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POLÍTICA CULTURAL
Construção "convencional" dos palcos dos 45 centros educacionais da prefeitura se opõe ao projeto original
Arquiteto ataca alteração em teatros de SP
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada um dos 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs) que o
governo Marta Suplicy promete
inaugurar em São Paulo até o final
deste ano (ou 45 até 2004) terão
um teatro com cerca de 400 lugares e palco (11 m de profundidade
x 15 m de largura) de conformação italiana (platéia frontal).
A tipologia era para ser menos
convencional, mas o projeto embrionário do Edif, Departamento
de Edificações da Secretaria Municipal de Serviços e Obras, que
previa um espaço multiuso, foi
substituído na última semana pela concepção assinada pelo arquiteto e cenógrafo J.C. Serroni.
Os arquitetos Alexandre Delijaicov e André Takiya, ambos do
Edif, desenharam uma relação
flexível entre palco e platéia, com
arquibancada retrátil, por exemplo, sobre rodas.
Cada artista poderia transformar o espaço de acordo com sua
peça ou coreografia. Segundo Delijaicov, 41, seria um "teatro de
passagem, [tal qual] uma praça,
uma ágora em que o edifício dialogasse com o seu entorno".
Ele cita o conceito da escola parque idealizada na década de 50
pelo educador baiano Anísio Teixeira (1900-71), que defendia uma
política pública para centros educacionais comunitários erguidos
na periferia das cidades.
Delijaicov se diz "amargurado"
pela mudança na arquitetura teatral dos CEUs na reta final -as
primeiras unidades devem ser entregues a partir de agosto.
"Respeito o Serroni, mas engessar um palco de experimentação é
um absurdo", diz Delijaicov, que
é professor da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP e já
trabalhou com o arquiteto Paulo
Mendes da Rocha e com a encenadora Bia Lessa.
J.C. Serroni foi convocado há
cerca de dois meses pelo secretário municipal de Cultura, Celso
Frateschi, para dar consultoria.
Idealizador do Espaço Cenográfico e autor do livro "Teatros
-Uma Memória do Espaço Cênico
no Brasil", Serroni, 52, diz que
propôs as mudanças "com dor no
coração". Identifica-se com espaços não-convencionais, mas afirma que a opção pelo palco multiuso seria impraticável sobretudo pelos custos.
O valor de cada teatro ainda não
foi estimado, mas o custo de cada
unidade do CEU é de R$ 13,7 milhões.
Serroni afirma ainda que o palco italiano atenderá prioritariamente a inserção da comunidade de regiões carentes e não necessariamente aos grupos que experimentam linguagens cênicas em espaços não-convencionais.
"Será um palco italiano mais
despojado", diz Serroni. "Está se
confundindo o despojado com o
precário", afirma Delijaicov.
Para o secretário Celso Frateschi, a idéia do palco multiuso poderia resultar "mambembe" e "desconfortável" (arquibancada
sem poltrona, por exemplo).
Frateschi, 51, explica que o projeto de Serroni inclui uma segunda sala, ela sim multiuso, de cem lugares, construída na área inferior da arquibancada, destinada
às criações ou cursos mais experimentais.
Localizados em bairros como
Aricanduva (zona leste), Capão
Redondo (sul), Perus (norte) e Pirituba (oeste), os CEUs fazem
parte da chamada "política inclusiva" da prefeitura.
Além de escolas e creches, cada
unidade terá um conjunto cultural (teatro, biblioteca ) e outro esportivo (piscina, ginásio).
Os CEUs envolvem diretamente as secretarias de Educação, de
Cultura e de Esporte e Lazer.
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