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CINEMA - ESTRÉIAS
Culpa atraiu Annaud para "Sete Anos'
CECÍLIA SAYAD
da Redação
"Sete Anos no Tibet", filme do
francês Jean-Jacques Annaud que
estréia hoje, não é só biográfico
-pois se baseia nas memórias do
austríaco Heinrich Harrer-, mas
também autobiográfico.
Ao relatar a transformação de
um europeu causada pelo contato
com a cultura oriental, o filme se
aproxima da vida do diretor, que
morou na África e ficou fascinado
pela Ásia quando esteve no Vietnã
para fazer "O Amante", em 92.
Foi o que Annaud declarou à Folha em entrevista por telefone, de
Los Angeles. Neste que é seu último filme, Brad Pitt faz o alpinista
que tem sua vida transformada ao
encontrar o jovem Dalai Lama.
O cineasta, diretor de "O Nome
da Rosa" e "A Guerra do Fogo",
disse ainda que o filme demorou
seis meses para ser rodado e que o
trabalho de preparação dos atores
teve início um ano antes das filmagens. Essa preparação incluiu aulas de alpinismo e uma visita de
um mês à Áustria.
Folha - O sr. já tinha interesse pela cultura tibetana antes de começar a filmar "Sete Anos no Tibet"?
Jean-Jacques Annaud - Tive
uma experiência muito forte
quando fui ao Vietnã para fazer
"O Amante". Adorei a vida e o
continente asiáticos. Então, comecei a ler muitos textos sobre a China e o Tibete. No entanto, foi por
acaso que encontrei o livro de memórias de Heinrich Harrer, escrito
nos anos 50 e nunca antes adaptado para o cinema porque, apesar
de ter todos os méritos de um filme
de aventura, não traz nenhuma informação sobre a vida privada do
personagem-autor. Isso, é claro,
porque Harrer tinha algo a esconder. Foi essa parte escondida -essa culpa- o que me interessou.
Folha - O sr. entrevistou Heinrich
Harrer para fazer o filme?
Annaud - Não, eu preferi imaginar esse lado pessoal.
Folha - Os antropólogos dizem
que, para compreender uma cultura diferente, deve-se procurar torná-la familiar e, ao mesmo tempo,
olhar para a sua própria cultura
como se ela fosse exótica...
Annaud - Tive muita sorte
quando, aos 22 anos, fui enviado
para os Camarões, na África, onde
fiquei um ano para desenvolver
uma indústria cinematográfica no
país. Foi um choque, pois estive
em contato com uma cultura completamente diferente e que adorei.
"Sete Anos no Tibet" é um filme
parcialmente autobiográfico, pois
mostra a história de um jovem europeu que se transforma no contato com uma cultura que lhe é estranha, o que aconteceu comigo.
Folha - O que Oriente e Ocidente
devem aprender um com o outro?
Annaud - O Ocidente, infelizmente, se dirigiu para um extremo
materialismo, que nos priva de todas as considerações espirituais e
morais. As pessoas que "vencem" materialmente têm uma lacuna espiritual. E o Oriente, infelizmente, está entrando nessa via
materialista. É paradoxal o fato de
que são os ocidentais os que defendem mais ardentemente essa cultura ameaçada.
Seu filme reúne atores europeus,
asiáticos e americanos. A nacionalidade faz diferença na forma deles trabalharem?
Annaud - O que contou não foi
tanto a origem dos atores, mas o
fato de eu ter um astro internacional, Brad Pitt, e pessoas que estavam atuando pela primeira vez. A
atriz que faz a mãe do Dalai Lama é
irmã do Dalai Lama verdadeiro. Isso traz realismo e credibilidade para o conjunto do filme.
Folha - A ousadia é um fator importante em seu trabalho?
Annaud - Cada cineasta deve
ousar à sua maneira e segundo os
seus sentimentos. Eu faço como os
esportistas, tento sempre quebrar
o meu recorde. Gosto de me colocar desafios para não cair na rotina, de buscar assuntos que me surpreendam e de realizar filmes que
sejam diferentes da média. Não se
pode fazer um trabalho de natureza artística sem correr riscos.
Filme: Sete Anos no Tibet
Produção: EUA, 1997
Direção: Jean-Jacques Annaud
Com: Brad Pitt, David Thewlis
Quando: a partir de hoje, nos cines
Gazetinha, Iguatemi 1 e circuito
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