São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001

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POLÍTICA CULTURAL

Comitê Gestor de Patrocínios faz levantamento inédito de investimentos estatais no setor da cultura

Petrobras gasta R$ 96 mi em patrocínios

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Petrobras gastou cerca de R$ 96 milhões em patrocínio de atividades culturais ou esportivas no ano passado, tornando-se a empresa estatal campeã nesse tipo de investimento. O valor representa 58% do total que as seis principais estatais do governo federal investiram nas duas áreas.
A vice-campeã foi a BR -Petrobras Distribuidora-, com 20% dos investimentos. Assim, o setor do petróleo respondeu por mais de dois terços dos recursos destinados às artes, espetáculos, restauração e esportes, que receberam verbas dos cofres públicos federais, ainda que por meio de estatais.
Os números relativos aos investimentos constam do primeiro balanço do Comitê Gestor de Patrocínios, da Secretaria de Comunicação de Estado da Presidência da República, ao qual a Folha teve acesso na semana passada.
São seis as estatais que integram o comitê: Petrobras, BR Distribuidora, Eletrobrás, Correios, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Ao todo, foram aprovados 964 projetos culturais ou esportivos no ano passado, dos quais 394 com orçamentos superiores a R$ 50 mil.
Do total de projetos que obtiveram a chancela de apoio federal, 750 foram ligados à cultura e o restante ao esporte.
Apesar de o número de eventos esportivos ter sido menor, eles acabaram ficando com a maior parte do bolo dos recursos -26%.
Bem próximo, estiveram os gastos com artes cênicas (25% dos investimentos), seguidos pelas atividades de conservação e restauração do patrimônio artístico e histórico (com 20%).
Depois vieram os financiamentos de filmes (16%) e, por fim, os investimentos em atividades musicais (com 13%).

Sintonia
"A criação do comitê, em janeiro de 2000, foi uma maneira de fazer com que houvesse uma sintonia muito maior entre os dois lados da equação: de um lado os formuladores da política de governo, como o Ministério da Cultura e suas secretarias ou o Ministério do Esporte, e de outro as estatais", afirmou à Folha o embaixador Sergio Abreu e Lima Florêncio, responsável pelo comitê.
Antes do comitê, cada estatal tinha um esquema próprio de financiamento de projetos.
Isso fazia com que algumas propostas recebessem recursos de mais de uma estatal -especialmente quando o produtor tinha maior trânsito ou influência-, enquanto outras nem sequer chegavam à avaliação delas.
Além disso, como nenhuma estatal sabia quanto a outra estava realmente investindo em determinado projeto ou atividade, esse fator, nas mãos de produtores mal-intencionados, gerava uma espécie de inflação dentro do próprio circuito.
Segundo avaliação do embaixador, houve no início uma dificuldade em fazer com que as estatais conhecessem melhor a filosofia da política cultural e desportiva do governo e suas expectativas. "As próprias empresas têm suas diretrizes, também formulam políticas para elas próprias, mas era necessário integrar os dois lados. Nesse sentido, o comitê teve êxito, porque no início nós não tínhamos certeza de que o clima seria esse", afirmou.
O embaixador disse que, embora o comitê "nunca tenha procurado ser um instrumento impositivo de política cultural sobre as estatais", procura exercer "influência positiva" sobre as empresas, indicando projetos de cunho social, como os voltados para recuperação de meninos de rua ou de incentivo à arte entre crianças carentes.
"A sociedade olha com bons olhos uma empresa que tem uma vertente social mais desenvolvida. E a gente procura estimular e criar maior receptividade para projetos culturais ou esportivos que tenham um componente social marcante", afirmou.


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