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LIVROS
Intelectual diz à Folha que Colômbia e Venezuela estão entre próximos alvos
Para Chomsky, "terrorismo ianque" pode atacar Andes
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Michael Moore ainda babava na
chupeta quando Noam Chomsky
já fazia o esporte predileto de ambos, bater pesado no governo
americano. O tempo não amainou a fúria do lingüista, professor
do Massachusetts Institute of
Technology desde 1955.
Prova disso é seu último petardo, o volume "O Império Americano - Hegemonia ou Sobrevivência", não por acaso decorado
com seis pequenos torpedos em
sua capa, tanto na edição americana, de 2003, quanto na versão
brasileira, que a editora Campus
colocou há pouco no mercado.
Com uma voz pausada e bem
mais jovem do que seus 75 anos, o
próprio Chomsky explica à Folha,
em conversa por telefone. "O melhor meio dos Estados Unidos
combaterem o terrorismo é deixarem de ser um dos principais
terroristas do mundo", diz o intelectual, à guisa de prefácio.
O terrorismo americano é um
dos temas centrais do livro de ensaios e do discurso chomskiano.
Foram "terroristas", segundo ele,
"a luta contra Cuba desde 1959",
"o golpe militar no Brasil, basicamente iniciado pela administração Kennedy", o "investimento
contra os curdos", "as ações criminosas de agora em Fallujah".
Chomsky poderia passar o resto
do dia enumerando "terrorismos
ianques", mas sua voz ganha embalo mesmo é quando fala desse
último episódio. "Fallujah foi
muito pior do que as torturas",
diz, sobre o caso que vem balançando o coreto na Casa Branca.
"Invadimos Fallujah e matamos
centenas para vingar a morte de
quatro americanos, movimento
por sua vez de vingança à morte
de Abdel Aziz Rantisi, do Hamas.
Todos dizem que ele foi morto
por Israel. Isso não é preciso. Ele
foi morto por israelenses usando
um helicóptero americano."
Chomsky diz que a cada dia volta a se surpreender com a nada
engraçada "comédia de erros que
virou a invasão do Iraque".
"Quando os americanos invadiram o Iraque desta vez, dei por
certo que seria a ocupação militar
mais fácil da história; e deveria
ser. Analistas de ONGs com grande experiência internacional se
mostraram chocados com o fracasso da ocupação americana."
Mesmo diante desse quadro, ele
sustenta que o "projeto hegemônico do império americano" (daí
o "Hegemonia ou Sobrevivência"
de seu livro) exige mais invasões.
Quais seriam as próximas?
Atenção para a resposta de
Chomsky: "A região andina, da
Colômbia à Venezuela, é um alvo
muito provável de uma intervenção americana". Segundo o lingüista, é uma região "bastante
descontrolada politicamente,
com alta importância estratégica
para os EUA, fonte de mais exportações de petróleo do que o Oriente Médio". O elevado número de
soldados já na região também facilitaria uma intervenção.
As outras duas "apostas" são
menos surpreendentes. "Em dezembro passado o Congresso passou quase unanimemente o chamado "Syria Accountability Act",
que é praticamente uma autorização de invasão. Os EUA dizem
que os sírios patrocinam o terrorismo, mas o fato é que há mais de
15 anos ninguém acusa o país disso. Eles inclusive têm colaborado
com os EUA fornecendo informações importantes para o combate
de redes como a Al Qaeda."
Uma ação contra o Irã também
não seria impossível, segundo
Chomsky, "com a diferença de
que eles sabem se defender".
O ativista diz que o desastre iraquiano de Bush não deve influenciar nos resultados da eleição. E
que não faria muita diferença a
eventual vitória de John Kerry.
"Os dois candidatos vêm de famílias ricas e influentes. Os dois
foram para a mesma universidade. Participaram da mesma sociedade secreta, para socializar jovens ricos nas práticas da classe
dominante. Os dois estão na disputa apoiados pelos mesmos interesses corporativos. As eleições
são assim aqui, compradas. Nunca alguém sem dinheiro, como
Lula, chegará ao topo."
Ainda que considere o presidente brasileiro "um dos líderes
políticos mais impressionantes
do cenário mundial", Chomsky
anda insatisfeito com o petista.
"Era bastante óbvio que ele teria
dois tipos de caminho. Desafiar a
comunidade econômica internacional e seguir seu caminho, como Kirchner está fazendo, ou
aceitar as regras desenhadas pelo
FMI, que eliminam as possibilidades de democracia. Desde que Lula tomou o segundo rumo, foi forçado a seguir políticas opostas às
que ele foi eleito para defender."
O intelectual acha que hoje seria
inviável a repetição do que se passou há 40 anos. "Um golpe, como
o que os americanos arquitetaram
para derrubar Goulart, não aconteceria mais, em parte porque a
população brasileira não aceitaria
isso de novo, mas também porque não precisariam mais disso.
Os mecanismos neoliberais garantem que governos não possam
seguir os desejos da população."
O que mudou mesmo nesses 40
anos, porém, foi a opinião pública. A Folha pergunta o que
Chomsky acha do sucesso de Michael Moore, crítico "pop" do governo Bush. "Ele faz um trabalho
muito bom. O que é interessante é
que ele tem um público popular e
isso reflete uma mudança importante que vem acontecendo no
país. Essa mudança também me
pegou. Há 40 anos estava fazendo
palestras em igrejas para quatro
pessoas. Hoje aonde quer que eu
vá tenho multidões para me ouvir
e não dou conta dos convites."
O IMPÉRIO AMERICANO.
Autor: Noam
Chomsky. Tradução: Regina Lyra.
Editora: Campus. Quanto: R$ 49.
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