São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

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CINEMA - ESTRÉIAS
Culpa atraiu Annaud para "Sete Anos'

CECÍLIA SAYAD
da Redação

"Sete Anos no Tibet", filme do francês Jean-Jacques Annaud que estréia hoje, não é só biográfico -pois se baseia nas memórias do austríaco Heinrich Harrer-, mas também autobiográfico.
Ao relatar a transformação de um europeu causada pelo contato com a cultura oriental, o filme se aproxima da vida do diretor, que morou na África e ficou fascinado pela Ásia quando esteve no Vietnã para fazer "O Amante", em 92.
Foi o que Annaud declarou à Folha em entrevista por telefone, de Los Angeles. Neste que é seu último filme, Brad Pitt faz o alpinista que tem sua vida transformada ao encontrar o jovem Dalai Lama.
O cineasta, diretor de "O Nome da Rosa" e "A Guerra do Fogo", disse ainda que o filme demorou seis meses para ser rodado e que o trabalho de preparação dos atores teve início um ano antes das filmagens. Essa preparação incluiu aulas de alpinismo e uma visita de um mês à Áustria.

Folha - O sr. já tinha interesse pela cultura tibetana antes de começar a filmar "Sete Anos no Tibet"?
Jean-Jacques Annaud -
Tive uma experiência muito forte quando fui ao Vietnã para fazer "O Amante". Adorei a vida e o continente asiáticos. Então, comecei a ler muitos textos sobre a China e o Tibete. No entanto, foi por acaso que encontrei o livro de memórias de Heinrich Harrer, escrito nos anos 50 e nunca antes adaptado para o cinema porque, apesar de ter todos os méritos de um filme de aventura, não traz nenhuma informação sobre a vida privada do personagem-autor. Isso, é claro, porque Harrer tinha algo a esconder. Foi essa parte escondida -essa culpa- o que me interessou.
Folha - O sr. entrevistou Heinrich Harrer para fazer o filme?
Annaud -
Não, eu preferi imaginar esse lado pessoal.
Folha - Os antropólogos dizem que, para compreender uma cultura diferente, deve-se procurar torná-la familiar e, ao mesmo tempo, olhar para a sua própria cultura como se ela fosse exótica...
Annaud -
Tive muita sorte quando, aos 22 anos, fui enviado para os Camarões, na África, onde fiquei um ano para desenvolver uma indústria cinematográfica no país. Foi um choque, pois estive em contato com uma cultura completamente diferente e que adorei. "Sete Anos no Tibet" é um filme parcialmente autobiográfico, pois mostra a história de um jovem europeu que se transforma no contato com uma cultura que lhe é estranha, o que aconteceu comigo.
Folha - O que Oriente e Ocidente devem aprender um com o outro?
Annaud -
O Ocidente, infelizmente, se dirigiu para um extremo materialismo, que nos priva de todas as considerações espirituais e morais. As pessoas que "vencem" materialmente têm uma lacuna espiritual. E o Oriente, infelizmente, está entrando nessa via materialista. É paradoxal o fato de que são os ocidentais os que defendem mais ardentemente essa cultura ameaçada.
Seu filme reúne atores europeus, asiáticos e americanos. A nacionalidade faz diferença na forma deles trabalharem?
Annaud -
O que contou não foi tanto a origem dos atores, mas o fato de eu ter um astro internacional, Brad Pitt, e pessoas que estavam atuando pela primeira vez. A atriz que faz a mãe do Dalai Lama é irmã do Dalai Lama verdadeiro. Isso traz realismo e credibilidade para o conjunto do filme.
Folha - A ousadia é um fator importante em seu trabalho?
Annaud -
Cada cineasta deve ousar à sua maneira e segundo os seus sentimentos. Eu faço como os esportistas, tento sempre quebrar o meu recorde. Gosto de me colocar desafios para não cair na rotina, de buscar assuntos que me surpreendam e de realizar filmes que sejam diferentes da média. Não se pode fazer um trabalho de natureza artística sem correr riscos.

Filme: Sete Anos no Tibet Produção: EUA, 1997 Direção: Jean-Jacques Annaud Com: Brad Pitt, David Thewlis Quando: a partir de hoje, nos cines Gazetinha, Iguatemi 1 e circuito


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