São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

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MÚSICA ERUDITA - CRÍTICA
"Requiem' ganha versão apenas correta

WILLIAM LI
especial para a Folha

"Ein Deutsches Requiem" (Um Réquiem Alemão) é uma reflexão sobre a morte e a experiência da perda e se dirige diretamente às nossas mais íntimas e profundas emoções. Ele foi sendo elaborado por Bhrams durante 13 anos, desde 1856, ano da morte de seu mentor e amigo Robert Schumann, até 1869, quando foi apresentado em sua versão definitiva em Leipzig.
Em 1856, para homenagear seu falecido protetor, Brahms reelaborou o segundo movimento do "Concerto para Piano e Orquestra nš 1 em Ré Menor op. 15" e transformou-o numa cantata com palavras da Bíblia luterana "Denn alles Fleish ist wie Gras" (Pois Toda a Carne É Como a Erva).
No entanto foi somente em 1865, quando morreu sua mãe, que lhe surgiu a idéia de compor uma cantata fúnebre nos moldes de Bach. Assim, em 1867, foram apresentadas as três primeiras partes do que viria a ser "Ein Deutsches Requiem", em Viena. O público (católico) a recebeu friamente.
A versão definitiva, tal como a temos, estreou em Leipzig em 1869 e foi aclamada pelo público, tornando-se uma de suas obras mais apreciadas.
"Ein Deutsches Requiem" não constitui uma obra sacra propriamente dita, embora os textos da Bíblia luterana escolhidos por Brahms se assemelhem muito aos que são usados no serviço fúnebre da Igreja Anglicana.
Quanto à música, podemos dizer que se trata de um impressionante colóquio com a morte. Sua força profunda, a dimensão do trágico e a intensa concentração emocional colocam-no à altura da "Missa em Si Menor", de Bach, e da "Missa Solemnis", de Beethoven.
Seguindo o conselho que Schumann lhe dera, Brahms procurou realizar o romantismo, mas seguindo a rigorosa base teórica do classicismo e do barroco. Brahms tinha profundo conhecimento das obras de Bach, pois, além de pianista, ele também foi regente da Academia de Canto de Viena.
Brahms era, portanto, um mestre da técnica contrapontística e, tal como Bach, cometeu ousadias e fez modulações surpreendentes que o próprio Wagner fez.
Como disse Schoenberg numa conferência nos EUA, em 1933: "Brahms, o clássico, o acadêmico, fora, de fato, um grande descobridor no reino da linguagem musical e uma grande progressista".
A versão que está sendo lançada agora no mercado nacional é uma remasterização da gravação feita em 1961, em Londres, com o legendário Otto Klemperer e o então jovem Dietrich Fischer-Dieskau.
Podemos dizer que é uma versão correta, embora não consiga transmitir a intensa concentração intelectual e a seriedade dos movimentos mais obscuros da alma que a obra suscita. A própria escolha da soprano Elisabeth Schwartzkopf para o solo da quinta parte ("Ihr habt nun Traurigkeit") já revela uma inadequação dos intérpretes com a concepção da obra. Poderíamos dizer que a versão que temos do "Requiem", com James Levine diante da Chicago Symphony Orchestra, por exemplo, é mais "brahmsiana".


Disco: Ein Deutsches Requiem Compositor: Johannes Brahms
Lançamento: EMI Classics
Quanto: R$ 22, em média



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