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TEATRO
Grupo formado por integrantes do movimento é uma das atrações deste ano no Festival Internacional de Londrina
MST se prepara para invadir os palcos
RONALDO SOARES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) já
anunciou que vai retomar as invasões de terra pelo país a partir de
abril. Em maio, porém, os sem-terra estão programando invadir
um novo território, o das artes cênicas.
Um grupo de teatro formado
por integrantes do movimento é
uma das atrações confirmadas este ano para o Filo (Festival Internacional de Londrina).
O grupo reúne 19 sem-terra do
assentamento Dorcelina Folador,
em Arapongas, norte do Paraná.
Eles estão sendo preparados pela atriz mineira Bya Braga, professora de artes cênicas da UFMG
(Universidade Federal de Minas
Gerais), e vão levar ao palco do
festival uma montagem baseada
no cotidiano dos sem-terra.
"Vamos mostrar o nosso dia-a-dia: como a gente busca água, leite, lenha, essas coisas. Queremos
mostrar o que a mídia normalmente não mostra, que são as
nossas dificuldades", afirma Luiz
Ubaldo, 36, um dos atores do
MST.
Nas oficinas de teatro organizadas pela professora mineira, o
grupo tem trabalhado com o texto
"A Padaria", de Bertolt Brecht. O
texto deverá ser incorporado ao
espetáculo montado pelo MST.
Segundo Ubaldo, a experiência
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no teatro
não vai se restringir ao festival de
Londrina.
O grupo, formado por pessoas
de 12 a 60 anos de idade, pretende
excursionar pelo país, se apresentando em outros assentamentos
do MST e em eventos organizados pelo movimento.
Ubaldo afirma que o trabalho
teatral será útil também para aprimorar as atividades conhecidas
como "místicas" -representações feitas nos assentamentos sobre situações vividas pelo MST.
Realizadas uma vez por semana, as "místicas" relembram episódios vivenciados pelos sem-terra, como destruição de plantações
de transgênicos e conflitos agrários.
"Essa é uma forma de passar
notícias para o nosso povo. A
maioria (dos sem-terra) não tem
nem televisão", afirma Ubaldo.
O grupo de teatro do MST é a
continuação de um trabalho iniciado no Filo do ano passado,
quando integrantes do movimento elaboraram o roteiro, atuaram
e dirigiram um vídeo sobre os
sem-terra.
No mês passado, o grupo começou a participar de dinâmicas de
teatro com a professora Bya Braga. Até a estréia, em maio, os sem-terra receberão orientações de
outros profissionais de artes cênicas cedidos pelo Filo.
De acordo com a diretora do
festival, Nitis Jacon, a apresentação do grupo deverá ocorrer em
um palco a céu aberto. A programação do evento, que vai de 1º a
31 de maio, só estará definida na
segunda quinzena de março.
Jacon afirma que ainda não
conseguiu patrocínio para custear
o festival -orçado em pouco
mais de R$ 2 milhões-, mas
acredita que a verba virá de parcerias que estão sendo estudadas
com a iniciativa privada e o poder
público.
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