|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Com um som que mistura velha-guarda do rap, jazz e funk/soul dos anos 70, banda se apresenta em Santo André
Hip hop do Jurassic 5 vai além do underground
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
De som do gueto, nos anos 80, o
rap se transformou em um dos
mais lucrativos nichos da indústria pop, com estrelas como Usher
vendendo 40 milhões de cópias
no mundo todo. Sua importância
se reflete também em premiações,
como a da "Billboard", onde 50
Cent aparece nas categorias melhor artista, melhor álbum e um
dos "cem mais quentes" de 2005.
No Brasil, a mistura de rap,
samba e marketing de Marcelo
D2 o tornou o principal rapper do
país, com 470 mil cópias vendidas
de seus três últimos CDs, segundo
a gravadora Sony BMG -isso
sem contar 1 milhão de discos
vendidos em esquema independente pelos Racionais MCs.
Com tanta grana envolvida, é
natural que o espírito social do
hip hop se torne, digamos assim,
mais comercial. Nesse contexto,
artistas das antigas se lançam em
empreitadas mais populares para
lucrar o seu, enquanto outros
conseguem manter um trabalho
criativo mesmo dentro de uma
"major". Dois exemplos bastante
representativos dessas categorias
estão em São Paulo nesta semana:
o rapper Guru, que faz show hoje,
no CIE Music Hall, e o grupo Jurassic 5 (J5), que toca no Sesc Santo André.
"O hip hop mainstream está gerando mais dinheiro do que qualquer outro tipo de música nos Estados Unidos", afirma o DJ Nu-Mark, 34, responsável pela produção e pelos toca-discos nas performances do J5. "Essa cultura deu às
crianças de classes mais baixas a
chance de se tornar multimilionárias. Ouvi dizer que [o rapper]
Snoop Dogg acaba de lançar um
Snoop Dogg hot dog. É impressionante."
No enorme panorama do movimento, hoje o J5 -formado em
1993, em Los Angeles- ocupa
uma posição central. Nem desconhecido, tampouco superpop, o
grupo é um dos mais criativos de
sua geração, com um trabalho
que mistura influências da velha-guarda do rap, como Run DMC e
Cold Crush, com soul e funk dos
anos 70 e jazz.
"Acho que estamos entre os superstars e o underground", opina
Nu-Mark. "Tentamos criar uma
música que nos motive e, se nossos fãs apreciam isso, então estamos em boa situação."
Do outro lado da balança, está
Guru. Responsável pela disseminação da mistura de jazz e rap nos
anos 90, o rapper de 39 anos decidiu buscar agora a sua fatia do lucrativo bolo do rap americano.
"Espero que nosso novo álbum
nos transforme em estrelas", ironiza Nu-Mark. "Estamos em uma
major [a Universal] há sete anos.
Uma gravadora como essa é muita boa para distribuir os CDs para
um maior número de pessoas, então, a usamos para isso."
O show
Não é exagero dizer que, entre
os indies, o Jurassic 5 é um dos
grupos mais aguardados pelos
brasileiros. Em São Paulo, por
exemplo, é raro ter uma festa ou
DJ de hip hop que não toque, pelo
menos uma vez na noite, hits dos
discos "Quality Control" (2000) e
"Power in Numbers" (2002).
Uma amostra do que deve ser o
J5 ao vivo pôde ser conferida neste ano, no Tim Festival, pelas
mãos de Cut Chemist, o outro DJ
do grupo, que já tocou duas vezes
no país -ele não vem ao Brasil.
"Ele [Chemist] está envolvido
em projetos solo", explica Nu-Mark, dizendo ainda que o parceiro não deve participar do próximo álbum, com previsão de lançamento para abril de 2006. "Talvez ele volte, mas não sei ainda",
diz. Está garantida, entretanto, a
presença dos MCs Marc7, Soup,
Akil e o poderoso Chali 2na, o vocal mais marcante do quarteto.
Assim como Cut Chemist, Nu-Mark é um dos grandes nomes do
"turntablism", a habilidade de tocar os toca-discos até com os cotovelos. "Com o J5, levo alguns
brinquedos para o palco e manipulo como se fossem dois pick-ups. Tento inovar, fazer algo que
as pessoas digam "que diabos ele
está fazendo?"."
Tanto a performance de Nu-Mark -que também toca na segunda, no clube Vegas- quanto
com o J5 foram registradas no documentário "Scratch", de Doug
Pray, exibido em São Paulo em
2004. Se repetirem o que fizeram
no filme, o público pode se preparar para pular muito. O show, segundo Nu-Mark, terá músicas do
próximo CD. "Estamos excitados
com o novo álbum. Temos convidados como Scott Storch e Salaam
Remi [produtor do rapper Nas]."
Texto Anterior: Cantora retorna à dance music e lança documentário sobre turnê Próximo Texto: Música: Guru canta casamento entre jazz e rap em SP Índice
|