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Tradutor e professora apontam falta de humor como falha das versões existentes no mercado nacional
Ritmo moderniza clássico de Cervantes
DA REPORTAGEM LOCAL
Com seus quase 400 anos, a serem completados em 2005, "Dom
Quixote" é "perfeitamente atual".
Essa idéia foi a bússola a que se
agarrou Sérgio Molina durante o
processo de transposição da obra
de Cervantes para o português.
Tradutor de alguns dos maiores
nomes da literatura hispano-americana contemporânea, como
Jorge Luis Borges, Ernesto Sábato
e Mario Vargas Llosa, Molina iniciou a empreitada quixotesca em
2000 disposto a "atualizar" a linguagem de Cervantes. Poucos testes mais tarde, ele chegou à conclusão de que seu Quixote "modernizado" ficava "sem gosto".
"Percebi que era possível apresentar o texto no seu ritmo mais
fresco, sem ter de construir uma
peça de museu", diz Molina.
Ritmo é a palavra-chave para
esse argentino que aprendeu a língua portuguesa ouvindo canções
de MPB, antes de se mudar para o
Brasil, com nove anos.
"As traduções existentes no
mercado brasileiro não preservam o ritmo e o humor originais
de Cervantes, justamente elementos que fazem com que esse texto
antigo chegue tão fresco até hoje",
observa a "cervantista" Maria Augusta da Costa Vieira.
Um dos motivos da falta de
"frescor" das versões existentes
apontado tanto pela professora
quanto por Molina é a predominância de lusitanismos. "É importante driblar a passagem do texto
por Portugal. O espanhol do século 17 tem muitos pontos de contato com o português que se desenvolveu no Brasil. Tem coincidências que ficaram aqui e não em
Portugal", afirma o tradutor.
Segundo Molina, a grande dificuldade da tradução está nos versos que Cervantes espalha ao longo da narrativa. Alguns deles são
exatamente o que falta para que a
tradução do livro 1 seja concluída.
É que "Dom Quixote" é dividido em dois tomos. "El Ingenioso
Hidalgo Don Quijote de la Mancha" saiu em 1605. Em 1614, quando escrevia a continuação do livro, já bastante popular, Cervantes foi surpreendido pela edição
de uma sequência pirata, assinada
por Alonso de Avellaneda.
O autor acelerou os trabalhos e
publicou o segundo volume em
1615, um ano antes de morrer.
"Como ele levou dez anos para fazer o segundo, terei uma década
para concluir a tradução", brinca
Molina.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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