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Modo de fazer pode virar "patrimônio"
Conselho do Iphan se reúne hoje em BH para decidir sobre
o registro do "Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas'
Se técnica for aprovada
como patrimônio cultural
imaterial brasileiro, decisão
pode valorizar produto
e ajudar na sua difusão
DA ENVIADA À SERRA DA CANASTRA
O conselho consultivo do
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional),
formado por membros da sociedade civil, vai apreciar hoje,
em reunião no Museu de Artes
e Ofícios, em Belo Horizonte, o
pedido de registro do "Modo
Artesanal de Fazer Queijo de
Minas", nas microrregiões da
Canastra, Serro e Alto Paranaíba/Cerrado, como patrimônio
cultural imaterial brasileiro.
"Esse saber é muito importante para a valorização dos
produtores. Desde a época da
mineração na região, eles detêm esse saber que os identifica. É um patrimônio do Brasil",
diz a historiadora Ana Lúcia de
Abreu Gomes, 40, técnica de
registro do órgão.
De acordo com Gomes, uma
decisão do conselho favorável à
inscrição do modo artesanal de
fazer o queijo no "Livro de Registro dos Saberes" deve valorizar o produto e permitir a continuidade e o aprofundamento
de pesquisas para melhoria da
qualidade dos rebanhos e do
leite e para a preservação do capim nativo -um dos fatores
que diferenciam o queijo de cada microrregião.
"Haverá uma política, dentro
do departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, de
apoio e fomento aos produtores, por meio de um plano de
salvaguardas", afirma Gomes.
"Os pesquisadores e produtores vão identificar as áreas que
precisam de auxílio técnico ou
financeiro. E, de acordo com a
dotação orçamentária, esses
recursos serão aplicados."
Para o historiador e professor José Newton Coelho Meneses, da Escola de Veterinária da
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), que passou
dois anos visitando as três microrregiões para elaborar um
dossiê para o Iphan, "o produto
se valoriza com o diferencial do
patrimônio". "Mais que uma
tradição, esse queijo representa o que é ter fazenda no interior mineiro e qual é a função
dela. É um produto identitário,
intimamente ligado ao cotidiano desses homens e mulheres",
afirma o historiador.
"Por milhares de anos e até o
surgimento da pasteurização,
todo mundo só consumia queijo artesanal feito de leite cru",
diz Gomes. "A industrialização
do queijo é recente, mas foi
de tal maneira acachapante que
acabou tomando conta do
mercado. Então acho que o registro do Iphan, se aprovado,
jogará luz sobre a história do
queijo, que tanto tem a ver
com a nossa história."
(JANAINA FIDALGO)
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