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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Construção "convencional" dos palcos dos 45 centros educacionais da prefeitura se opõe ao projeto original

Arquiteto ataca alteração em teatros de SP

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada um dos 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs) que o governo Marta Suplicy promete inaugurar em São Paulo até o final deste ano (ou 45 até 2004) terão um teatro com cerca de 400 lugares e palco (11 m de profundidade x 15 m de largura) de conformação italiana (platéia frontal).
A tipologia era para ser menos convencional, mas o projeto embrionário do Edif, Departamento de Edificações da Secretaria Municipal de Serviços e Obras, que previa um espaço multiuso, foi substituído na última semana pela concepção assinada pelo arquiteto e cenógrafo J.C. Serroni.
Os arquitetos Alexandre Delijaicov e André Takiya, ambos do Edif, desenharam uma relação flexível entre palco e platéia, com arquibancada retrátil, por exemplo, sobre rodas.
Cada artista poderia transformar o espaço de acordo com sua peça ou coreografia. Segundo Delijaicov, 41, seria um "teatro de passagem, [tal qual] uma praça, uma ágora em que o edifício dialogasse com o seu entorno".
Ele cita o conceito da escola parque idealizada na década de 50 pelo educador baiano Anísio Teixeira (1900-71), que defendia uma política pública para centros educacionais comunitários erguidos na periferia das cidades.
Delijaicov se diz "amargurado" pela mudança na arquitetura teatral dos CEUs na reta final -as primeiras unidades devem ser entregues a partir de agosto.
"Respeito o Serroni, mas engessar um palco de experimentação é um absurdo", diz Delijaicov, que é professor da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP e já trabalhou com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e com a encenadora Bia Lessa.
J.C. Serroni foi convocado há cerca de dois meses pelo secretário municipal de Cultura, Celso Frateschi, para dar consultoria.
Idealizador do Espaço Cenográfico e autor do livro "Teatros -Uma Memória do Espaço Cênico no Brasil", Serroni, 52, diz que propôs as mudanças "com dor no coração". Identifica-se com espaços não-convencionais, mas afirma que a opção pelo palco multiuso seria impraticável sobretudo pelos custos.
O valor de cada teatro ainda não foi estimado, mas o custo de cada unidade do CEU é de R$ 13,7 milhões.
Serroni afirma ainda que o palco italiano atenderá prioritariamente a inserção da comunidade de regiões carentes e não necessariamente aos grupos que experimentam linguagens cênicas em espaços não-convencionais.
"Será um palco italiano mais despojado", diz Serroni. "Está se confundindo o despojado com o precário", afirma Delijaicov.
Para o secretário Celso Frateschi, a idéia do palco multiuso poderia resultar "mambembe" e "desconfortável" (arquibancada sem poltrona, por exemplo).
Frateschi, 51, explica que o projeto de Serroni inclui uma segunda sala, ela sim multiuso, de cem lugares, construída na área inferior da arquibancada, destinada às criações ou cursos mais experimentais.
Localizados em bairros como Aricanduva (zona leste), Capão Redondo (sul), Perus (norte) e Pirituba (oeste), os CEUs fazem parte da chamada "política inclusiva" da prefeitura.
Além de escolas e creches, cada unidade terá um conjunto cultural (teatro, biblioteca ) e outro esportivo (piscina, ginásio).
Os CEUs envolvem diretamente as secretarias de Educação, de Cultura e de Esporte e Lazer.


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