São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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TEATRO
Peça escrita pelo ator descreve drama de operário demitido ao questionar patrão
Fagundes engajado estréia no palco com "Por Telefone"

DA REPORTAGEM LOCAL

Não faz muito tempo, Antônio Fagundes exercia a militância política com entusiasmo. Estrelava campanhas do Partido dos Trabalhadores (PT).
Essa inclinação mais à esquerda, quando o mundo político era dividido em dois gumes, inspirou "Por Telefone", texto que o ator verteu para o papel em 1980 e que ganha nova montagem a partir de hoje em São Paulo.
Fagundes não estará em cena, ele que segue em cartaz na cidade com o drama "Últimas Luas", do italiano Furio Bordon.
"Por Telefone" é um raro texto que o ator escreveu para teatro. Chegou a ser editado no início da década, pela Global. Coincidiu com sua atuação na série televisiva "Carga Pesada", na Globo, ao lado de Stênio Garcia. Fagundes também chegou a colaborar com os roteiros do programa dirigido por Hugo Carvana.
A montagem de "Por Telefone" é da Cia. Expresso Arte, ligada à Cooperativa Paulista de Teatro e dirigida por Genes Holder.
Radicado em SP há 12 anos, o pernambucano interpretou o texto de Fagundes em 1987, sob direção de Luiz Damasceno (ex-Cia. Ópera Seca, de Gerald Thomas).
Holder decidiu remontar a peça por causa da coerência com o trabalho do ano passado, "Fulano de Tal, Fiscal Federal", de Chico de Assis, que também coloca a cidadania em primeiro plano.
O texto de Fagundes relata o drama do casal Cláudio (Ludh Raposo) e Marina (Márcia Santiago). O marido recebe telefonema do seu chefe às 4h15, informando-o de sua demissão.
Cláudio questionava os procedimentos da fábrica, como o despejo de ácido num rio e a insegurança imposta aos trabalhadores no local de trabalho.
Aquela ligação, em plena madrugada, detona um pesadelo que leva o casal a uma reflexão exaustiva sobre a realidade social e, a reboque, sobre a própria relação.
Para Holder, o personagem Cláudio sente-se impotente e "trinca sua couraça por causa da censura do patrão". "O texto é de uma realidade tão cruel que, infelizmente, continua atual."
Na encenação, o diretor optou pelo tratamento surrealista, apesar da ênfase realista do texto.
"Do ponto de vista ético, uma fábrica não deveria poluir e tampouco desprezar os funcionários. Mas o Tietê está aí, e as demissões em massa também. Tudo isso é muito surreal", afirma.
A platéia, formada por até 70 pessoas, vai acompanhar o espetáculo em cima do palco. (VS)


Peça: Por Telefone
Texto: Antônio Fagundes
Direção: Genes Holder
Com: Ludh Raposo e Márcia Santiago
Quando: estréia hoje, às 21h; qui., às 21h. Até agosto
Onde: teatro Nelson Rodrigues (r. 13 de Maio, 830, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/288-3887)
Quanto: R$ 10


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