São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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Grafitti homenageia TV no musical "Terezinha"

DA REPORTAGEM LOCAL

Com 15 anos de estrada, o grupo Circo Grafitti teve em "Almanaque Brasil" (1993) um dos seus espetáculos mais premiados, uma ode à era do rádio. Agora, é vez de render homenagem a outro veículo de comunicação de massa, a cinqüentona televisão.
"Alô, Alô, Terezinha!", o musical que entra em cartaz hoje na sede paulistana do Centro Cultural Banco do Brasil (para convidados; a partir de amanhã para o público em geral), reúne números e esquetes cômicos, mas sem limar alguma crítica nas entrelinhas à hegemonia do meio.
O parlapatão Hugo Possolo foi convidado a dirigir o texto escrito a dez mãos: as dele e com as do dramaturgo Pedro Vicente, das atrizes Helen Helene e Rosi Campos e do diretor musical Pedro Paulo Bogossian -os três últimos fundadores do grupo Grafitti em 1989.
Conta-se a saga de Terezinha, telespectadora "de outra galáxia" que tenta contornar os obstáculos para assistir aos capítulos finais da sua novela preferida.
Para captar sinais em seu aparelho, a moça tenta, com ajuda de amigos, um teletransporte para a dimensão paralela dos tubos de raios catódicos terráqueos.
Pois Terezinha se perde nas dobras do espaço-tempo, fragmenta-se em terezinhas de vários matizes e acaba participando, com humor e poesia, de boa parte dos grandes momentos da história da televisão brasileira.

Chacrinha
Como a mesma tem falado cada vez mais de si, na base do "vale a pena ver de novo", a opção é pela paródia também. "Lembramos fatos como a chegada do homem à Lua. Na cena, um americano tenta colocar a bandeira dos Estados Unidos, mas a Lua é invadida por um monte de Chacrinhas que querem cravar ali a bandeira brasileira", diz Bogossian, 45.
É patente a referência ao comunicador pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1916-88). "Criador de uma linguagem despojada, ele foi o cara que pela primeira vez mostrou o operador de câmara. Tinha um lado anárquico, alegre, de uma brasilidade maluca", diz Possolo, 42, que procurou escapar do viés didático no projeto.
Seis atores revezam os papéis. Rosi Campos e Helen Helene, por exemplo, encarnam os índios que simbolizavam a Tupi e TV Record, respectivamente.
Eles "comentam" os esquetes e canções que passam pelo seguinte tripé: uma novela em três épocas -os ingênuos e melodramáticos anos 50, as modas e arroubos de interpretação entre as décadas de 60 e 80 e a voga atual do clipe e do merchandising-; os espetáculos de variedades, das loiras "infantis" à cara-de-pau dos políticos; e finalmente a brincadeira do exercício de estilo com o circo-teatro que está na origem da trupe do Grafitti.
Ao longo do novo espetáculo, cenário, figurinos e iluminação traduzem a graduação do preto-e-branco para o colorido, como a própria evolução do aparelho na sala, no quarto, na cozinha...

O grupo
O nome Grafitti deriva da utilização do grafite em desenhos nas paredes do cenário na primeira montagem do grupo, "Você Vai Ver o que Você Vai Ver" (1989), texto do francês Raymond Queneau (1903-76).
Desde então, o trabalho da companhia tem se caracterizado por montagens de comédias musicais inéditas, apoiadas no trabalho de pesquisa e composição de textos e canções.
"A comicidade e lirismo do grupo seguem a tradição do teatro musical brasileiro do início do século 20 e se traduz em espetáculos com a ausência da quarta parede, abertos a improvisos de momento", diz o material distribuído aos jornalistas.
As outras produções do grupo foram "As Sereias da Zona Sul" (1997), de Miguel Falabella, e "O Gato Preto" (2000).
(VS)


ALÔ, ALÔ, TEREZINHA! Texto: Pedro Vicente, Hugo Possolo, Helen Helene, Rosi Campos e Pedro Paulo Bogossian. Direção: Hugo Possolo. Direção musical: Pedro Paulo Bogossian. Cenário: J.C. Serroni. Figurinos: Paula de Paoli. Iluminação: Guilherme Bonfanti. Com: Circo Grafitti (Rubens Caribé, Moisés Inácio, Rachel Ripani, Cléo Antunes e outros). Músicos: Bogossian, Tchelo Nunes, Rodrigo Mardegan e Maurício Fernandes. Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. 0/xx/11/ 3113-3651). Quando: estréia hoje, às 20h, para convidados; temporada a partir de amanhã, de qui. a sáb., às 20h; e dom., às 19h. Quanto: R$ 15.


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