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Antoni Muntadas bate na mesma tecla
da Reportagem Local
Um conceito persegue, como um
fantasma, o artista plástico catalão, radicado em Nova York, Antoni Muntadas. Batizado "media
landscape" (paisagem dos meios
de comunicação), esse conceito
trata da ação da comunicação de
massa na sociedade contemporânea e de sua suposta objetividade.
Muntadas é um velho conhecido
do Brasil. Participou de projetos
artísticos de vanguarda, como o
JAC (Jovem Arte Contemporânea), no MAC, em 1974; deu aulas
na USP, fez sua primeira mostra
aqui em 1975. Também participou
dos mais importantes eventos de
arte do mundo, como as bienais de
Veneza e de Paris, além da Documenta de Kassel, para onde volta
este ano, com um projeto para Internet.
Na mostra que inaugura hoje na
galeria Luisa Strina, Muntadas
apresenta 11 serigrafias com retratos de personalidades do meio político e artístico, todos com microfone na mão. "A idéia do microfone é uma idéia de sedução, convencimento e poder. Trabalho
com personagens muito conhecidos que se tornam anônimos",
disse.
A mostra é uma continuação do
trabalho que apresentou aqui em
1992, na mesma galeria, em que
posicionou sobre um palanque
uma série de microfones e na frente dele, as primeiras páginas de vários jornais.
"Hoje em dia não é possível fazer um retrato de um homem público sem o microfone. É como
uma nova prótese que se estabelece. Como a câmera, que é uma extensão do olho, como o computador, que é uma extensão da mão, a
extensão do ouvido por meio do
walkman... Existe toda uma série
de próteses que formam uma nova
ortopedia do homem urbano",
disse o artista.
As serigrafias estão acompanhadas por uma projeção em vídeo de
um discurso de um político, mas
do qual se vêem apenas as mãos. O
tempo do discurso é de 30 segundos, mas, em câmara lenta, dura
seis minutos. Igualmente ralentado, o discurso do político também
perde sua definição.
Muntadas mesmo sabe que o discurso da manipulação da comunicação não é novo. "A própria palavra manipulação significa o ato
de transformar algo com as mãos.
Manipulamos objetos, imagens e,
com o tempo, as palavras também
se transformam. A publicidade,
por exemplo, no início era a maneira de informar algo ao público,
mas se tornou marketing e não
mais informação."
Tanta preocupação política e sociológica deixa pouco espaço para
a arte, propriamente dita. Embora
o artista insista que também se interessou pela textura da trama impressa nas serigrafias, pela definição e abstração que elas revelam
simultaneamente, o que sobressai
mesmo é o papel da mídia na comunicação. "Trabalho um fenômeno de composição pictórica,
mas que aqui é analisado do ponto
de vista mediático. ", disse.
(CELSO FIORAVANTE)
Mostra: Portraits
Artista: Antoni Muntadas
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João
Manuel, 974A, tel. 011/280-2471, Jardins)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de segunda a sexta, das 10h às
20h; sábado, das 10h às 14h. Até 3 de junho
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