|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FILMES DE HOJE
TV PAGA
Missões impossíveis de Scorsese e Michael Mann
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pode um homem, sozinho,
dar conta de toda a humanidade? Esta é uma questão que
acompanha o Jesus de "A Última
Tentação de Cristo" (Telecine
Cult, 19h05). Mas que não acompanha o diretor Martin Scorsese,
mais convicto de que uma só pessoa não pode ajeitar isto aqui, que
o mundo é feito por vários homens e que ainda está longe, bem
longe, de ser um paraíso.
Scorsese, contudo, deixa que
seu personagem indague sobre
sua missão na Terra porque será
desta forma que ele terá convicção sobre a legitimidade de seu
mandato como Messias, que até
então lhe era algo imputado, como uma herança forçada. Esquecendo-se do berço, Cristo tomará
decisões, refletirá sobre seu alcance político, terá inclusive a chance
de assistir a como seria sua última
tentação, aquela que faria dele um
homem comum.
É uma visão quase existencial,
esta de Scorsese, porque enxerga
o homem por aquilo que ele faz,
jamais pelo que ele é. Em outras
palavras, será uma opção, quando
já pregado na cruz, que fará de
Cristo... Cristo.
Algo semelhante acontece com
o campeão Muhammad Ali de
"Ali" (Fox, 22h), de Michael
Mann. Apesar de ter nascido anônimo, Ali herdará, graças ao boxe,
sua missão num mundo em nada
diferente daquele deserto humano no qual Cristo viveu quase dois
milênios antes. Será um pepino e
tanto porque, como atleta negro,
ele terá de dar conta de toda a
questão racial nos EUA.
Mas, aqui, diferentemente do
Cristo de Martin Scorsese, que
aceita no final das contas a sua herança, Muhammad Ali chegará à
conclusão, após tantas lutas pelo
mundo que culminam no infernal
Zaire, de que sua missão é de fato
impossível. Porque o mundo é
muito maior do que ele. Porque,
de fato, um só homem não pode
dar conta de tantas coisas deste
mundo.
Texto Anterior: Televisão - Daniel Castro: Cultura fará seriado sobre Malba Tahan Próximo Texto: TV aberta: "Nunca te Vi" mostra amor entre Bancroft e Hopkins Índice
|