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"SEXY BEAST"
Filme se perde com típico gangsterismo londrino de fachada
CRÍTICO DA FOLHA
Aposentado do gangsterismo londrino, Gal (Ray
Winstone) vive, com a mulher e
um casal de amigos, seu sonhado
e lascivo auto-exílio em uma ensolarada região espanhola.
O pesadelo invade o sonho
quando o temido Don Logan
(Ben Kingsley) chega na área para
acabar com a moleza do grupo. A
última esperança que depositávamos na fita, a de que a participação de Kingsley salvasse "Sexy
Beast" do limbo, logo se desfaz.
O diretor estreante Jonathan
Glazer, que fez carreira dirigindo
comerciais e clipes ingleses, acha,
como bom publicitário, que encontrar as referências e o tratamento adequados para cada sequência é o suficiente para realizar um bom longa-metragem. O
problema é que nem em sua seara
ele se salva.
Seu tratamento é pesado e de
mau-gosto, suas referências são
parcas: para ilustrar a atmosfera
de sonho da sequência inicial,
Glazer, como confessa no material de divulgação do filme, pensou nos filmes paradisíacos estrelados por Elvis Presley, e, para o
pesadelo subsequente, ele usou
como referência os filmes de horror.
Gangster
Mas a referência primeira de
Glazer parece ser mesmo o marido de Madonna, Guy Ritchie, o
publicitário que se tornou o cineasta da moda na Inglaterra com
filmes chauvinistas sobre o submundo do gangsterismo londrino. "Sexy Beast" é uma tentativa,
e apenas isso, de realizar um filme
de gangster ao estilo (subtarantinesco) de Ritchie.
Mas a Glazer não resta nem
mesmo o talento que Ritchie demonstra ao manipular as imagens.
Seu filme é grotesco, tanto mais
pelo fato de o personagem coadjuvante de Ben Kingsley ganhar,
naturalmente, em decorrência do
talento do ator, espaço, desnaturando o que era para ser mais um
thriller de assalto barato a invadir
o mercado em um thriller psicológico.
Quando Glazer tenta retomar a
sua proposta original já é tarde.
Kingsley impõe-se sem dificuldades sobre a sua direção, aproveitando as deixas do roteiro escrito
pela dupla Louis Mellis e David
Scinto.
Esta parece ter se inspirado, ao
conceber a relação entre os personagens, no clássico "The Big Knife" (1955), filme que Robert Aldrich realizou a partir de um texto
anti-hollywoodiano escrito pelo
dramaturgo esquerdista Clifford
Odets. Deedee (Amanda Redman), a esposa de Gal, tem a mesma função da personagem de Ida
Lupino no clássico de Aldrich: cobrar e defender o marido da influência malévola de um "big
boss" endemoniado.
O medo de Gal por Logan é o
mesmo do personagem de Jack
Palance, um ator, pelo personagem de Rod Steiger, um produtor,
em "The Big Knife": o de ter a alma roubada pelo diabo.
O mais curioso é que, 20 anos
depois de se consagrar na pele do
pacifista Mahatma Gandhi, em
atuação beatificada pelo Oscar,
Ben Kingsley pode receber sua segunda estatueta (agora como
coadjuvante) na pele do endiabrado Don Logan.
(TIAGO MATA MACHADO)
Sexy Beast
Sexy Beast
Direção: Jonathan Glazer
Produção: Inglaterra/Espanha, 2000
Com: Ben Kingsley, Ray Winstone
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Unibanco Arteplex, Jardim Sul
e circuito
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