São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Modo de fazer pode virar "patrimônio"

Conselho do Iphan se reúne hoje em BH para decidir sobre o registro do "Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas'

Se técnica for aprovada como patrimônio cultural imaterial brasileiro, decisão pode valorizar produto e ajudar na sua difusão

DA ENVIADA À SERRA DA CANASTRA

O conselho consultivo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), formado por membros da sociedade civil, vai apreciar hoje, em reunião no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, o pedido de registro do "Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas", nas microrregiões da Canastra, Serro e Alto Paranaíba/Cerrado, como patrimônio cultural imaterial brasileiro.
"Esse saber é muito importante para a valorização dos produtores. Desde a época da mineração na região, eles detêm esse saber que os identifica. É um patrimônio do Brasil", diz a historiadora Ana Lúcia de Abreu Gomes, 40, técnica de registro do órgão.
De acordo com Gomes, uma decisão do conselho favorável à inscrição do modo artesanal de fazer o queijo no "Livro de Registro dos Saberes" deve valorizar o produto e permitir a continuidade e o aprofundamento de pesquisas para melhoria da qualidade dos rebanhos e do leite e para a preservação do capim nativo -um dos fatores que diferenciam o queijo de cada microrregião.
"Haverá uma política, dentro do departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, de apoio e fomento aos produtores, por meio de um plano de salvaguardas", afirma Gomes. "Os pesquisadores e produtores vão identificar as áreas que precisam de auxílio técnico ou financeiro. E, de acordo com a dotação orçamentária, esses recursos serão aplicados."
Para o historiador e professor José Newton Coelho Meneses, da Escola de Veterinária da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que passou dois anos visitando as três microrregiões para elaborar um dossiê para o Iphan, "o produto se valoriza com o diferencial do patrimônio". "Mais que uma tradição, esse queijo representa o que é ter fazenda no interior mineiro e qual é a função dela. É um produto identitário, intimamente ligado ao cotidiano desses homens e mulheres", afirma o historiador.
"Por milhares de anos e até o surgimento da pasteurização, todo mundo só consumia queijo artesanal feito de leite cru", diz Gomes. "A industrialização do queijo é recente, mas foi de tal maneira acachapante que acabou tomando conta do mercado. Então acho que o registro do Iphan, se aprovado, jogará luz sobre a história do queijo, que tanto tem a ver com a nossa história."
(JANAINA FIDALGO)


Texto Anterior: A arte do queijo
Próximo Texto: João-Deitado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.