São Paulo, sexta, 14 de novembro de 1997.




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MÚSICA "SUPERPOPULAR"
Especialistas dizem que música é de baixa qualidade, mas atende a um conteúdo emocional
Críticos vêem lado positivo do "brega"

e da Reportagem Local

Os críticos, como não poderia deixar de ser, não gostam da música "superpopular" que invadiu as paradas brasileiras. Mas nem sempre eles enxergam somente aspectos negativos na presença desses músicos entre os mais vendidos.
"Essa música que vende é uma música de consumo, de baixa qualidade. Ele é feita para ser consumida rapidamente. Se durar, deixa de ser de consumo. É feita para um gosto menos exigente", disse Zuza Homem de Mello.
Já Luiz Tatit não execra o avanço da música "popular", ou "brega". "O que os críticos chamam de brega atende a um conteúdo emocional e passional que temos. Esse apelo emotivo é importante." Para ele, "esse tipo de conteúdo faz falta não só no 'povo', mas também na população mais informada. A população com menos informação manifesta mais claramente que gosta desse tipo de música, o que se reflete nas vendagens".
Para Tatit, até artistas "conceituados" usam elementos bregas. Como exemplos, ele cita Lulu Santos, Chico César, e até Caetano Veloso. Para ele, os Titãs, com o disco "Acústico", estão fazendo sucesso baseado em melodia brega.
Sérgio Cabral afirma que a música popular sempre dominou as paradas. "Quando era garoto e ouvia rádio, raramente um samba era tocado. Havia só versões", conta.
"Não fico contente que seja esse o tipo de música que faz sucesso, mas também não fico triste. Acho ótimo que grupos como Raça Negra, Só Preto sem Preconceito, assumam sua negritude. Quero mais é que eles fiquem ricos", afirma.
O fato de o grupo É o Tchan ter representado o Brasil no Festival de Montreux é criticado por Zuza Homem de Mello.
"Esse é um festival decadente. A música de qualidade que tem a cara da música brasileira continua sendo a mesma. Lá fora, quem sabe quem é Zezé di Camargo, por exemplo?"
O fato de tudo girar em torno das vendagens é criticado por Homem de Mello. "Hoje em dia, os artistas são qualificados pelo número de discos que venderam. Só que o número de discos vendidos não dá certificado de qualidade. Se fosse assim, discos de artistas como João Gilberto e Zizi Possi seriam considerados ruins, e são eles que representam o Brasil no exterior."
Mas o grupo campeão de vendas com o disco "É o Tchan do Brasil" não recebe só críticas. "Acho que É o Tchan faz um espetáculo extraordinário, comparável ao que Madonna oferece. Eles criaram uma fórmula genial, mas ela decaiu porque faltou criação. Do ponto de vista musical, eles são fracos, mas o espetáculo é exuberante", disse Tatit.
"É o Tchan faz música brasileira. Não há deformação, até a malícia é tipicamente brasileira. Não é a melhor música brasileira, mas é brasileira", disse Sérgio Cabral.
O fato de a música brasileira estar dominando as paradas é apontado como fato muito positivo. "O fato de os dez primeiros serem brasileiros é ótimo. A pior música brasileira é melhor do que a melhor estrangeira", disse Cabral.
"É um fenômeno importante. A música brasileira está dominando, fato que nunca tinha acontecido antes. São essas figuras que estão dando um banho na música norte-americana, que dominou as paradas nos anos 70", disse Tatit.
(MARIANE MORISAWA e
LUIZ ANTÔNIO RYFF)


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