São Paulo, sexta-feira, 15 de março de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"DIA DE TREINAMENTO"

Ator interpreta um policial veterano e corrupto do departamento de narcóticos de Los Angeles

Washington encarna vilão em novo filme

Divulgação
Denzel Washington (indicado ao Oscar de melhor ator) e Ethan Hawke (que concorre a coadjuvante) em "Dia de Treinamento"


PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

O desafio de ter ido contra a sua imagem de "íntegro", não desapontou ninguém. Pelo contrário. Conhecido pela interpretação de tipos heróicos como o líder negro Malcolm X e o advogado de "Filadélfia", agora Denzel Washington vive um personagem de caráter abominável.
Em "Dia de Treinamento", o ator encarna um policial de Los Angeles pertencente a divisão de narcóticos, envolvido em corrupção. O papel valeu sua quarta indicação para o Oscar. Washington já venceu uma estatueta de melhor ator coadjuvante, por "Tempo de Glória", mas nunca a de intérprete principal. O prêmio não vai para um ator negro desde que Sidney Poitier venceu em 1964, por "Uma Vez nas Sombras". Outro interpréte negro, Will Smith, que recebe sua primeira indicação por "Ali", acompanha Washington na disputa pelo prêmio de melhor ator neste ano.
Essa discrepância histórica da Academia de Hollywood foi mais uma vez denunciada por inúmeros artigos na imprensa americana. Numa recente entrevista à revista "Newsweek", Julia Roberts, que anunciará o vencedor do Oscar de melhor ator nesta cerimônia, disse que espera abrir o envelope e ver o nome do amigo Washington escrito. Alheio à conversa de prêmios, o ator falou à Folha, em Toronto, no Canadá.

Folha - Muitos atores ao interpretarem um personagem abominável dizem que puxam lá de dentro toda a raiva acumulada. Como é com você?
Denzel Washington -
Sei disso, mas não é minha praia. Não é porque minha mãe me deu uma boa sova quando tinha seis anos, que vou buscar isso e trazer à tona. Não, eu estava apenas representando neste filme. Na cena em que ele está em um beco sem saída, quando ele está gritando com todo mundo que está indo embora, foi algo que achei certo para o personagem. Achei que esse cara deveria sofrer. Mas no meu dia a dia não grito, nem levanto a voz.

Folha - Nem com seus filhos?
Washington -
Não. Às vezes eles me enchem muito o saco (risos), mas sei lidar com isso.

Folha - Qual foi o maior desafio desse filme?
Washington -
Foi uma ótima experiência fazê-lo. Mas a parte chatinha e tediosa foi ficar durante 28 dias filmando naquele carro. Ficava doente de ver aquele automóvel na frente (risos). Mas é tudo uma estrada de mão dupla: embora fosse tedioso e claustrofóbico fazer aquilo, eu estava atuando com Ethan Hawke, que é um excelente ator, e a gente improvisava muito. Pelo menos um terço de nossas falas veio exclusivamente de nossa imaginação.

Folha - Trabalhando com Russell Crowe no filme "Assassino Virtual", em 1995, era possível imaginar que ele acabaria se tornando mais tarde uma grande estrela de Hollywood?
Washington -
Sim, ele é bom. Quando fiz "O Colecionador de Ossos" com Angelina Jolie, eu disse, "uau, ela é boa". (risos). E senti a mesma coisa com Russell, assim como também quando fiz "Coragem sob Fogo", com Matt Damon. Lembro de ter dito, "esse garoto sabe atuar". Ele definitivamente tem destreza (começa a fazer uma voz melosa) e, como você pode ver, eu estava certo (risos).



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