São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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TEATRO



Grupo formado por integrantes do movimento é uma das atrações deste ano no Festival Internacional de Londrina

MST se prepara para invadir os palcos

RONALDO SOARES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) já anunciou que vai retomar as invasões de terra pelo país a partir de abril. Em maio, porém, os sem-terra estão programando invadir um novo território, o das artes cênicas.
Um grupo de teatro formado por integrantes do movimento é uma das atrações confirmadas este ano para o Filo (Festival Internacional de Londrina).
O grupo reúne 19 sem-terra do assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas, norte do Paraná.
Eles estão sendo preparados pela atriz mineira Bya Braga, professora de artes cênicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), e vão levar ao palco do festival uma montagem baseada no cotidiano dos sem-terra.
"Vamos mostrar o nosso dia-a-dia: como a gente busca água, leite, lenha, essas coisas. Queremos mostrar o que a mídia normalmente não mostra, que são as nossas dificuldades", afirma Luiz Ubaldo, 36, um dos atores do MST.
Nas oficinas de teatro organizadas pela professora mineira, o grupo tem trabalhado com o texto "A Padaria", de Bertolt Brecht. O texto deverá ser incorporado ao espetáculo montado pelo MST.
Segundo Ubaldo, a experiência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no teatro não vai se restringir ao festival de Londrina.
O grupo, formado por pessoas de 12 a 60 anos de idade, pretende excursionar pelo país, se apresentando em outros assentamentos do MST e em eventos organizados pelo movimento.
Ubaldo afirma que o trabalho teatral será útil também para aprimorar as atividades conhecidas como "místicas" -representações feitas nos assentamentos sobre situações vividas pelo MST.
Realizadas uma vez por semana, as "místicas" relembram episódios vivenciados pelos sem-terra, como destruição de plantações de transgênicos e conflitos agrários.
"Essa é uma forma de passar notícias para o nosso povo. A maioria (dos sem-terra) não tem nem televisão", afirma Ubaldo.
O grupo de teatro do MST é a continuação de um trabalho iniciado no Filo do ano passado, quando integrantes do movimento elaboraram o roteiro, atuaram e dirigiram um vídeo sobre os sem-terra.
No mês passado, o grupo começou a participar de dinâmicas de teatro com a professora Bya Braga. Até a estréia, em maio, os sem-terra receberão orientações de outros profissionais de artes cênicas cedidos pelo Filo.
De acordo com a diretora do festival, Nitis Jacon, a apresentação do grupo deverá ocorrer em um palco a céu aberto. A programação do evento, que vai de 1º a 31 de maio, só estará definida na segunda quinzena de março.
Jacon afirma que ainda não conseguiu patrocínio para custear o festival -orçado em pouco mais de R$ 2 milhões-, mas acredita que a verba virá de parcerias que estão sendo estudadas com a iniciativa privada e o poder público.


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