São Paulo, terça, 14 de outubro de 1997.




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DEPOIMENTO 1

"O Lee Konitz é realmente uma lenda viva do jazz, mas, antes de falar dele, quero dizer que fiquei muito contente por ver muitos músicos lá. Músicos que estão progredindo bastante, como o Wilson Teixeira, Tomate, Itamar, Lito... Todo mundo estava lá, curtindo, vendo outros músicos. Lee Konitz é um saxofonista elegante. E eu o ouvi tocando uma música não muito chamativa, não muito imediatamente comunicativa, mas que conquistou o público. O estilo de Lee Konitz não é uma coisa fácil. Hoje em dia, estamos acostumados a ouvir alguém que chegue ao microfone e toque algo dançável, comercial. Ele é um saxofonista com muita personalidade. Todos tocaram de forma íntima e sincera, cumprindo a tarefa maravilhosamente. O que ele mostrou foi que uma melodia muito conhecida por nós, como "Atirei o Pau no Gato" ou "Garota de Ipanema", pode se transformar tanto que vira arte. Foi um lindo final de Free Jazz Festival, com muita categoria."
Depoimento de Roberto Sion, músico, compositor e professor, concedido à Folha depois do show de Lee Konitz, no Bourbon, em São Paulo, anteontem.


DEPOIMENTO 2
"O mais importante é a demonstração de um conceito moderno. A veiculação de um produto musical, hoje, não pode ter apenas uma demonstração de técnica, mas um grande preparo em termos harmônicos e domínio de instrumento.
A surpresa foi constatar que o Kenny Garrett trouxe um repertório ligeiramente diferente do que ele mostra nos discos. Ele conseguiu, no final, fazer com que as pessoas participassem.
Ele fez um caminho bem planejado: começou com músicas enquadradas no contexto coltraniano. Eles fizeram uma versão de "Giant Steps" maravilhosa, provavelmente a mais bonita que já ouvi.
Essa música, que é considerada um enorme desafio, foi tratada pela banda com naturalidade.
Eles conseguiram suingar, tocando extremamente à vontade, num andamento vertiginoso, muito rápido. Assim mesmo, eles conseguiram brincar dentro dessa música e tirar dela, que é até um pouco fria na sua concepção original, uma emoção muito grande.
Mesmo sendo mostrado o virtuosismo de Kenny Garrett durante o show, a atenção do público foi mantida o tempo todo. O que é muito difícil, pois é uma linguagem muito hermética, com frases harmonicamente complicadas e complexas em termos auditivos.
O público esteve em contato com um grande expoente do sax alto, num ambiente jazzístico dominado pelo sax tenor. Ele foi feliz.
O que não foi feliz foi a casa escolhida, porque a fumaça é insuportável, e o ambiente tem uma premissa desrespeitosa com o público e com os músicos, que é não interromper o serviço de bar durante a apresentação, ocasionando ruídos. E outros problemas, como a iluminação, que castigou o contrabaixista pelo calor..."

Depoimento de José Carlos Prandini, músico, compositor e professor, concedido à Folha depois do show de Kenny Garrett, no Bourbon, em São Paulo, anteontem.



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