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MÚSICA
Portuguesa se apresenta hoje em SP e mostra canções de seu novo disco
Dulce Pontes investiga dor do fado
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Amar é doloroso. Essa é a impressão que vai tomar conta dos
corações e mentes que forem hoje
ao DirecTV Music Hall ver a apresentação da portuguesa Dulce
Pontes, 35, atualmente a maior especialista na arte de investigar os
meandros melancólicos do fado.
Pelo jeito, a melancolia fica restrita aos palcos e aos estúdios.
Exemplo de que ela leva a vida na
esportiva aconteceu na última segunda. "Parece que havia pessoas
dançando no quarto sobre o meu.
Quase virei um zumbi e quis pôr
rolhas nos ouvidos", disse, entre
risadas, referindo-se ao hotel curitibano de onde falou à Folha.
Motivos para afastar a tristeza
não faltam. Além de ser considerada a porta-voz da musicalidade
lusitana, no ano passado a moça
viu virar realidade uma promessa
de oito anos: gravar o CD "Focus", em que divide os microfones com a orquestra do maestro
italiano Ennio Morricone, 75, célebre por ter composto as trilhas
de filmes como "Cinema Paradiso" e faroestes de Sergio Leone.
"A idéia partiu do maestro. Nós
nos conhecemos em 1995, quando cantei "A Brisa do Coração" na
trilha do filme "Sostiene Pereira".
Três anos depois, comecei a participar de várias apresentações dele." Reza a lenda que, naquele primeiro encontro, Morricone disse
que só gravaria com Pontes após
ela completar 30 anos.
Apesar de se julgar madura o
suficiente, a cantora afirma que
seu encontro com a orquestra não
foi desprovido de frios na barriga.
"Sentir aquela sonoridade toda
atrás de mim foi como estar no
céu, mas com um pé no inferno",
conta ela para descrever a dificuldade que foi ajustar o seu timbre
delicado a uma convivência pacífica com cordas, peles e metais.
Além do repertório e da voz,
pouco do disco sobe ao palco hoje. "Nós nem tentamos reproduzir o som de Morricone. Seria ridículo. Até porque o show não será baseado apenas em "Focus"."
Assim, além de algumas canções do CD, a cantora vai passear
por fados tradicionais, composições de Astor Piazzolla e música
brasileira, uma paixão antiga, segundo ela. "Sempre fui contaminada pela música daqui. Lembro
que, na minha primeira audição,
misturei Amália Rodrigues com
uma leitura de "Fascinação" muito
próxima da que Elis fazia."
Pontes diz que em sua infância
não teve aulas de canto, só de piano. Em seu currículo, traz uma
passagem pela banda de rock urbano Os Per Capta. "Ensaiávamos
no sótão. Até que um dia a polícia
chegou e acabou com tudo."
Depois de mulher feita, uma
professora ajudou a domesticar
os registros mais agudos de sua
voz, que, segundo a cantora, eram
fortes demais, próximos ao de um
trompete. O resto de seu talento
de intérprete foi lapidado em experiências em comédias musicais.
Foi assim que, aos 23 anos, chegou ao seu primeiro disco, "Lusitana", pontapé inicial numa carreira que decolaria com o disco
seguinte, "Lágrimas" (93), que a
fez receber convites para colocar a
voz ao lado das de José Carreras,
Cesária Évora e Caetano Veloso.
DULCE PONTES. Quando: hoje, às
21h30. Onde: DirecTV Music Hall (av. dos
Jamaris, 213, Moema, SP, tel. 0/xx/11/
6846-6040). Quanto: de R$ 60 a R$ 100.
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