São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Visita a museu britânico desperta raiva e mea-culpa

Esculturas, painéis e frisos ocupam maior e mais disputada sala dentre os 95 espaços expositivos da instituição londrina

Visitantes gregos do British Museum reconhecem mérito na preservação dos mármores do Parthenon, mas querem peças de volta


EM LONDRES
DA ENVIADA A ATENAS

"Você não vai achar um grego que não apoie a volta das peças para seu lugar de origem." A frase dita por um diplomata à Folha é espelho da percepção que ecoa na imprensa grega.
As peças do Parthenon retiradas por lorde Elgin ocupam a sala de número 18 do British Museum. É o maior espaço expositivo do museu, que conta com 95 salas e sete milhões de objetos que remontam a história do homem e da cultura.
"É difícil descrever o que sinto quando entro neste espaço", disse o engenheiro grego Manolis Giakoymogiannakis, 27, em sua primeira visita à sala 18.
"É uma mistura de frustração e raiva. Essa história pertence ao meu país, e deve ser devolvida a nós. Não precisa ser tudo, mas quase tudo."
O engenheiro ateniense já havia visitado o Novo Museu da Acrópoles. "Fica evidente que ali estão faltando muitas peças. É esquisito", afirmou.
O estudante Kyriacos Nicolaou, 22, também defende o retorno das peças à Grécia. Sentado diante dos frisos do templo na sala 18, ele destacou a importância do "sequestro" dos mármores para sua preservação. "Foi bom que as esculturas tenham vindo para cá a fim de serem preservadas. Os ingleses tinham mais recursos para isso." Para ele, no entanto, as peças funcionam hoje como uma grande atração turística.
"O British Museum argumenta que não cobra entrada para visitantes. Mas quantas pessoas vêm ao Reino Unido para ver essa riqueza?"
O museu de Londres recebeu em 2009 mais de 5 milhões de visitantes.
Para Bob Jezzard, 63, membro da Sociedade de Amigos do British Museum, o nível de distribuição dos tesouros históricos deveria ser mais equânime: "Fico pensando quantos tesouros originais do Reino Unido existem aqui no museu".
A professora britânica Honor Beesley, 69, admite que se sente "levemente culpada" ao visitar as peças gregas no museu britânico. "Ainda assim, tenho a impressão de que os mármores ficarão aqui."
Outra peça da coleção do museu que está em disputa é o Cilindro de Ciro. O artefato feito em barro traz registros de decretos do rei Ciro (559-530 a.C.), e o museu vem descumprindo um calendário de empréstimos da peça ao Irã, que rompeu relações com a instituição britânica. O museu alega que novas descobertas sobre a peça impediram seu empréstimo. (FERNANDA MENA e LUCIANA COELHO)


Texto Anterior: Caça ao tesouro
Próximo Texto: Amos Gitai defende utopia do cinema
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.