São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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"PEDAÇO DE MIM"

Coletânea reúne textos do escritor paulista, alguns deles censurados, sobre política, arte e cultura

Ensaios e artigos mostram faces de João Silvério Trevisan

Raphael Falavigna/Folha Imagem
O escritor paulista João Silvério Trevisan, cujo livro de ensaios e artigos chega às livrarias em julho


ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

É a imagem de intelectual multifacetado que o escritor João Silvério Trevisan, 57, quer projetar com o lançamento, no começo de julho, de "Pedaço de Mim", coletânea de ensaios e artigos sobre política, cultura e arte.
"Queria mostrar uma faceta que é a de um cara que pensa sobre os mais diversos assuntos, e não só sobre a homossexualidade", diz.
Os 31 artigos e ensaios do livro, nove inéditos, resumem 20 anos de atividade intelectual. Alguns censurados por editoras, jornais e revistas que os pediram.
Na entrevista a seguir, Trevisan fala por que se insere como personagem nas críticas que produz e mostra qual "pedaço de si" quer dar ao leitor com o novo trabalho.

Folha - Qual foi o critério para a escolha dos artigos e ensaios?
João Silvério Trevisan -
Queria um livro que mostrasse muitas faces de minha personalidade. A crítica ressalta minha homossexualidade e a repercussão que ela tem na minha obra. Queria mostrar a faceta de um cara que pensa sobre diversos assuntos, então coletei textos sobre cultura, arte e política. A homossexualidade é tema que me move e perpassa parte dos ensaios; mas não todos.

Folha - Por que chamar uma reunião de tantos aspectos diferentes de "Pedaço"?
Trevisan -
Tudo é parte de um movimento único: quando falo "Pedaço de Mim", é como se esta obra intelectual fosse um pedaço do meu corpo, e isso está sendo entregue. O que eu posso fazer como escritor, além de me oferecer com aquilo que eu tenho de mais pessoal, que é o meu "eu"? Este livro é parte de mim como meu corpo. Fiz uma metáfora: ofereço um pedaço dele ao leitor.

Folha - Você não acha que inserir esse "eu" no texto ensaístico -mais analítico do que ficcional- pode destoar da sua forma?
Trevisan -
Esse é meu projeto: destoar. A idéia é que o leitor me veja como uma pessoa totalmente relativizada. Deixo claro, obsessivamente, que minha análise não passa de um ponto de vista meu. Muito frequentemente eu crio personagens que estão intermediando a minha relação com o leitor, como no artigo "Vestida para (G)o(u)sar", no qual eu analiso o filme "Profissão Travesti", de Olívio Tavares de Araújo, através de um personagem, que é um crítico travestido de Rita Hayworth. Foi isso o que irritou profundamente o pessoal da revista "Filme-Cultura", que proibiu a publicação do artigo, em 1982, dizendo que eu fazia proselitismo homossexual. Minha intenção explícita é dizer que essa é minha experiência pessoal, você pode discordar totalmente dela, mas é por meio dela que eu apresento uma visão do que penso.

Folha - Todos os textos censurados tratavam da homossexualidade? Foi esse o motivo da censura?
Trevisan -
Em alguns casos sim, como no ensaio "Fichte e o Banquete dos Deuses", em que falo do exílio do escritor alemão Hubert Fichte, que foi uma espécie de exílio moral ligado à sua homossexualidade. Mas, entre outros, o artigo "Guatarri e o Fator Fracasso em Política" não tem nada de homossexualidade; mas não interessava falar, nos anos 80, do PT, que nascia, como um partido que teria de tratar politicamente da questão do fracasso. Não gosto de me fazer de vítima, mas fui muito injustiçado nestes 20 anos.

PEDAÇO DE MIM. Autor: João Silvério Trevisan. Editora: Record. Quanto: R$ 36 (352 págs.).


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