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"PEDAÇO DE MIM"
Coletânea reúne textos do escritor paulista, alguns deles censurados, sobre política, arte e cultura
Ensaios e artigos mostram faces de João Silvério Trevisan
Raphael Falavigna/Folha Imagem
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O escritor paulista João Silvério Trevisan, cujo livro de ensaios e artigos chega às livrarias em julho |
ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
É a imagem de intelectual multifacetado que o escritor João Silvério Trevisan, 57, quer projetar
com o lançamento, no começo de
julho, de "Pedaço de Mim", coletânea de ensaios e artigos sobre
política, cultura e arte.
"Queria mostrar uma faceta que
é a de um cara que pensa sobre os
mais diversos assuntos, e não só
sobre a homossexualidade", diz.
Os 31 artigos e ensaios do livro,
nove inéditos, resumem 20 anos
de atividade intelectual. Alguns
censurados por editoras, jornais e
revistas que os pediram.
Na entrevista a seguir, Trevisan
fala por que se insere como personagem nas críticas que produz e
mostra qual "pedaço de si" quer
dar ao leitor com o novo trabalho.
Folha - Qual foi o critério para a
escolha dos artigos e ensaios?
João Silvério Trevisan - Queria
um livro que mostrasse muitas faces de minha personalidade. A
crítica ressalta minha homossexualidade e a repercussão que ela
tem na minha obra. Queria mostrar a faceta de um cara que pensa
sobre diversos assuntos, então coletei textos sobre cultura, arte e
política. A homossexualidade é
tema que me move e perpassa
parte dos ensaios; mas não todos.
Folha - Por que chamar uma reunião de tantos aspectos diferentes
de "Pedaço"?
Trevisan - Tudo é parte de um
movimento único: quando falo
"Pedaço de Mim", é como se esta
obra intelectual fosse um pedaço
do meu corpo, e isso está sendo
entregue. O que eu posso fazer como escritor, além de me oferecer
com aquilo que eu tenho de mais
pessoal, que é o meu "eu"? Este livro é parte de mim como meu
corpo. Fiz uma metáfora: ofereço
um pedaço dele ao leitor.
Folha - Você não acha que inserir
esse "eu" no texto ensaístico
-mais analítico do que ficcional-
pode destoar da sua forma?
Trevisan - Esse é meu projeto:
destoar. A idéia é que o leitor me
veja como uma pessoa totalmente
relativizada. Deixo claro, obsessivamente, que minha análise não
passa de um ponto de vista meu.
Muito frequentemente eu crio
personagens que estão intermediando a minha relação com o leitor, como no artigo "Vestida para
(G)o(u)sar", no qual eu analiso o
filme "Profissão Travesti", de Olívio Tavares de Araújo, através de
um personagem, que é um crítico
travestido de Rita Hayworth. Foi
isso o que irritou profundamente
o pessoal da revista "Filme-Cultura", que proibiu a publicação do
artigo, em 1982, dizendo que eu
fazia proselitismo homossexual.
Minha intenção explícita é dizer
que essa é minha experiência pessoal, você pode discordar totalmente dela, mas é por meio dela
que eu apresento uma visão do
que penso.
Folha - Todos os textos censurados tratavam da homossexualidade? Foi esse o motivo da censura?
Trevisan - Em alguns casos sim,
como no ensaio "Fichte e o Banquete dos Deuses", em que falo do
exílio do escritor alemão Hubert
Fichte, que foi uma espécie de exílio moral ligado à sua homossexualidade. Mas, entre outros, o artigo "Guatarri e o Fator Fracasso
em Política" não tem nada de homossexualidade; mas não interessava falar, nos anos 80, do PT, que
nascia, como um partido que teria
de tratar politicamente da questão do fracasso. Não gosto de me
fazer de vítima, mas fui muito injustiçado nestes 20 anos.
PEDAÇO DE MIM. Autor: João Silvério
Trevisan. Editora: Record. Quanto: R$ 36
(352 págs.).
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