|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA ERUDITA - CRÍTICA
"Requiem' ganha versão apenas correta
WILLIAM LI
especial para a Folha
"Ein Deutsches Requiem" (Um
Réquiem Alemão) é uma reflexão
sobre a morte e a experiência da
perda e se dirige diretamente às
nossas mais íntimas e profundas
emoções. Ele foi sendo elaborado
por Bhrams durante 13 anos, desde 1856, ano da morte de seu mentor e amigo Robert Schumann, até
1869, quando foi apresentado em
sua versão definitiva em Leipzig.
Em 1856, para homenagear seu
falecido protetor, Brahms reelaborou o segundo movimento do
"Concerto para Piano e Orquestra nš 1 em Ré Menor op. 15" e
transformou-o numa cantata com
palavras da Bíblia luterana "Denn
alles Fleish ist wie Gras" (Pois Toda a Carne É Como a Erva).
No entanto foi somente em 1865,
quando morreu sua mãe, que lhe
surgiu a idéia de compor uma cantata fúnebre nos moldes de Bach.
Assim, em 1867, foram apresentadas as três primeiras partes do que
viria a ser "Ein Deutsches Requiem", em Viena. O público (católico) a recebeu friamente.
A versão definitiva, tal como a
temos, estreou em Leipzig em 1869
e foi aclamada pelo público, tornando-se uma de suas obras mais
apreciadas.
"Ein Deutsches Requiem" não
constitui uma obra sacra propriamente dita, embora os textos da
Bíblia luterana escolhidos por
Brahms se assemelhem muito aos
que são usados no serviço fúnebre
da Igreja Anglicana.
Quanto à música, podemos dizer
que se trata de um impressionante
colóquio com a morte. Sua força
profunda, a dimensão do trágico e
a intensa concentração emocional
colocam-no à altura da "Missa em
Si Menor", de Bach, e da "Missa
Solemnis", de Beethoven.
Seguindo o conselho que Schumann lhe dera, Brahms procurou
realizar o romantismo, mas seguindo a rigorosa base teórica do
classicismo e do barroco. Brahms
tinha profundo conhecimento das
obras de Bach, pois, além de pianista, ele também foi regente da
Academia de Canto de Viena.
Brahms era, portanto, um mestre da técnica contrapontística e,
tal como Bach, cometeu ousadias
e fez modulações surpreendentes
que o próprio Wagner fez.
Como disse Schoenberg numa
conferência nos EUA, em 1933:
"Brahms, o clássico, o acadêmico, fora, de fato, um grande descobridor no reino da linguagem musical e uma grande progressista".
A versão que está sendo lançada
agora no mercado nacional é uma
remasterização da gravação feita
em 1961, em Londres, com o legendário Otto Klemperer e o então
jovem Dietrich Fischer-Dieskau.
Podemos dizer que é uma versão
correta, embora não consiga
transmitir a intensa concentração
intelectual e a seriedade dos movimentos mais obscuros da alma
que a obra suscita. A própria escolha da soprano Elisabeth
Schwartzkopf para o solo da quinta parte ("Ihr habt nun Traurigkeit") já revela uma inadequação
dos intérpretes com a concepção
da obra. Poderíamos dizer que a
versão que temos do "Requiem",
com James Levine diante da Chicago Symphony Orchestra, por
exemplo, é mais "brahmsiana".
Disco: Ein Deutsches Requiem
Compositor: Johannes Brahms
Lançamento: EMI Classics
Quanto: R$ 22, em média
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|