São Paulo, quinta, 15 de maio de 1997.



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Antoni Muntadas bate na mesma tecla

da Reportagem Local

Um conceito persegue, como um fantasma, o artista plástico catalão, radicado em Nova York, Antoni Muntadas. Batizado "media landscape" (paisagem dos meios de comunicação), esse conceito trata da ação da comunicação de massa na sociedade contemporânea e de sua suposta objetividade.
Muntadas é um velho conhecido do Brasil. Participou de projetos artísticos de vanguarda, como o JAC (Jovem Arte Contemporânea), no MAC, em 1974; deu aulas na USP, fez sua primeira mostra aqui em 1975. Também participou dos mais importantes eventos de arte do mundo, como as bienais de Veneza e de Paris, além da Documenta de Kassel, para onde volta este ano, com um projeto para Internet.
Na mostra que inaugura hoje na galeria Luisa Strina, Muntadas apresenta 11 serigrafias com retratos de personalidades do meio político e artístico, todos com microfone na mão. "A idéia do microfone é uma idéia de sedução, convencimento e poder. Trabalho com personagens muito conhecidos que se tornam anônimos", disse.
A mostra é uma continuação do trabalho que apresentou aqui em 1992, na mesma galeria, em que posicionou sobre um palanque uma série de microfones e na frente dele, as primeiras páginas de vários jornais.
"Hoje em dia não é possível fazer um retrato de um homem público sem o microfone. É como uma nova prótese que se estabelece. Como a câmera, que é uma extensão do olho, como o computador, que é uma extensão da mão, a extensão do ouvido por meio do walkman... Existe toda uma série de próteses que formam uma nova ortopedia do homem urbano", disse o artista.
As serigrafias estão acompanhadas por uma projeção em vídeo de um discurso de um político, mas do qual se vêem apenas as mãos. O tempo do discurso é de 30 segundos, mas, em câmara lenta, dura seis minutos. Igualmente ralentado, o discurso do político também perde sua definição.
Muntadas mesmo sabe que o discurso da manipulação da comunicação não é novo. "A própria palavra manipulação significa o ato de transformar algo com as mãos. Manipulamos objetos, imagens e, com o tempo, as palavras também se transformam. A publicidade, por exemplo, no início era a maneira de informar algo ao público, mas se tornou marketing e não mais informação."
Tanta preocupação política e sociológica deixa pouco espaço para a arte, propriamente dita. Embora o artista insista que também se interessou pela textura da trama impressa nas serigrafias, pela definição e abstração que elas revelam simultaneamente, o que sobressai mesmo é o papel da mídia na comunicação. "Trabalho um fenômeno de composição pictórica, mas que aqui é analisado do ponto de vista mediático. ", disse.
(CELSO FIORAVANTE)
Mostra: Portraits
Artista: Antoni Muntadas
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, tel. 011/280-2471, Jardins)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h. Até 3 de junho





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