|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Max Stafford-Clark é mentor da nova dramaturgia
da Reportagem Local
A seguir, entrevista realizada
com o diretor de "Blue Heart", o
inglês Max Stafford-Clark.
(NS)
Folha - O americano Tony Kushner, de "Angels in America", diz ter
sido influenciado por Caryl Churchill. O inglês Mark Ravenhill, de
"Shopping and Fucking", também.
O que faz ela ter tal ascendência
sobre tantos autores?
Max Stafford-Clark - Ela funde
o público e o privado, além de ser
uma enorme inovadora, como nos
diálogos sobrepostos de "Top
Girls", de 1982. A fusão que ela faz
entre coisas de interesse pessoal e
coisas de interesse público inspirou "Angels", por exemplo. E ela
também inspirou, na Inglaterra,
toda uma geração de autoras de
teatro. Antes de Caryl, o Royal
Court, que é o teatro em Londres
que mais produz peças novas, tinha algo como 8% de seus textos
escritos por mulheres. Depois que
ela surgiu, na década mais recente
algo como 36% dos textos foram
escritos por mulheres.
Folha - "Blue Heart" é dada por
crítica e público como uma das
melhores peças de 97, em Londres.
O que ela apresenta para alcançar
tamanho impacto?
Stafford-Clark - É muito inventiva, experimenta com forma. Os
dois textos, "Heart's Desire" e
"Blue Kettle", voltam-se sobre si
mesmos. A linguagem, no segundo, é surpreendente, impressionantemente perturbadora. Ela pegou os críticos de surpresa. A natureza já perturbadora do tema se
reflete na natureza perturbadora
da linguagem. Essa união de conteúdo e forma atingiu as pessoas
de maneira muito forte.
Folha - "Blue Heart" foi produzida pela Out of Joint e pelo teatro
Royal Court, companhias que você
dirige e que concentram toda a recente dramaturgia inglesa. Você
confirma o surgimento de uma nova geração de autores?
Stafford-Clark - Os críticos estão sempre comparando um ano
contra outro. "Oh, este ano parece melhor do que o ano passado"
ou "agora as peças estão assim".
Mas a verdade é que desde 56, com
o investimento público depois da
guerra, desde "Look Back in Anger" no Royal Court, o debate
corrente sobre como vivemos nossas vidas tem se refletido nas peças. E algum ano pode ser fraco,
mas o teatro tem sido vigoroso.
Nos anos 80, quando surgiu Jim
Cartwright, por exemplo, havia
um propósito político comum.
Todos sabiam que eram contra a
senhora Margaret Thatcher. Desde
a queda dela, tem sido mais difícil
para as pessoas pensarem sua posição. Houve um período, por volta de 91, quando a dramaturgia parecia perdida. Mas um novo período de vigor sucedeu aquele e tem
impressionado jornalistas.
Folha - Você dirigiu há pouco
"Shopping and Fucking" no Royal
Court, que também produziu "The
Beauty Queen of Leenane", de
Martin McDonagh, e "The Steward
of Christendom", de Sebastian
Barry. Esta geração têm características próprias, comuns?
Stafford-Clark - Acho que não.
É claro que houve um crescimento
extraordinário na dramaturgia de
origem irlandesa. Martin McDonagh e Sebastian Barry são dois
dos muitos autores que tiveram
peças produzidas e que celebram a
língua. Mas não há característica
comum.
O que aconteceu, de fato, foi o
avanço junto a um público mais
jovem. As peças atraíram. E ir ao
teatro, hoje, é uma opção para jovens. Você pode ir ao clube, ao teatro, ao cinema. Isso é algo que
marca como é forte e bem-sucedida a nova dramaturgia. Mas eles
são muito diferentes.
Folha - Você diria, então, que a
diversidade é uma outra marca
dessa dramaturgia?
Stafford-Clark - Certamente.
Folha - "Shopping and Fucking"
foi montada em Nova York este
ano e a crítica não recebeu bem.
Até o título foi atacado. Como você entende essa recepção?
Stafford-Clark - Em primeiro
lugar, a montagem não era tão
boa. Eu posso dizer, porque participei dela também. E houve um
certo lapso cultural. A peça não
era tão pertinente em Nova York
quanto em Londres. Mas eu acho
que a excitação que envolveu a peça... É uma primeira peça. Quando
ela aconteceu em Londres, entrou
em cena sozinha. Em Nova York
havia já toda aquela publicidade
em torno dela. Se você cria uma
expectativa grande como aquela,
os críticos não têm muito o que fazer, além de bater. Se não há expectativa, os críticos têm pouco a
fazer, além de elogiar.
Folha - Seu trabalho por duas décadas tem sido com novos autores,
enquanto outros diretores privilegiam um teatro de imagens.
Stafford-Clark - Sim.
Folha - Por que a preferência?
Stafford-Clark - As pessoas gostam de falar em "teatro total",
mas esse "teatro total", na verdade, significa tudo menos o texto. A
minha educação no Royal Court
me faz pensar no texto sempre como o ponto de partida. Eu trabalho com imagens. As imagens são
importantes, mas, como a coisa
vai, hoje, ou você acredita no texto
ou em imagens. Para mim, as imagens iluminam o texto.
Por outro lado, eu suponho que
também tenha feito bem menos
textos clássicos do que os outros
diretores -e isso acontece porque
uma nova peça, enfim, segurar o
espelho diante da nossa própria
sociedade, é o que realmente torna
o teatro poderoso.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|