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TEATRO
Ator protagoniza espetáculo em que rememora sua história desde os anos 40 até hoje por meio de peças e canções
Borghi passa em revista 45 anos de palco
DA REPORTAGEM LOCAL
Em criança, seis, sete anos, ouviu o chamado artístico pela voz
de Dalva de Oliveira (1917-72).
Hoje, aos 67, corpo miúdo de
sempre, Renato Borghi interpreta
a canção como personagem de si
mesmo na abertura do espetáculo
"Borghi em Revista".
O ator, e não o cantor que sempre sonhara ser, completa 45 anos
de teatro com o projeto autobiográfico que estréia hoje em São
Paulo, para convidados, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Ele já escreveu uma peça em homenagem à sua musa, o musical
"A Estrela Dalva" (1987), com
Marília Pêra. Também rasgou boleros da cantora no solo "Senhora
do Camarim" (1995).
As reminiscências do carioca
Borghi (claro, ele não deixou de
lado a descoberta do teatro de revista) passam pela quase-gravação de um disco, em 1958, quando
um empresário o contratou para
temporada na boate Cave, casa
cativa de Elizeth Cardoso.
Mas o destino lhe pregou uma:
estudava canto com dona Alice
Pinker, mãe da atriz Nydia Lícia,
mulher do lendário Sérgio Cardoso na companhia do casal que
montaria no Rio "Chá e Simpatia", de Robert Anderson.
Depois de informá-lo sobre a
abertura de testes para o protagonista, dona Pinker lhe perguntou:
"Renato, por que você não faz?". E
Borghi foi para o Rio ser artista de
teatro na vida.
Naquele mesmo ano, retomou
em São Paulo as aulas na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Nas "arcadas", conheceu
José Celso Martinez Corrêa, Amir
Haddad e outros.
Eles fundaram o grupo amador
Oficina. Consegue os direitos da
peça "A Engrenagem", de Jean-Paul Sartre, encenada por Boal
em 1960. Em seguida, Zé Celso escreve "A Incubadeira", na qual
Borghi atua sob direção de Haddad, hoje diretor do grupo carioca
Tá na Rua.
A estréia profissional do Oficina
se dá em agosto em 1961, já na rua
Jaceguai, 520, no Bexiga, com "A
Vida Impressa em Dólar", de Clifford Odets, a estréia de Zé Celso
na direção.
Antropofagia
A contracenação com o grupo
vai até 1972, quando atua em
"Gracías, Señor", criação coletiva,
e "As Três Irmãs", de Tchecov. "O
Zé descobriu a força do coro antropofágico, começou a ficar maravilhado com essa experiência,
enquanto eu caminhei mais para
a representação, para o ator, e menos para um ator-comunicador
que usa técnicas de interação",
afirma Borghi.
Sucedem-se os ciclos dos grupos Teatro Vivo e Resistência, ao
lado da ex-mulher, a também
atriz Esther Góes. Montam autores ligados ao momento de resistência, como Bertolt Brecht, Gianfrancesco Guarnieri e Consuelo
de Castro.
Nos anos 90, reata o espírito de
grupo com o Teatro Promíscuo,
que culmina com a realização da
Mostra de Dramaturgia Contemporânea em 2002.
O roteiro de "Borghi em Revista" tende à cronologia dos anos 40
ao presente, na ponte Rio-SP, mas
não se quer didático. Elcio Nogueira Seixas, que também assina
a direção, dá margem ao improviso e carisma do ator.
Borghi não está sozinho. O filho
Ariel Borghi ora o entrevista informalmente, ora se integra à cena como personagem. Projeção
de imagens pinçadas de arquivos
institucionais e pessoais (Cacilda
Becker, cenas de "O Rei da Vela"
etc) reafirmam ainda um painel
da história do teatro no país.
(VALMIR SANTOS)
BORGHI EM REVISTA. Onde: Centro
Cultural Banco do Brasil em São Paulo
- teatro (r. Álvares Penteado, 112, centro,
tel. 0/xx/11/3113-3651). Quando: estréia
hoje, para convidados; temporada a
partir de amanhã; de qui. a sáb., às 20h;
dom., às 19h; até 6/6. Quanto: R$ 15.
Patrocinador: CCBB-SP.
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