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Grafitti homenageia TV no musical "Terezinha"
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 15 anos de estrada, o grupo Circo Grafitti teve em "Almanaque Brasil" (1993) um dos seus
espetáculos mais premiados, uma
ode à era do rádio. Agora, é vez de
render homenagem a outro veículo de comunicação de massa, a
cinqüentona televisão.
"Alô, Alô, Terezinha!", o musical que entra em cartaz hoje na sede paulistana do Centro Cultural
Banco do Brasil (para convidados; a partir de amanhã para o público em geral), reúne números e
esquetes cômicos, mas sem limar
alguma crítica nas entrelinhas à
hegemonia do meio.
O parlapatão Hugo Possolo foi
convidado a dirigir o texto escrito
a dez mãos: as dele e com as do
dramaturgo Pedro Vicente, das
atrizes Helen Helene e Rosi Campos e do diretor musical Pedro
Paulo Bogossian -os três últimos fundadores do grupo Grafitti
em 1989.
Conta-se a saga de Terezinha,
telespectadora "de outra galáxia"
que tenta contornar os obstáculos
para assistir aos capítulos finais
da sua novela preferida.
Para captar sinais em seu aparelho, a moça tenta, com ajuda de
amigos, um teletransporte para a
dimensão paralela dos tubos de
raios catódicos terráqueos.
Pois Terezinha se perde nas dobras do espaço-tempo, fragmenta-se em terezinhas de vários matizes e acaba participando, com
humor e poesia, de boa parte dos
grandes momentos da história da
televisão brasileira.
Chacrinha
Como a mesma tem falado cada
vez mais de si, na base do "vale a
pena ver de novo", a opção é pela
paródia também. "Lembramos
fatos como a chegada do homem
à Lua. Na cena, um americano
tenta colocar a bandeira dos Estados Unidos, mas a Lua é invadida
por um monte de Chacrinhas que
querem cravar ali a bandeira brasileira", diz Bogossian, 45.
É patente a referência ao comunicador pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, o
Chacrinha (1916-88). "Criador de
uma linguagem despojada, ele foi
o cara que pela primeira vez mostrou o operador de câmara. Tinha
um lado anárquico, alegre, de
uma brasilidade maluca", diz
Possolo, 42, que procurou escapar
do viés didático no projeto.
Seis atores revezam os papéis.
Rosi Campos e Helen Helene, por
exemplo, encarnam os índios que
simbolizavam a Tupi e TV Record, respectivamente.
Eles "comentam" os esquetes e
canções que passam pelo seguinte
tripé: uma novela em três épocas
-os ingênuos e melodramáticos
anos 50, as modas e arroubos de
interpretação entre as décadas de
60 e 80 e a voga atual do clipe e do
merchandising-; os espetáculos
de variedades, das loiras "infantis" à cara-de-pau dos políticos; e
finalmente a brincadeira do exercício de estilo com o circo-teatro
que está na origem da trupe do
Grafitti.
Ao longo do novo espetáculo,
cenário, figurinos e iluminação
traduzem a graduação do preto-e-branco para o colorido, como a
própria evolução do aparelho na
sala, no quarto, na cozinha...
O grupo
O nome Grafitti deriva da utilização do grafite em desenhos nas
paredes do cenário na primeira
montagem do grupo, "Você Vai
Ver o que Você Vai Ver" (1989),
texto do francês Raymond Queneau (1903-76).
Desde então, o trabalho da companhia tem se caracterizado por
montagens de comédias musicais
inéditas, apoiadas no trabalho de
pesquisa e composição de textos e
canções.
"A comicidade e lirismo do grupo seguem a tradição do teatro
musical brasileiro do início do século 20 e se traduz em espetáculos
com a ausência da quarta parede,
abertos a improvisos de momento", diz o material distribuído aos
jornalistas.
As outras produções do grupo
foram "As Sereias da Zona Sul"
(1997), de Miguel Falabella, e "O
Gato Preto" (2000).
(VS)
ALÔ, ALÔ, TEREZINHA! Texto: Pedro
Vicente, Hugo Possolo, Helen Helene,
Rosi Campos e Pedro Paulo Bogossian.
Direção: Hugo Possolo. Direção musical:
Pedro Paulo Bogossian. Cenário: J.C.
Serroni. Figurinos: Paula de Paoli.
Iluminação: Guilherme Bonfanti. Com:
Circo Grafitti (Rubens Caribé, Moisés
Inácio, Rachel Ripani, Cléo Antunes e
outros). Músicos: Bogossian, Tchelo
Nunes, Rodrigo Mardegan e Maurício
Fernandes. Onde: CCBB-SP (r. Álvares
Penteado, 112, centro, tel. 0/xx/11/
3113-3651). Quando: estréia hoje, às
20h, para convidados; temporada a
partir de amanhã, de qui. a sáb., às 20h; e
dom., às 19h. Quanto: R$ 15.
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