|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Peça escrita pelo ator descreve drama de operário demitido ao questionar patrão
Fagundes engajado estréia no palco com "Por Telefone"
DA REPORTAGEM LOCAL
Não faz muito tempo, Antônio
Fagundes exercia a militância política com entusiasmo. Estrelava
campanhas do Partido dos Trabalhadores (PT).
Essa inclinação mais à esquerda, quando o mundo político era
dividido em dois gumes, inspirou
"Por Telefone", texto que o ator
verteu para o papel em 1980 e que
ganha nova montagem a partir de
hoje em São Paulo.
Fagundes não estará em cena,
ele que segue em cartaz na cidade
com o drama "Últimas Luas", do
italiano Furio Bordon.
"Por Telefone" é um raro texto
que o ator escreveu para teatro.
Chegou a ser editado no início da
década, pela Global. Coincidiu
com sua atuação na série televisiva "Carga Pesada", na Globo, ao
lado de Stênio Garcia. Fagundes
também chegou a colaborar com
os roteiros do programa dirigido
por Hugo Carvana.
A montagem de "Por Telefone"
é da Cia. Expresso Arte, ligada à
Cooperativa Paulista de Teatro e
dirigida por Genes Holder.
Radicado em SP há 12 anos, o
pernambucano interpretou o texto de Fagundes em 1987, sob direção de Luiz Damasceno (ex-Cia.
Ópera Seca, de Gerald Thomas).
Holder decidiu remontar a peça
por causa da coerência com o trabalho do ano passado, "Fulano de
Tal, Fiscal Federal", de Chico de
Assis, que também coloca a cidadania em primeiro plano.
O texto de Fagundes relata o
drama do casal Cláudio (Ludh
Raposo) e Marina (Márcia Santiago). O marido recebe telefonema
do seu chefe às 4h15, informando-o de sua demissão.
Cláudio questionava os procedimentos da fábrica, como o despejo de ácido num rio e a insegurança imposta aos trabalhadores
no local de trabalho.
Aquela ligação, em plena madrugada, detona um pesadelo que
leva o casal a uma reflexão exaustiva sobre a realidade social e, a reboque, sobre a própria relação.
Para Holder, o personagem
Cláudio sente-se impotente e
"trinca sua couraça por causa da
censura do patrão". "O texto é de
uma realidade tão cruel que, infelizmente, continua atual."
Na encenação, o diretor optou
pelo tratamento surrealista, apesar da ênfase realista do texto.
"Do ponto de vista ético, uma
fábrica não deveria poluir e tampouco desprezar os funcionários.
Mas o Tietê está aí, e as demissões
em massa também. Tudo isso é
muito surreal", afirma.
A platéia, formada por até 70
pessoas, vai acompanhar o espetáculo em cima do palco.
(VS)
Peça: Por Telefone
Texto: Antônio Fagundes
Direção: Genes Holder
Com: Ludh Raposo e Márcia Santiago
Quando: estréia hoje, às 21h; qui., às 21h. Até agosto
Onde: teatro Nelson Rodrigues (r. 13 de Maio, 830, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/288-3887)
Quanto: R$ 10
Texto Anterior: Crítica: Monk sua a camisa e agrada Próximo Texto: Bastidor entra em cartaz no Sesc Índice
|