São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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Sundance destaca Holocausto gay

da Equipe de Articulistas


Dos 17 documentários em competição no próximo Sundance Festival (de 20 a 30 de janeiro), um parece nascer clássico: "Paragraph 175". O tema é a perseguição aos homossexuais durante o regime nazista (1933-45).
Um dos capítulos menos estudados da homofobia no século 20 chega agora às telas graças, mais uma vez, à dupla formada por Robert Epstein e Jeffrey Friedman. A eles já devíamos o delicioso "O Outro Lado de Hollywood" (95), sobre o homossexualismo na indústria do cinema, e o contundente retrato de vítimas da Aids, "Caminhos Cruzados" (88), vencedor do Oscar de documentário.
"Paragraph 175" participou do mercado do último festival de Amsterdã com o título mais poderoso de "Pink Triangle" (Triângulo Rosa). Era esse o símbolo para homossexuais nos campos de concentração nazistas, o equivalente à estrela amarela usada pelos judeus.
Num célebre ensaio de 1981, em plena ascensão do reacionarismo à Reagan nos EUA, Gore Vidal enfatizou a premência de recordar também o massacre dos "amantes de pessoas do mesmo sexo" pela fúria hitleriana. Vidal lembra um debate sobre o assunto entre o escritor Christopher Isherwood ("Adeus a Berlim") e um jovem produtor judeu cujo nome não revela.
Isherwood chama o interlocutor de "corretor de imóveis" ao vê-lo contrapor, à cifra de "600 mil homossexuais" que teriam sido mortos por Hitler, a estimativa de 6 milhões de judeus mortos pelo Holocausto. "Paragraph 175" empresta fortes imagens à cruzada de Vidal, sem ceder aos exageros de Isherwood.
O novo título refere-se à lei alemã, vigente de 1871 ao fim dos anos 60, que proibia o "ato inatural cometido por homens e com animais". Em junho de 1935, as sanções legais atingiram também às lésbicas.
Baseados nas pesquisas do historiador Klaus Muller, Epstein e Friedman falam em 100 mil presos, até 20 mil dos quais em campos de concentração. Dois terços não sobreviveram.
Meia dúzia dos ainda vivos dão tocantes depoimentos. Vários choram ao lembrar dos amores assassinados e dos estupros brutais. A denúncia do nazismo não estaria completa sem esse filme. (AL)


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