais para serem vistas do que lidas", afirmou o inglês certa vez.
"Por essa idéia eu queria chamar a atenção para a responsabilidade dos museus em criar uma experiência visual memorável. Há um risco de que a intervenção do curador possa resultar em um museu como um livro de arte, em vez de uma visão com poder", disse Serota à Folha, por e-mail.
Na palestra de hoje, o diretor deve chamar a atenção para as diferentes tarefas que os museus conquistaram neste início de século: "O museu é um centro de exposições e do estudo da arte, mas ele é responsável por outras funções na sociedade, como espaço de recreação, turismo e regeneração social e cultural".
Entretanto, a maneira como o diretor britânico encara a função do museu na sociedade é bastante diversa de outra instituição, o Museu Guggenheim, que o prefeito do Rio, Cesar Maia, ainda tenta viabilizar, apesar da decisão contrário da Justiça, que até o momento impede o início das obras. "Acredito que a cultura tem maior influência quando ela tem uma forte base local que vai em direção ao diálogo e à troca internacionais", afirma Serota. Tal postura é inversa ao modelo Guggenheim, pois a sede em Nova York é quem praticamente decide todas as exposições de suas filiais.
Além de Serota, a palestra na Oca contará com a participação de outro diretor de um museu estrangeiro: Ulrich Krempel, do Museu Sprengel, em Hanover, na Alemanha. Krempel está no Brasil graças a uma iniciativa do Instituto Goethe, que com a presença do alemão dá início a um fórum permanente denominado "Museus de Arte: Entre o Público e o Privado", com coordenação de Martin Grossman. Krempel fala ainda amanhã, no Instituto Goethe, e na quinta dá um workshop para profissionais da área museológica, produtores culturais e artistas plásticos na Pinacoteca do Estado (tel.: 0/xx/11/229-9844).


O MUSEU DO SÉCULO 21. Palestra de Nicholas Serota, diretor da Tate Gallery, de Londres. Quando: hoje, das 9h30 às 13h. Onde: auditório da Oca (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/3253-5300, r. 2251). Quanto: R$ 6.

CONSTRUÇÃO DE ACERVO COMO ATO POLÍTICO. Palestra de Ulrich Krempel, diretor do Museu Sprengel, de Hanover. Quando: amanhã, às 20h. Onde: Instituto Goethe (r. Lisboa, 974, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3088-4288). Quanto: entrada franca.

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