São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Competição patina na saída

do enviado a Cannes

Apenas oficialmente a competição de Cannes começou ontem. "La Vendedora de Rosas", do colombiano Victor Gabiria, e "Ceux Qui M'Aiment Prendront le Train" (Aqueles Que Me Amam Que Peguem o Trem), do francês Patrice Chéreau, são dois acabados equívocos.
"La Vendedora" é o segundo filme de Gabíria. O tema é a delinquência infantil na Colômbia contemporânea.
O tratamento fílmico não poderia ser mais ultrapassado. "La Vendedora" busca certo realismo cru, bem anos 60, para acompanhar o cotidiano de um grupo de pivetes de ambos os sexos.
Não há qualquer tentativa de aprofundamento psicológico ou social dos personagens.
A seleção de "La Vendedora" é um grave sinal da falta de sintonia de Cannes com a situação do cinema latino-americano. Já a do filme de Chéreau revela o cerne da crise fílmica francesa.
"Ceux Qui M'Aiment ..." é exemplo acabado do cinema falastrão e autocentrado desenvolvido na França nos anos 90. A morte de um pintor homossexual (Jean-Louis Trintignant) leva amigos e familiares a seu enterro na cidade natal. Esta é Limones, local do maior cemitério europeu. O número de lápides (180 mil) supera o de habitantes (140 mil).
A vida que falta lá tampouco se apresenta na tela. O misantropo Chéreau põe todos contra todos em dois momentos: a viagem de trem a Limones e a recepção pós-funeral. Platitudes alternam-se sob a forma de berros ou discursos. Depois reclamam que a turma prefira "Godzilla". (AL)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.